José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

9.10.18

strong Woman




strong woman, onde o teu coração
se despenha em mim, onde
o teu cais, o teu mar, o teu amor
por mim saberei um dia 

corpo de enlevo, hoje é lua cheia
e na porta do templo dourado
estou encostado ao teu sonho
espero como quem já não é
enquanto a luz onde me abandonaste
sabe de mim

eu sei: danças ao luar
e 1 raio (teu) apenas aplaina meu coração.


24-09-18/ 09-10-18

( 3º enxerto do livro inédito: “Diário de 3 Gatos” )



(...) ele há coisas onde regresso, praticamente, todos os dias. Descobri-as por akaso (na infância?) e depois volto a estar de uma outra maneira no estar onde já estive só para estar. Nestes locais, há brisas que acontecem de um modo inesperado & ramos de árvores , luminosas árvores, alvoroçadas em silêncios que aprumam os momentos. Por vezes, também há pássaros alongados nas suas asas em voos brandos de quem já está aceso e por detrás as nuvens dispersas caminhando para os seus destinos incógnitos no meu olhar.

- Queres que te diga uma coisa espantosa?

nada sei acerca deste espanto, quando muito sei que sinto a torrente por vezes volumosa outras vezes doucement enquanto as escadas do templo são transcorridas com pés descalços e as tais asas quando aparecem, e ultimamente sou franco têm surgido frequentemente.


O Preto desviou-se no seu caminhar solene e como que, pomposo ( raio do gato que me interroga) enquanto fui regar as plantas na sala. A Donzela especada inteiramente em si, no meio do corredor, junto à sombra do meu quadro antigo " Acta de uma flor num dia de Verão", parece estar a olhar  para algo que está no ar ou a meditar, o que sei eu?
É tão bonito ( de uma beleza que arde!) adivinhar-lhes  os pensamentos, o modo como estão situados neste mundo, enquanto eu sou apenas humano e eles também servos de DEus.
Reparei à dias que 1 deles me olhava de soslaio ( qual dos 2 não sei, haviam muitas penumbras no local ou era nevoeiro?) e então eu debrucei-me sobre o livro de culinária que lia ( pois no dia seguinte queria fabricar um almoço para a nova namorada) e então akilo estranhou-me pois o gajo(a) ficou fixado e começou a rosnar tons coloridos à volta de si próprio e eu naquela de só ver tachos e + tachos & frigideiras & azeite a transbordar de tudo salvaram-se os tomates que ainda estavam incuravelmente verdes apesar dos 2 bjis  que dou à Sr.ª D.ª F. , quando lá vou comprar produtos mais naturais na tenda da estrada 222, quase precisamente ao lado do rio Douro, isto claro, com muito boa vontade há dias cheios de otimismo, apesar deste país assim-assim, eternamente assim.

Esta Sr.a tem uns olhos azuis melhores que os céus que por lá costumam andar e tem (também) uma filha que é bombeira em Londres e conta-me estórias de emigrantes ( tem irmãs nas Europas, também, estão bem graças a deus) foram com o coração apertado entre as duas mãos que tinham, mas tem de ser, diz. Sinceramente, eu não acredito nestas coisas assim tão inevitáveis & cheias de destino, mas mantenho-me circunspecto, pois eu lá vou apagar as ilusões da mãe de uma bombeira profissional em Londres?
Traduzido: c´est la vie, mas vejo no fundo  daquele azul uma dor apaziguada pelo menos do tamanho do ovo que me oferece quase sempre, como brinde, com um sorriso que naquele momento, a salva dos infernos  em que muita gente persiste andar.
E eu agradeço-lhe, pois o que jorra do coração das pessoas é ouro cá-pra-mim, é o alimento que nos liga real+mente à vida que vai acontecendo pelas linhas aparentemente errantes de tudo. (...)




rascunho. ?. 09.18


7.10.18

(série): DIÁSPORAS AO DEUS~DARÁ



Sombras Acordadas


(ao Victor Mendes)



