hoje, porque é domingo, deu-me para ir jantar fora pra espraiar ver gente à minha volta talvez fazer amigos algo assim que pudesse ser um não-sei-quê-de-diferente do raio da semana de trabalho. Encaminhei-me para o restaurante mais próximo dado que estava a chover e os guarda-chuvas não se dão bem comigo & vice-versa e já agora confesso com o tempo acabei por aceitar tal facto, assim como muitos outros e outros até não, francamente, há coisas que real/mente Não abdico. Lá fui entretido com a noite bem escura e as gotas de água fria que me perseguiram até à meta pretendida na altura e quando desemboquei na coisa é que me apercebi que amanhã será feriado e por conseguinte todo o pessoal da zona lhe deu pra ir prá-li, coincidências do caraças.
Lá me alinhei aprumadamente na fila de espera depois de emprestar o nome ao men de serviço nos apontamentos e pus-me a pasmar com o vái-e-vém corredio dos empregados por entre N curvas do pouco espaço e os rostos foragidos de si próprios, mais um ou outro personagem que sobressaia por 1 ocaso qualquer que logo olvidei e me resvalava o olhar para aqui e acolá onde acabava por se esfumar (as mesas fartas, as bocas a mastigarem abertamente nos vários planos arranhados das algazarras, os omnipresentes telemóveis pelo meio das batatas fritas & das carnes a fumegarem químicos, o ruído abrupto das 4 pernas das cadeiras juntas quando deslizavam, um prato que foi desta pra melhor forçando à despedida a presença obrigatória de muitos olhares, por aí…..)
e sem dar por isso já estava a ser encaminhado por um empregado conhecido que me levava pela mão imaginei isto agora mesmo, sou franco, pois quando já à uns bons anos, fui palhaço num pequeno circo ambulante pela província descobri que somos todos crianças amorosas ou para lá caminhamos queria tanto crer, então logo a seguir aconteci numa mesa com duas cadeiras, onde obviamente só ocupei uma. Aparentemente. Dado que a outra, por debaixo da toalha de plástico com quadrados ainda vermelhos servia-me para apoiar confortavelmente as sapatilhas encharcadas de todo. É Inverno por estas bandas e dei as botas ao Sr. A. que estava a tentar dormir à soleira da porta de minha casa, quando o encontrei vinha eu sei lá de onde , já a transbordar de estrelas mediunicas & cheio de generosidade pela Humanidade, o pobre diabo é que as pagou. ( Será necessário haver sempre uma vítima & um algoz, neste Mundo? )
Por cima da minha cabeça havia uma T.V. e no início estranhei tanta gente a olhar para mim. O meu “eGo”, ( o tal meu cão com o seu aspeto cada vez + belo qual modelo, já vai tendo uma boa cotação na praça internacional, após exposição pública desatempada, mas oportuna, a meu ver, qualquer dia chamam-no pra Hollyood é o meu grande sonho e eu vou ser o seu curateur & ambos vamo-nos safar bem na vidinha, haja deus! ) veio-me agora ao de cima isto são tentações ordinárias que acontecem pelos raios dos hábitos mas, a bem da verdade centremo-nos centra-te ), o meu cão rafeiro acima referido, desta vez ficou a fingir que guarda a casa.
