José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

20.1.23

Pedaços do céu

Pintura. J. A. M.


de manhã, quando as aves ainda parecem sonhos
e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas e as janelas
de encontro aos olhos de quem acorda

e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes

e a Beleza do mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora

de manhã quando algo estala o silêncio

instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.


(J. A. M.)

13.1.23

Onde o Sol é mais perto

Pintura. J. A. M.

às vezes à noite, pego no bloco pego na caneta. Fico assim, horas a fio a olhar para o céu, depois a incerta altura, desço o olhar
agora:

1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite por detrás da sebe deste jardim há 3 sobreiros unidos com troncos rugosos onde a cortiça respira e cresce sem darmos por isso e as folhas todas juntas formam uma cabeleira que estremece e dança, muito espaçadamente, com a aragem que sopra dos lados do mar enquanto pedaços de algodão dos álamos esvoaçam e uma sisão * algures espalha as pautas.

 De repente, a chuva parou.
Gotas de água escorrem de folha em folha e depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se abrem aos desejos da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que cai dos candeeiros. E são belas assim, nos seus verdes flamejantes contra as obscuridades à volta. Na superfície azulada de um pequeno lago provisório, estranhamente ondulado, está a lua estampadamente enorme.



* Ave considerada Vulnerável, pela organização BirdLife International.


 (Cabo de São Vicente. Algarve. Portugal) 

7.1.23

Pintura. J. A. M.


 O olho do mundo dança-me na cabeça
ao sabor das luzes que giram
na alta nudez sem nome.


( J. A. M.)


2.1.23

2023

(Pintura): Novo Ano. Novo Mundo

 

uma data que regressa sempre
todos os anos

um sino pendular nas cavernas do corpo
e então escrevê-lo é abrir as potências
do sangue, dos pés até à raiz
dos cabelos, deixar crescer
a vida circular dos dias
pelo silêncio poderoso
se fundamenta um olhar
um sonho uma estátua invisível
dentro da memória
ordena-se o esquecimento
mantendo sempre a respiração do Mundo
entre muitos e muitos horizontes.


( J. A. M. )