Está um dia quente e quanto ao resto é indefinito. Podi tchobi! ...óh podi ca tchobi! ...Deus qui sabi (1) ?  
Estou sentado na varanda do meu quarto na Residencial Sol Atlântico, com um padjinha (2) amornecido entre os dedos e a pastar o olhar pelo murmurinho geral.
Uma negrinha aí pelos 3 anos, brinca na Praça Alexandre de Albuquerque com uma boneca, enquanto a mãe sentada por detrás de uma tendinha, olha à volta como se nem esperasse cliente. Tem à venda rebuçados chocolates amendoins tabaco fósforos, coisas claramente várias & agrupadas numa ordem naturalmente colorida.
Aproximei-me da circunstância e pedi à Sr.ª um pedaço de rapé que embrulhou muito delicadamente num pedaço de jornal, kela é kantu? (3)   Ela lá disse com um sorriso morabi (4) enquanto eu continuava atento à minina toda entretida a pentear com os seus próprios dedos, os longos cabelos loiros da barby, comprada com certeza numa das muitas lojas dos chineses por aqui.
De repente, olhou-me e demorou-se como quem se dá conta de um rosto com a pele igual à do seu bebé. Apeteceu-me dizer-lhe algo, mas para além do sorriso cúmplice e desairoso as palavras ficaram-me embarcadas na garganta. O que que eu lhe poderia dizer acerca das infindáveis cores deste mundo e dos homens que separam & dividem tudo?
Ajoelhei-me até aos seus olhos límpidos de todo, peguei-lhe nas mãos juntas, dei-lhe um beijo sentido na testa e senti-me perdoado.

Quando me voltei, tinha os olhos marejados, creio que pela penumbra densa do nevoeiro que descia, inclinei-me para a rua 5 de Julho em direção à “Gruta” (5) do Neilito, enquanto a noite se instalava na cidade pareceu-me ouvir o eco dos ritmos de um pilão (6) celestial, algures. Os sons acompanharam-me até ao final do jantar & levaram-me pela noite adiante onde, mais uma vez, não me ralei em perder-me pelos caminhos de Deus, entre estrelas descidas luas abundantes e várias pessoas que se tornaram amigas pelas naturais leis das luzes.



~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~


 (1)“Talvez vá chover, talvez não, só Deus sabe.” (crioula do Sotavento).
 (2) Cigarro de erva medicinal, elaborado manualmente.
 (3)  “Quanto custa?” (crioulo do Sotavento).
 (4) “Amável, afável, atencioso(a), delicado(a), gentil, simpático(a)”. A morabeza é tida pelos cabo-verdianos como algo difícil de traduzir (como a palavra saudade em português) e exprime um sentimento tipicamente cabo-verdiano, análogo à osprindadi na Guiné-Bissau.
 (5) Tasca. 
 (6) Utensílio feito de madeira, idêntico ao almofariz, com uma altura média de 60 cm, utilizado para moer alimentos com um pau de madeira mais rija, e com a extremidade arredondada (mão do pilão).




 (Cidade da Praia. Ilha de Santiago. Cabo Verde)


Rascunho Nº 384





saÚde

-.- a Última Grande Obra de Arte de Banksy -.-


Link: http://www.banksy.co.uk/



Imagem Lateral ao Assunto Principal: Sr. BANKSY
( Ver o Link Acima )

-.-
https://hubpages.com/art/banksy-girl-with-balloon



5.10.18

(série): DIÁSPORAS AO DEUS~DARÁ

Ruínas da Igreja de São Matias, Alcântara ( 1647). Foto:  j. a. m . 

















Ponta d’Areia ( Br.)