Dado a algazarra inopinada (em relação ás minhas perspectivas iniciais, para quê as perspectivas quando tudo está sempre a mudar como nos anúncios das T.V.s ? ), explico, não só pelo feriado já aludido mas também porque já começou a coisa dos Natais e ele há grupos & mais grupos a juntarem-se para se comemorarem felizmente há males que vêm por bem e quando chegou o empregado com aquele livrinho trés fino que só tem meia-dúzia de folhas habitualmente, mas aqui fica-se pelas duas, eu disparei-lhe logo a solução: ½ dose de açorda de camarão ( lá são generosos nisto, já não é a 1ª vez & até dá pra trazer pra casa, para mim, para o eGo e uma cadela do vizinho, presentemente em época de cio) e o maduro branco da casa com o seu conveniente ar de frescura ( é do Douro, bonzinho até à data venham mais turistas para o sr. costa gerir bem se for possível o zé povinho até lhe agradecia), e aguardei pastando o olhar pela multidão de vozes & rostos & gestos & televisões nos 4 cantos do lugar já agora porque não haver 5 nesta altura do campeonato mundial naquela base consumista & insana das competições? , e então
o pedido não demorou a ter resposta & ainda bem pois já estava a esgotar o cardápio visual & sonoro. Debrucei-me sobre o assunto em questão e isolando-me do mundo à-volta, saboreei o repasto, pois realmente a fome é negra, como dizem os pobres pois os ricos ainda não chegaram lá e com a noite da alma pelo meio ainda mais ou ainda menos, (quem o há-de dizer?), depois havia ali mesmo à minha frente mais 1 camarão rosadinho que nem as bochechas da minha namorada minhota, mais uma concha para desnudar mais uma colherada de açorda com orégãos, a faca & o garfo entrecruzando-se num bailado amistoso + uma golada do delicioso néctar que descia qual cascata deslumbrada em si (e em mim), TudO estava a ficar 1 pouco mais claro comecei a serenar os impetuosos ânimos um tanto ou quanto já exaltados do meu dele estômago que desde manhã cedo não tinha vislumbrado niente.
Fizemos as pazes finalmente nunca é tarde para tal deslumbrante facto, claramente. Assim isto servisse de indelével exemplo a tanta gente perdida por aí, valha-me Deus.
Mastiguei demoradamente como é meu hábito, já tive pressas quando era maluco, todo entretido com os minúsculos sabores que advêm de tal esforço pelos vistos compensatório para as papilas gustativas que batiam palmas em uníssono. Escortinando agora à-volta aquele mundo parecia-me tudo muito longe. Efetivamente, tinha-me desligado. Aprendi esta pequena arte algures com um mestre budista que me enfiou numa gruta sozinho por um ano e tal. Mal me pôs a vista em cima, ali à porta do mosteiro sedento da tal luZ, nem me deu tempo para. Foi numa montanha do Tibete ( bem perto de um portal ) toda alva de neve e quando saí de lá até voei já tinha asas.
Bons tempos,,, em que entre mim e os anjos apenas havia a diferença no comprimento das mesmas. Quanto à cor ( as minhas ainda eram negras devido à demorada escuridão) ninguém se sentia nem mais nem menos assim é que eu gosto & gostos não se discutem.
Depois regressei aos imperais & imperiosos Ocidentes, via Portugal ( onde tenho um torrão de terra em Trás-os-Montes), caí desamparadamente na dialétioca made in U.E. prá-ki made in U.S.A. prá-li todos feitos em nós obscuramente amistosos opiniões pessoais claro & todas as minhas asas foram à vida. 1º fiquei lorpa de todo a ver telejornais e jornais e sei lá que mais, depois deixei-me disso e comecei andar macambúzio pelos cantos dos dias & das noites depois mais adiante surgiu-me uma depressão horrível afiançou-me mesmo o Sr. Dr. da Caixa, e mais depois logo a seguir Sr.s Dr.s psiquiatras pílulas um balúrdio de $ nas farmácias [1], quase ia parar ao Hospital do Monte da Virgem, secção dos malukinhos. Terra esta de danados , meu irmão, como vamos nós resolver esta balbúrdia?
Após um delicioso café ( honra lhe seja feita ) e um incendiário bagaço ( fabrico caseiro, proibido nas Europas eles lá sabem o que fazem? ) lá me dispus a declarar-me à noite sozinho que remédio, regressando a casa entre estrelas muitas penduradas nos seus destinos de estarem ali para os meus olhos solitários e gotas de chuva agora prateadas pela luz descarada que descia da lua subitamente cheia.
[1] Onde felizmente me deixam pagar ao fim do mês quando o patrão me dá (Deus lhe dê muita saúde), o tal de ordenado mínimo que já nem tenho cabeça pra saber, a minha Maria é que trata dessas coisas.
Rascunho nº 220. 1974/2018