José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

15.12.17

cheguei hoje a São Jorge dos Órgãos para ver as árvores


  

Cheguei hoje, atenciosamente recebido pelo chilrear dos pássaros que acordavam o dia, a São Jorge dos Órgãos para ver árvores. Também.
A viagem em “Hiace” demorou e não demorou como é natural por estas bandas, com vizinhos sonolentos como eu e o meu grande malão (é o boby tem 4 rodas, trela & tudo) cheio de pedras preciosas, joias de ouro muitas e de pratas algumas, falo metaforicamente, também seixos plebeus colhidos em costas marítimas pelo mundo a fora a mala pesadíssima lá atrás, encostada a um porku branco que às vezes rosnava para o silêncio dele próprio.
A certa altura, o condutor parou numa povoação cheia de buganvílias, São Domingos, fez um gesto geral com os dez dedos no fim dos braços levantados e cada um foi à sua vida por uns momentos. Numa pequena tenda montada em plena rua por ali à sombra de uma buganvília com flores cores de curcuma, que me seduziram vê-se bem porquê, decidi-me por um pastel de milho ainda morno e um ponche de coco que a patroa garantiu ser safra dela e seu marido lá para,,,,e apontou 1 dedo para um local algures , que logo imaginei ser agradável ir até lá um dia destes. Este encontro realmente caiu-me muito bem, entrelaçado com as várias fragâncias no ar e um grupo de “batukadeiras” ali perto, a explodirem sons a condizer.
Regressados ao veículo, voltámos a amontoar-nos como podíamos todos com a natural morabeza que eu aprendia devagarosamente e ainda estou a ouvir as “tabankas” do  rádio, que parecia já ter uma incerta idade, ou seriam cassetes? acompanhadas pelo leve resvalar do veículo pela estrada acima que nem uma seta q.b. por dentro do nevoeiro que às vezes se esquecia de o ser, e então apareciam montanhas verdes muito altas algumas, quem o haveria de dizer, e casas perdidas sozinhas por lá, onde só as portas e as janelas tinham cores, e que cores! e as paredes levantadas prolongavam os tons da terra.


Nota: O título faz alusão ao único jardim botânico do país, sonho realizado em 1983, pelo franco-português Luís Augusto Grandvaux Barbosa, onde podemos apreciar inúmeras plantas endémicas e árvores, como jacarandás, cabaceiras,dragoeiras, acácias, etecetera.
José Alberto Mar
  ( Cabo Verde. Ilha de Santiago )

11.12.17

Zodiacal Light ~ Luz Zodiacal

J. A. M. (73X88 cm. 2016 )

~ castanhas, amarelas, verdes, vermelhas ~



As folhas despedem-se das suas árvores
castanhas, amarelas, verdes, vermelhas
às vezes
um adeus de sombras a voarem.
(vadias pela aragem enquanto a terra não lhes dá colo)


Naturalmene despidas, as árvores abraçam o frio.

(?-J. A. M.)

24.9.17

~ alguém passeia-se porque lhe deu para tal ~


alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho que o sOl, atento a tudo onde há vida, lhe oferece no mesmo instante e depois
há quem veja logo ali um presente, há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por ali no seu natural ocaso indiferente a tudo isto.

Os hábitos escravizam, tornam-nos cegos.

Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.
Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.

E por aqui os diamantes não têm quaisquer preços, são iluminadas fontes metafóricas, criadas pela infindável sede que também habita nos profundos lençóis da Terra:


- quanto demora uma árvore a ser luz?



(Ourique. Alentejo. Portugal)

Mundos Paralelos ~ ~ Parallel Worlds

Obra: J. A. M. - 2017

22.9.17

Msg a Garcia



A  Cerca  dos  Etnocentrismos

" Uma pessoa precisa viajar. Por sua conta, não por meio de livros, revistas, internet, imagens, ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, o corpo todo e a alma inteira, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Uma pessoa precisa viajar para lugares que desconhece para quebrar a arrogânia que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir lá ver e viver ".