Estou na Ponta d’Areia [1]. Deitado ou sentado à sombra, aí uns 30 e tal graus. O guarda-sol é cor de mangas maduras e eis à minha frente o mar vivo e aceso. Do céu vários azuis luminosos descem naturalmente sobre tudo o que é vida.
À minha volta, o povo espraia-se finalmente no seu domingo.
As crianças vivem à solta por aqui, onde o mar deslaça dia & noite as suas ondas e elas, as crianças, dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos sal/tos de quem está mesmo felizmente feliz e quer, continuar assim, sem precisar de o querer.
Há gazelas morenas, umas a seguir às outras, é difícil acompanhar com a merecida atenção tantos ritmos ondulantes e belos, sob este sol de Deus.
Passa uma caipira [2] com o peso dos anos no rosto grudado pelo sal que vagueia pela aragem e com uma caixa transparente no braço leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas comidas que outros irão comprar, com certeza.
Olhando para trás, vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos, o que não me espanta (pois em Portugal também acontecem estes  descuidos) a despontarem entre as cabeleiras verdes das árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá - dessas bandas - que chegam até aqui aquelas músicas populares, sempre a tocarem as esferas do coração. Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
Um papagaio caiu, tombou mesmo agora a meus pés e re/paro que é feito de plástico, que já foi saco de supermercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados, e ainda mais agora, o menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvaS sozinho com a cauda louca sem tino e esburaca o espaço, rodopia veloz e depois ,,, cai outra vez no chão aparentemente sólido do mundo e a criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.
A menina do bar, mini-saia de ganga boa perna, camiseta vermelha desabotoada, bandeja prateada na mão esquerda, já aviou mais umas garrafas de Sol [3]  a uns jovens que estão pr'ali num forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas dos seus clientes.
Um bandozinho de sabiás-da-praia passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras & mesas azuis, vermelhas e brancas e desaparecem numa curva uníssona do tempo, o que é feito deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim se regala a misturar as cores do cenário em jogos infindáveis.

Lá adiante, lá mesmo ao fundo, onde o céu se afunda numa tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã irei a St. º António de Alcântara, por onde um touro [4] passeia a sua estrela de cinco pontas na testa carimbada, em noites de lua cheia.


 (São Luís. Estado do Maranhão. Brasil)


Bia Ferreira - Diga Não : https://youtu.be/HyusmerTeUM

P.S.TEXTO DEDICADO AO poVo  Brasileiro  NESTE MOMENTO DA SUA HISTÓRIA .


- raskunho Nº 326 -



[1] Praia localizada a cerca de 4 km do centro da cidade de São Luís, muito movimentada principalmente aos fins de semana, pela população local.

[2] Pessoa humilde do campo, da roça, do interior do Estado.

[3] Marca de cerveja brasileira.

[4]https://youtu.be/WdMWKzRiooY . Segundo uma interpretação livre e segundo  lendas populares, na lha dos Lençóis, D. Sebastião mora num palácio de cristal que se ergue no fundo do mar próximo à ilha considerada encantada. Consta que o rei vagueia pela praia, durante a noite, na forma de um touro com uma estrela de ouro (ou de prata), na testa. Se alguém conseguir atingir a estrela e ferir o touro, o seu reino será desencantado e D. Sebastião poderá regressar a Portugal.

" A Anomalia Magnética do Brasil "

Pintura de : j. a. m. - 2015
~
Anomalia Magnética do Atlântico Sul https://youtu.be/8EGJbs2zibc


( 2º enxerto do livro inédito : " Diário de 3 Gatos ")



(…) tal como há pessoas que gostam de rosas ou de outras flores, eu gosto de plantar sementes de girassol, de ervas daninhas, de tudo o que é provável para a possibilidade da existência de um ar mais puro para todos nós. Sou 1 amante descarado da Natureza * & pronto, como diz o meu povo, gostos não se discutem, e com esta posso prosseguir estará claro um dia destes, pois será coisa do destino ;-)

Então hoje ensinei os meus discípulos a plantar 1 carvalho. No novo quintal, que aluguei à Junta de Freguesia aqui da zona, vá lá não foram alarves no negócio até não pareciam políticos ( dps, no fim do ano, dá-nos 1 ou 2  sacos de batatas. – o.k. ! ).

Não  chamei  as crianças nem lhes dei secas de aulas teóricas & essas tretas, peguei na pequena haste da futura árvore, construí um buraco a condizer e eles aconteceram ali a olhar para a circunstância. Depois fui ao poço com um cântaro e despejei a água que julguei necessária à firmeza da terra abraçada ao novo hospede. Olhei para esta obra na doce companhia  de 4 olhos debruçados, atentos, até (julguei) admirados e pensativos, quem o haveria de dizer? tratando-se de gatos.
Confirmado a facto em si, in loco, 1 dia destes haverá um pouco + oxigénio para o Planeta *, bem-precisa ! há por aí, pelo mundo a fora, pessoal a fazer o mesmo - graças a Deus -  nem tudo está perdido, alimento-me destas veleidades às vezes em momentos de fervor & esperança.

