José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

30.4.22

de passagem

Autor: J. A. M.















Eis a quimera. A cada momento
o halo do permanente mistério
no rosto, ou no olhar ou
nas inesperadas surpresas
que nos acontecem.

Olho á volta como se tudo estivesse
em mim, como realmente está
e sou a árvore, a brisa, as nuvens
eis as quimeras
que logo esqueço para ser 1 outro
que se enlaça à  vida
um travo a mais é sempre
bem vindo.


( J. A. M. - 14-04- 2022)


24.4.22

Porque é que cresce a mão para a palavra?

Pintura: J. A. M.

 















Há o sol e as matérias primas
dentro do sangue nos corpos
há os dias e as noites recolhidas,
submersas até aos dedos
e ainda há o Mundo e as pessoas
os animais, as árvores, a Natureza
e a vastidão da respiração
que vem do coração da vida
seio de idades invadidas por tantos rostos
e há instantes imprecisos em que somos quase
inteiros
no útero de tudo onde as vozes se instalam
mas só às portas soltam as suas âncoras:
as palavras, as sombras que agora vos escrevo.
 
O olho do mundo dança-me na cabeça
ao sabor das luzes que giram
na alta nudez sem nome.


( J. A. M.)

 

20.4.22

"ESCUTA, ZÉ NINGUÉM !" (Wilhelm Reich, 1946)

Imagem transformada: J. A. M. 

 

"(...) é de ti que depende o futuro da Humanidade. E tenho medo de ti porque não existe nada a que mais fujas do que a encarastes-te a ti próprio. Estás doente Zé Ninguém, muito doente, embora a culpa não seja tua. Mas é de ti que cabe libertares-te da tua doença. 
Já há muito que terias derrubado os teus verdadeiros opressores se não tolerasses a opressão e não a apoiasses tu próprio.
Nenhuma força policial do mundo poderia prevalecer contra ti se tivesses ao menos uma sombra de respeito por ti próprio na tua vida quotidiana, se tivesses a profunda convicção de que, sem o teu esforço, a vida sobre a terra não seria possível por nem uma hora apenas. 
Será que o teu "libertador" to disse?
 
(…) és tu quem transforma homens medíocres em opressores e torna mártires os verdadeiramente grandes; que os crucificas, os assassinas e os deixas morrer de fome; que não te ralas absolutamente nada com os seus esforços e as lutas que travam em teu nome (...)"

CONVITE ( Lusofonia)


 

10.4.22

Felizmente vivo

Autor: J. A. M.

de manhã, quando as aves ainda parecem sonhos
e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas e as janelas
de encontro aos olhos de quem acorda


e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes


e a Beleza do mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora


de manhã quando algo estala o silêncio
instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.


( J.A.M.)




3.4.22

esta vida é um sopro

Autor: J. A. M.

à volta estranho não escutar
os pássaros
os belos sons da cascata do rio
neste lugar
onde o sol se debruça
onde a minha alma é sempre pouco
para ocupar o espaço
que aparentemente me abraça.

Há uma semente estrangeira
no meu coração
por vezes ilumina-se, outras vezes
sussurra, outras vezes ainda
adormece, desamparada
como um pássaro elevado
pelo centro da noite
entre as estrelas sempre muitas
e a minha solidão de ser humano.


(J. A. M. - 22-03-2022)