~ in, Mar sem Fim . Amyr Klink ( tradução livre) ~

17.9.17

“ MONTE CARA "



O céu cheio de manchas acinzentadas umas mais outras menos escuras sobre um fundo que se pressente azul. O “Monte Cara” sempre pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão presente no caroço da alma de cada mindelense. Os aromas nostálgicos do Ser de uma ilha com as raízes mergulhadas nas águas demoradas do eternamente mágico oceano, onde já fomos grandes & voltearemos a sêlo.
Os sons de uma morna abrindo a noite como quem pede licença para entrar mas já se instalou suave e inteira, abrindo os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-azul-abertamente com as duas coxas de ébano polido demoradamente nuas e brilhantes até um determinado ponto inexato, os dois amigos calados & unidos a uma garrafa de grogue, a criança de colo ainda, sapatos de serapilheira cor-de-rosa e quatro totós verde-alface no cabelo encarapinhado, a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota a cair-lhe doucement pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do Vadú, unindo-nos a todos num só lugar uníssono e depois lá fora vislumbro através do feixe de luz da porta com uma nesga aberta, os ruídos dos ilhéus que vão e vêm dos seus destinos circulares e ali na estrada, agora mesmo, alguém vai sentado ao contrário numa bicicleta que desliza sorrateiramente pelas azáguas afora ~ ~ ~ ~ ~
mas que arte será aquela?



(Mindelo. Ilha de S. Vicente.Cabo Verde)  

6.9.17

Mosteiro de Alcobaça

Fotos: J. A. M.















coisas & loisas atlântidas:

 A25-BIS-DR2 & A26-B38-DR13; Viriato; Templários; Bernardo de Claraval; São Mamede; Ourique; rei D. Afonso Henriques; Fundação do Reino de Portugal; Diáspora; a vós que haveis de ser quinto 

19.8.17

Bom Fim de Semana ~ Good weekend

Autor: José Alberto Mar.
série: pequenas sabedorias/ series: small wisdoms ( Nº60) ~ 2017 

17.8.17

Msg a Garcia

Foto: José Alberto Mar ( São Luís do Maranhão. Br.)


















"(…) Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá: para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer (...)"



(Enxerto do Sermão de Santo António aos Peixes, pregado pelo Padre  António  Vieira  na cidade de São Luís do Maranhão. Brasil ~ 1654)

19.5.17

O meu problema pessoal com as galinhas



Estava prá-ki enlevado sei lá com quê se é que havia tal coisa, quando me ocorreu - repentinamente – que afinal tenho uma incerta desavença com as galinhas. Assim à 1ª, a coisa não me parece ser grave, mas eu ká nunca tenho a certeza de nada. E já comecei a cacarejar justificações até são uns bichos interessantes, quando estão a comer debicam algo no chão tão rápido que nem enxergo o quê e depois atiram as cabecinhas para o céu e estão nestas figuras amiudadas vezes. Nos inícios de tais observações eu olhava - imediatamente ! - lá pra cima tentando vislumbrar qual era o alvo de tal curiosidade inopinada, digamos assim, pois  eu quando como, habitualmente olho para o que está à frente do meu nariz e deixo os céus para as ocasiões místicas. Prosseguindo os acima já citados cacarejos, também gosto das suas penas algumas mais, pois vê-se ali a mão da mãe-natureza o deslumbre da luz a desfazer-se em cores.
Tive uma amiga artesã, que alimentava uma galinha com o intuito assumido de lhe arrancar apenas uma pena de vez em quando, para os seus colares & akelas coisinhas que lhe davam o pão para a boca. É verdade! Também havia por lá 1 macaco pendurado nas traves da casa, que eram ramos grossos de uma acácia que lhe entrava por ali a dentro para lhe oxigenar gratuitamente o ambiente. Uma vez estava eu e ela esparramados no seu jardim sem cercas que se prolongava por uma floresta a sério cheia de cabeleiras verdes, borboletas estonteadas e pássaros leves a esvoaçarem com as suas cores tudo junto era bom respirar ali e então estávamos nós a fazer o nada e aparece o seu filho, prá-i 9  anos se tanto e deu-me uma lata de coca-cola transformada em cinzeiro para as cinzas do meu fogo no cigarro que ardia alheado disto tudo. O meu preconceito em relação à coca-cola é assumidamente enorme, mas a Brigite sentiu logo a koisa e explicou-me que era a maneira do menino me dizer que gostava de mim e como não tinha + nada , costumava apanhar latas no lixo dos Sr.s lá em baixo na cidade e depois transformava-as no que lhe vinha à cabeça e ao coração e sinceramente aquilo era uma piquena obra de arte. Olhei para a criança como quem olha para um Deus e os seus olhos eram luminosos & felizes e eu,,,eu também fiquei feliz e com a voz embarcada num nó cego até ás lágrimas que contive. A mãe sentiu tudo como só as mulheres sabem  e ofereceu-me um chá que dividimos pelos 3.