Enquanto agora os meninos, refastelados na almofada colorida de flores exóticas, de onde aromas vários se desprendem sonham com a floresta dos seus sonhos  de felinos (…)


* Há  hiperligações nas palavras: " Natureza" e " Planeta " ( é só clicarem  ).

Rascunho.?-10-18

3.10.18

estrellas

 Mestre Guilherme

 (con su autorización, claro). Habana. Cuba. Ag. 2018
~~

" Llegaste tu ": https://youtu.be/S8m1r9nJjmU








 

( enxerto do livro inédito: “Diário de 3 Gatos” )




(…) hoje ás tantas de amanhã nos horários absurdos do establishment & após uma noitada do caraças com amigos, está claro!  quando cheguei a casa os meus mafarricos tinham-me aprontado o raio da casa em pantanas. Antes confesso-vos, saí a correr sei lá porquê, deixei isto  num livre desleixo cozinha escancarada porta aberta para o atelier o meu quarto e a sala. O resto, que não é muito, ficou obviamente encerrado, para os ir confrontando com certos limites. Já agora tambien vos confesso que amo a liberdade e porque não proporcionar tal prazer (tal educação ao prazer) a estes 2 jovens seres vivos*?

Há que saber educar, veio-me esta ideia assim: encaminhar tudo o que é  semente para o sol, fazer por discernir os caminhos & as almas para a radiosa liberdade dos voos, sempre mais que possíveis, apesar dos velhos do Restelo.

O ar da casa estava 1 tanto empestado e foi minha tarefa ir ao W.C. dos meninos e retirar a kaka, coloca-la com o devido aprumo na compostagem que construí à dias, algo que faço sempre como um aprendiz que se quer atento, mas por vezes, confesso-vos, ainda me  distraio com as novas notícias que estão acontecer por este Mundo de Deus a fora (…)




·         * Trata-se do “Preto” ( para os desconhecidos: Sr. Dr. Preto) e da “Donzela” ( para os outros: Mademoiselle Donzela); 4 patas cada um. Raça: gatos. 3 meses e pico.



Rascunho. ?-09-18




Aquí está el por qué deberías convertir tu música a 432 Hz

2.10.18

zurracha



rosas prósperas levantadas
por mãos que não sei
apenas sinto o aroma voltando-se
de repente a porta da casa
está  num outro jardim
e toda a noite se apagou
no coração que flui.


( 29-09-18)

postais

-.- Sr. Dr. zé kalunga -.-
~

Vieux Farka Touré - AFH3: https://youtu.be/0ZE6a_rg8RQ

1.10.18

Ойся ты ойся (Dancе with swords)

shells ~ vieiras ~ conchas ~ قذائف ~ coquilles ~ シェル ~ ракушки ~ Muschelschale ~ снаряди ~ conchiglia di mare ~ κοχύλια ~ kuoret ~ havskal ~ seashell ~ 壳 ~ схелл ~koki ~ igobolondo ~~~

A Ver-O-Mar, Póvoa do Varzim, Caminho de Santiago. Foto: j. a. m.
~

O Ativismo Quântico e a Espiritualidade

Quantum Academy

https://youtu.be/6uINvyxbxcg

~

The Many Worlds of the Quantum Multiverse | Space Time:

O Labirinto de Dédalo

Obra de  J. A. M. . Acrílico s/ tela, 100X100 cm, 2018.

Trecho das Metamorfoses de Ovídio:
Agora, o opróbrio da família crescera: estava à vista de todos,
pela estranheza do monstro biforme, o imundo adultério da mãe.
Minos decide expulsar esta vergonha para o seu matrimônio
e fechá-la numa casa complexíssima, de aposentos nas trevas.
Celebérrimo pelo seu talento na arte da arquitetura, Dédalo
encarrega-se da obra, baralha os sinais e faz o olhar enganar-se
em retorcidas curvas e contracurvas de corredores sem conta.
Tal como na Frígia o Meandro nas límpias águas se diverte
fluindo e refluindo num deslizar que confunde, e, correndo
ao encontro de si próprio, contempla a água que há de vir,
e, voltando-se ora para a nascente, ora para o mar aberto,
empurra a sua corrente sem rumo certo, assim enche Dédalo
os inumeráveis corredores equívocos. A custo ele próprio
logrou voltar à entrada: de tal forma enganador era o edifício.
Met. 8, 155-168
    in, " MITOLOGIA HELÉNICA": 

"feiticeira" de Luís Represas

30.9.18

~ não peço brasas emprestadas ~



hoje, porque é domingo, deu-me para ir jantar fora pra espraiar ver gente à minha volta talvez fazer amigos algo assim que pudesse ser um não-sei-quê-de-diferente do raio da semana de trabalho. Encaminhei-me para o  restaurante mais próximo dado que estava a chover e os guarda-chuvas não se dão bem comigo & vice-versa e já agora  confesso com o  tempo acabei por aceitar tal facto, assim como muitos outros e outros até não, francamente, há coisas que real/mente Não abdico. Lá fui entretido com  a noite bem escura e as gotas de água fria que me perseguiram até à meta pretendida na altura e quando desemboquei na coisa é que me apercebi que amanhã será feriado e por conseguinte todo o pessoal da zona lhe deu pra ir prá-li, coincidências do caraças.

Lá me alinhei aprumadamente na fila de espera depois de emprestar o nome ao men de serviço nos apontamentos e pus-me a pasmar com o vái-e-vém corredio dos empregados por  entre N curvas do pouco espaço e os rostos foragidos de si próprios,  mais um ou outro personagem que sobressaia por 1 ocaso qualquer  que logo olvidei  e me resvalava o olhar para aqui e acolá onde acabava por se esfumar (as mesas fartas, as bocas a mastigarem abertamente nos vários planos arranhados das algazarras, os omnipresentes telemóveis pelo meio das batatas fritas & das carnes a fumegarem químicos, o ruído abrupto das 4 pernas das cadeiras juntas quando deslizavam, um prato que foi desta pra melhor forçando à despedida a presença obrigatória de muitos olhares, por aí…..)

e sem dar por isso já estava a ser encaminhado por um empregado conhecido que me levava pela mão imaginei isto agora mesmo, sou franco, pois quando já à uns bons anos, fui palhaço num pequeno circo ambulante pela província descobri que somos todos crianças amorosas ou para lá caminhamos queria tanto crer, então logo a seguir aconteci numa mesa com duas cadeiras, onde obviamente só ocupei uma. Aparentemente. Dado que a outra, por debaixo da toalha de plástico com quadrados ainda vermelhos servia-me para apoiar confortavelmente as sapatilhas encharcadas de todo. É Inverno por estas bandas e dei as botas ao Sr. A. que estava a tentar dormir à soleira da porta de minha casa, quando o encontrei vinha eu sei lá de onde , já a transbordar de estrelas mediunicas &  cheio de  generosidade pela Humanidade,  o pobre diabo é que as pagou. ( Será necessário haver sempre uma vítima & um algoz, neste Mundo? )

Por cima da minha cabeça havia uma T.V. e no início estranhei tanta gente a olhar para mim. O meu “eGo”,  ( o tal meu cão com o seu aspeto cada vez + belo  qual modelo, já vai tendo  uma boa cotação na praça internacional, após exposição pública desatempada, mas oportuna, a meu ver, qualquer dia chamam-no pra  Hollyood  é o meu  grande sonho  e eu vou ser o seu curateur & ambos vamo-nos safar bem na vidinha, haja deus! ) veio-me agora ao de cima isto são tentações ordinárias que acontecem pelos raios dos hábitos mas, a bem da verdade centremo-nos centra-te ), o meu cão rafeiro acima referido, desta vez  ficou a  fingir que guarda  a casa.

Dado a algazarra inopinada (em relação ás minhas perspectivas iniciais, para quê as perspectivas quando tudo está sempre a mudar como nos anúncios das T.V.s ? ), explico,  não só pelo feriado já aludido mas também porque já começou coisa dos Natais e ele há grupos & mais grupos a juntarem-se para se comemorarem felizmente há males que vêm por bem e quando chegou o empregado com aquele livrinho trés fino que  só tem meia-dúzia de folhas habitualmente, mas aqui fica-se pelas duas, eu disparei-lhe logo a solução: ½ dose de açorda de camarão ( lá são generosos nisto, já não é a 1ª  vez & até dá pra trazer pra casa, para mim, para o eGo e uma cadela do vizinho, presentemente em época de cio)  e o  maduro branco da casa  com o seu conveniente ar de frescura ( é do Douro, bonzinho até à data venham mais turistas para o sr. costa gerir bem se for possível o zé povinho até lhe agradecia), e aguardei pastando o olhar pela multidão de vozes & rostos & gestos & televisões nos 4 cantos do lugar já agora porque não haver 5  nesta altura do campeonato  mundial naquela base  consumista & insana  das  competições? , e então