Afinal, a bem dizer, eu até gosto das galinhas, a maneira como se deslocam com as duas patas indecisas parecem à toa mas isso não passa de uma perceção pois suspeito que só vejo aquilo que sou, digamos assim, e aí há que ter uma certa parcimónia nas coisas dos julgamentos, juízos de valor, essas lérias. Mas.
(...) Ainda não vos disse o que me trouxe até este recinto de desabafos para finalmente vos dizer que são precisamente 5 h. & tal da noite e ainda estou prá-ki com as minhas irmãs galinhas que são muitas no meu quintal, sem medos  dado que eu não as papo já faz um tempo que estava sentado à sombra de 1 pinheiro que também habita comigo ali no canto onde lhe deu para estar e dá-me pinhas ás vezes uma vez por ano também me oferece pinhões que eu amontoo numa tigela azul & branca da dinastia Ming foi uma namorada chinesa mesmo da China que ma deu o pai era podre de rico, segundo ela, mas fiquei sempre na dúvida se a peça era realmente verdadeira ou não, mas como não ligo a tais valores , o que me agradou foi a beleza da peça. À superfície na epiderme colorida, o branco e o azul entrelaçados como fios de cabelos ondulados parecem dançar uma música que só ouço às vezes quando o silêncio à-volta se fecha e  estou muito dentro. Quando acumulo forças suficientes pego nos tais pinhões ás mãos cheias e quebro-lhes as couraças, um a um atentamente, com uma pedra de estimação que tenho sempre à mão de semear para ocasiões mais determinantes.

Depois desta ocasional divaganção retorno à cabeça da pescadinha de rabo na boca que agora com o tempo já é uma serpente a morder a cauda que dá veneno que também pode ser remédio tantas vezes se dá este caso esotérico, digamos assim, o que nesta realidade pretendia dizer é que elas, as minhas amigas galinhas, têm uma relação íntima visceral com o Sol, que eu naturalmente também mantenho com todo o apreço deste mundo & dos outros, mas também gosto das estrelas e da lua e dos silêncios azuladamente brilhantes quando o são outras vezes nem por isso acontecem estas circunstâncias de 1 gajo estar ~ graças a Deus ~ a viver mesmo vivo no meio destas montanhas onde o meu patrão sou eu não.


( rascunho) J. A. M.   07-04-2017

12.5.17

Cinturão de Asteróides ~ Asteroid Belt.

CENTRO CULTURAL E CONGRESSOS DAS CALDAS DA RAINHA (CCC)
LINK:
http://www.ccc.com.pt/exposicoes/a-decorrer/1133-exposicao-labirinto-de-luzes-de-jose-alberto-mar?showall=&limitstart=

11.5.17

~ O Espanto Deitado ~



Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis cada vez mais e eu lá ao fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo, por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
E ela estava deitada, absorta no seu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-a a crescer nos ritmos da respiração e de um lado e do outro ambos éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que ambos tínhamos de possuir, precisamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no entanto não era. Eu estava ali, ela também, éramos dois corpos com as portas abertas ao Mundo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos jaziam. Havia entre nós, um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais apuradas já não dizem palavras.
E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos, à espera de o sermos.



J.A.M. (2007;2010;2017)

Swinging the Universe ~ Heart Drum

ARTEINFORMADO (Spain )  ~ http://www.arteinformado.com/agenda/f/labirinto-de-luzes-laberinto-de-luzes-labyrinth-of-lights-dedicada-ao-genio-de-rafael-bordalo-pinheiro-138099: 

9.5.17

~ DIVACANÇÃO ~



a varanda é branca com o Sol estampado ainda por cima e depois há o azul-cobalto das águas do mar e ainda depois há frondosas árvores emaranhadas nos seus verdes a erguerem uma montanha até a um imenso céu, onde me esqueço 

&
só muito tempo depois
(felizmente) 
acabo por cair
em mim.
Aqui ao lado, as folhas das palmeiras continuam penteando a aragem que corre atrás de si e por vezes, alarga-se até à mesa e leva-me as folhas e as palavras, o que me importa?
Na rua as pessoas passeiam-se devagar no meio do tempo, saboreiam os encontros, pousam aqui & acolá, trocam poucas frases poucos gestos coisas simples como um sorriso na caminhada, já é Tanto!
1 pescador idoso de boné vermelho e corpo calado está esquecido ou estará a lembrar-se, a olharolhar o mar como se lesse um texto.
Há em tudo uma paz que parece impossível aproximando-se ao absorto sopro de um deus abandonado por aqui.


J. A. M.

Gaigu. Br.
(Brasil. Estado de Pernambuco - 2004.Alterado a Abril.2017. Alterado 14-4-17 )

28.4.17

Série: Diásporas ~ ESTOU DE TANGA ~

(Obra: J.A.M. série: pequenas sabedorias-series: small wisdoms)


hoje levantei-me bem comigo & a vida, comi manga e papaia e cana de açúcar do meu quintal tudo oferecido com a claridade do sol já bem esclarecido nas coisas do mundo.
Também bebi água logo nas aberturas do dia e é água leve e fresca que vem dos lados do convento de São Francisco do séc. XVII, eles lá sabiam as melhores fontes das coisas essenciais à vida.

Nesta varanda ampla virada para a Sidády Vêlha lá em baixo o mar ao fundo de onde se colhem imagens & imagens sem fim e um barulho de ondas fortemente contra as rochas negras da praia, onde todos os dias ao final das tardes banho o meu corpo aberto ás águas azuis até ver o círculo solar cheio de cores a despedir-se para outros lugares.
(…)
Acabei agora de regar as minhas plantas, saudar as flores que me ajudam tacitamente a ser feliz, tocar ao de leve as folhas da palmeira aqui ao lado, são pequenos gestos só aparentemente distraídos entre seres que são iguais.
A minha amiga borboleta, que me visitou logo no 1º dia, volta todos os santos dias, enquanto estou acordar-me nestas pequenas tarefas prazenteiras. Um dia destes, veio poisar na minha mão, mas só ao fim do coração da manga bem chupada, é que sorveu com tal suavidade a última gota que me deixou derrotado por uns longos instantes.
( para quem ainda não viveu estas circunstâncias, creio achar por bem informá-los que as mangas são frutos caprichosos, afinal como todos os outros, mas as mangas não se comem propriamente dito, após as primeiras dentadas chupam-se longamente até o caroço qual osso reluzir à luz que há ).
Ah! eu e a minha amiga borboleta, duas pétalas brancas, uma de cada lado onde pontuam vários círculos negros salpicados parecem à toa mas cá para mim nada é á toa nesta vida, falámos abertamente dentro dos nossos silêncios amadurecidos, depois foi vadiar pela mata a fora partilhar alegria e liberdade com outros seres que estão vivos na viagem, remando agora as suas muitas asas frágeis ao sabor das curvas da aragem e, pronto.
Votei ajustar a tanga à cintura (um dia destes tenho que arranjar uma tanga a sério de "pano de terra", logo se vê),,, incendiei doucement 1 cigarro, pernas desleixadamente sobre a varanda azul e costas contra o mundo, ke se foda o insano mundo Ocidental, ámen


(Cabo Verde. Ilha de Santiago. Sidády Vêlha – 2008. Alterado 2017 )

26.4.17

~ Tríptico às Imagens Nuas ~

~ Tríptico às Imagens Nuas ~
Obra.  J. A. M. Série: pequenas sabedorias ~ small wisdoms .