o pedido não demorou a ter resposta & ainda bem pois já estava a esgotar o cardápio visual & sonoro. Debrucei-me sobre o assunto em questão e isolando-me do mundo à-volta, saboreei o repasto, pois realmente a fome é negra, como dizem os pobres pois os ricos ainda não chegaram e com a noite da alma  pelo meio ainda mais ou ainda menos, (quem o há-de  dizer?),  depois havia ali mesmo à minha frente mais 1 camarão rosadinho que nem as bochechas da minha namorada  minhota, mais uma concha para desnudar mais uma colherada de açorda com orégãos, a faca & o garfo entrecruzando-se num bailado amistoso + uma golada do delicioso néctar que descia qual cascata deslumbrada em si (e em mim), TudO estava a ficar  1 pouco mais claro  comecei a serenar os impetuosos ânimos um tanto ou quanto já exaltados do meu dele estômago que desde manhã cedo não tinha vislumbrado niente.
Fizemos as pazes finalmente nunca é tarde para tal deslumbrante facto, claramente. Assim isto servisse de indelével exemplo a tanta gente perdida  por aí, valha-me Deus.

Mastiguei demoradamente como é meu hábito, já tive pressas quando era maluco, todo entretido com os minúsculos sabores que advêm de tal esforço pelos vistos compensatório para as papilas gustativas que batiam palmas em uníssono. Escortinando agora à-volta aquele mundo parecia-me tudo muito longe. Efetivamente, tinha-me desligado. Aprendi esta pequena arte algures com um mestre budista que me enfiou numa gruta sozinho por um ano e tal. Mal me pôs a vista em cima, ali à porta do mosteiro sedento da tal luZ, nem me deu tempo para. Foi numa montanha do Tibete ( bem perto de um portal ) toda alva de neve e quando saí de lá até voei já tinha asas.
Bons tempos,,, em que entre mim e os anjos apenas havia a diferença no comprimento das mesmas. Quanto à cor ( as minhas ainda eram negras devido à  demorada escuridão) ninguém se sentia nem mais nem menos assim é que eu gosto & gostos não se discutem.

Depois regressei aos imperais  & imperiosos Ocidentes, via Portugal ( onde tenho um torrão de terra em Trás-os-Montes),  caí desamparadamente na dialétioca  made in  U.E. prá-ki made in U.S.A. prá-li todos  feitos em nós obscuramente  amistosos opiniões pessoais claro & todas as minhas asas foram à vida. 1º fiquei lorpa de todo a ver telejornais e jornais e sei lá que mais, depois  deixei-me disso e comecei andar macambúzio pelos cantos dos dias & das noites depois  mais adiante surgiu-me  uma depressão horrível  afiançou-me   mesmo o Sr. Dr. da Caixa, e mais depois logo a seguir Sr.s Dr.s psiquiatras pílulas um balúrdio de $ nas farmácias [1], quase ia parar ao Hospital do Monte da Virgem, secção dos malukinhos. Terra esta de danados , meu irmão, como vamos nós resolver esta balbúrdia?

Após um delicioso café  ( honra lhe seja feita )  e um incendiário bagaço ( fabrico caseiro, proibido nas Europas eles lá sabem o que fazem) lá me dispus a declarar-me à noite sozinho que remédio, regressando a casa entre estrelas muitas penduradas nos seus destinos de estarem ali para os meus olhos solitários e gotas de chuva agora prateadas pela luz descarada que descia da lua subitamente cheia.








[1] Onde felizmente me deixam pagar ao fim do mês  quando o patrão me dá (Deus lhe dê  muita saúde), o tal de ordenado mínimo que  já nem tenho cabeça pra saber, a minha Maria é que trata dessas coisas.



Rascunho nº 220. 1974/2018