1
Por vezes, alguém põe 1 dedo na ferida.
Quero dizer - alguém acorda a sombra geral dos seus nomes
e os nomes mergulham nos ritmos do sangue
e logo as mãos crescem para os lugares
e os lugares crescem com elas
e depois, fica tudo mais alto.
Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida.
Outros há que passam e se detêm
por um pormenor mais chamativo.

2
Claro que todos os lados, todos os nomes
são pretextos. E os lugares também.
Nascemos e morremos por uma graça indomável
perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo
enquanto por dentro acordam & adormecem
as sementes povoadas pelos estranhos frutos
de uma sede sem fim.

3
Vozes e vozes que cantam a vida e
o exemplo de milhares de sóis
mesmo sabendo-se que para outros olhares
há um abismo memorial nas cabeças
uma outra idade outra boca menos cercada
pelos dons dos dias na transformação dos corpos.

( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998)




LABIRINTO DE LUZES ~ LABYRINTH OF LIGHTS

Título: APROXIMAÇÃO AO SOL


20.4.17

QUANDO NO CORAÇÃO HÁ CHAMAS

Foto: J. A . M.

Se sentes esse vento no rosto quando no coração há chamas,
deixa-te levar, deixa pairar esse espírito em visita.

 ~ no hálito rasgado da noite profunda, evolam-se as memórias
de muitas vidas
e só pelo ritmo a respiração prende-me  aqui:
entregue a este mundo como uma águia de espuma
e os braços abertamente nus ao sol, à lua, por estes lados
voo em direção ao sul



(José Alberto Mar)

18.4.17

Flor de Maracujá

Foto: J. A. M.

  "A arte e o amor são a mesma coisa: é o processo de ver
a si mesmo em coisas que não são você."
(Chuck Klosterman )

~~~~

A Flor de Maracujá significa a Paixão de Cristo, por isso, é também conhecida como a  “Flor da Paixão”. Em outras línguas, o maracujá é conhecido como o “fruto da paixão”: passion fruit (em Inglês), fruit de la passion (em Francês), fruta de la pasión (em Espanhol) “

16.4.17

Msg a Garcia.



medite no ser luminoso que resplandece nos recessos do seu coração. Ao identificar-se com ele, não estará mais confinado ao corpo ou à mente. Vai transcender todas as limitações. Por trás de cada uma e de todas as ondas há um oceano. Se você olhar além da forma da onda, que parece separá-la do todo das águas, irá reconhecer a sua unidade com o oceano.

( Swami Satprakashananda )

 

15.4.17

série: pétalas Caídas.



Há coisas que acontecem.
Há coisas que não acontecem.

Entre elas, a luz derradeira a mais simples
Luz
as esplêndidas  aranhas solares expandindo as teias
à nossa volta ainda os véus impostos da escuridão
erguidos por  afortunados ventos dos desertos
das almas que viajam pelas fontes
onde me perdi para Te encontrar
e agora sou o diabo,  o  anjo negro transformado
em mais um deus, graças a deus, sem quaisquer  poderes
nos teus frondosos braços há oásis
onde pouso as asas quando as noites são translúcidas
e então, eu lhes abro minha atenção
e depois sei como regressar aos voos
o tempo é uma pérola abismada no meu bico
& todas as aves dos céus sem fim
subitamente iluminam as minhas asas 
com a felicidade das coisas assim.

 
( 9-04-17. 27 h 29 m.)

luz derramada sem asas



Oh, como a Luz de deus é brava
fustiga com chicotes os cometas as sombras
esvoaçando á toa
perdidas caídas
nos espelhos velozes
destes dias assim.

eu sei eu não sei eu sinto eu vejo
como a Terra voa em tantas asas
como há de raízes & árvores e pássaros
a cantarem as madrugadas
e no meio, no centro inexistente de tudo
há um olho fechado  ~ eu vejO-te
para que o sonho que já está aqui
seja lento a poisar sobre os prados
e as pessoas quando se olharem ao olharem
se tornem cegas e mais inteiras numa outra
luz.

de repente, tudo voltará a ser. Como sempre
talvez, para muitos.


 ( 29-03-2017. 3 h 47 m.)

A GrAnde Dança

Autor: J. A. M. - 2017

Msg a Garcia.



“ A vida é uma dança cósmica sobre a cabeça da agulha da eternidade.”
~
“Even the strongest blizzards start with a single snowflake.”

( Sara Raasch )

5.4.17

o centrO

trabalho de J.A.M.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


série ~ pétalas Caídas



Depois de tanto tempo
fustigado pelas luzes
akabas por atinar.

A tina é um vaso onde
os aromas das flores
as cores luminosas
os sóis para as abelhas
levarem o mel
à rainha.

A bem dizer, o ouro.


- 1/2-4-17 -

monte cara

J. A. M. ~ Mindelo. Cabo Verde  ~

3.4.17

Freedom ~ Valdi Sabev ~


série: Diásporas.


~ Mercado de Sucupira ~

7 horas e tal, as mãos cheias de moscas,  várias sacudidelas às vezes,,, i
uma delas está a poisar AGORA!...Zás !...apanhei-te….
e depois olho e não vejo nada
e então, no interior de uma antiga camioneta transformada em restaurante, depois de ter aviado uma cachupa num prato de lata redOndo mesmo, estou numa mesa à porta da dita a colher imagens da gente que vende coisas, que compra algumas dessas coisas e da gente que passa de um lado para o outro abrindo naturalmente o ar que as ampara.
No geral “ a coisa está preta”. Depois, levanta-se nas cores das roupas. Dá-me a impressão, ainda sujeita a posterior confirmação, que o vermelho é o eleito. Impõe-se só por si, a seguir há os amarelos e os verdes em N tons. O verde-alface é bem considerado por aqui. O branco, obviamente.
Uma jovem mulher expõe com 1 só braço suspenso exactamente uma garrafa grande de água gelada e espera alguém que a leve. Tem uma bunda maravilhosa e sei lá por que é que olhei para este caso.
Alguém transporta carne de um animal já muito morto numa bacia de plástico cor-de-rosa em cima da cabeça, mas o que eu vejo com estes 2 olhos que a terra há-de comer, é uma chusma de moscas tresloucadas com o manjar. Irão pesar as moscas também aquando do negócio ou serão o brinde, com certeza.
Lá ao longe o céu está assim-assim-escurecido, sei lá o que vai ser por aki nunca se sabe & já transpiro bastante ponho-me nu, da cintura até á cabeça exponho o peito a alma tudo.
Passa mesmo á frente do meu nariz, uma menina toda sirigaita retocando os cabelos com uma mão distraída e a treinar o gingar das ancas que ainda se estão abrir às sementes que um dia virão, e lá vai ela muito compenetrada no seu papel de ser gente também, à espera de ser amada quando acontecer e será para breve, suspeito.
Ali vai um gajo todo inclinado para o rádio na mão esquerda junto ao ouvido do mesmo lado e é música que não tenho tempo de saber, mas com aquele ar tão feliz é boa de certeza.
Ainda
as eternas mangas as bananas ao lado juntas ao quilo, tudo ordenado segundo 1 critério colorido e  a evidente & dura realidade da sobrevivência. São as mulheres, sempre rodeadas de bandos de filhos que erguem toda esta trabalheira. Cumprem-na devotadas e depois ao fim do dia, no silêncio pesado da noite instalada, desenlaçam-se, encostam ao de leve a cabeça a uma esperança que nunca vislumbrei e ficam assim desimportadas até que o sono as recolha.
O papel dos homens por estes lados, parece-me que é atirarem-se a elas esporradicamente e depois basam logo na primeira curva dencontro às luzinhas do grogue, ou desenrascam mais um poiso temporário algures numa outra ilha, por onde vão cumprindo os seus ancestrais ofícios de marinheiros vagabundos.
E são as mulheres as raízes destas 10 ou dez mil ilhas.
O resto é mar, mar e mais mar
e depois ainda
o    m ~ a ~ r
 
 
(J. A. M. ~ Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia – 2008. Alterado.2011;2017; e 4-4-17)