José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

26.12.17

~ não sei se volto a voltar ~




Há coisas do diabo. Algures no Brasil cheguei a estar no Paraíso. E regressei.  Agora encontrei outro Paraíso. Não sei se volto a voltar.
Começo por um dos lados: o mar sem fundo, no compasso di roncu di mar [1] a chegar claraMente até mim. Depois há coqueiros esguios, altaneiros nas suas tranquilas danças com a aragem muito ao de leve, afinal quem sopra por lá? E há as tamarineiras com os fortes braços erguidos para os céus & os seus frutos curvados doados à espera de quem lá chegue. Palmeiras com as suas folhas dobradas em devoção às 7 portas que iniciam as noites. Balançam-se também aos sons do mar, da lua que começa a ser maior no céu indefinito do meu olhar.
Estou nu, sentado com as patas apoiadas na varanda azulzíssima e tomara eu estar assim tão nu por dentro. Agora vou colher uma cana de açucar aqui do meu quintal e depois talvez vá soprar uma flauta vazia por aí adiante.
Olhando, escutando, aprendendo a ser mais. 
O pássaro que me visita todos os dias, merece agora toda a minha atenção. E ele já está ali, na sua árvore de eleição, misturado com as flores vivas cor-de-laranjas-acesas, pelo meio da folhagem verde escura porque efetivamente já é noite e tudo está demasiado claro para mim.

de: j. a. M. & Victor M.


(Sidády Vêlha. Ilha de Santiago. Cabo Verde. Rascunho.2008/2017)




[1] “nos sons compassados das ondas do mar”. (crioulo do Sotavento)

15.12.17

cheguei hoje a São Jorge dos Órgãos para ver as árvores


  

Cheguei hoje, atenciosamente recebido pelo chilrear dos pássaros que acordavam o dia, a São Jorge dos Órgãos para ver árvores. Também.
A viagem em “Hiace” demorou e não demorou como é natural por estas bandas, com vizinhos sonolentos como eu e o meu grande malão (é o boby tem 4 rodas, trela & tudo) cheio de pedras preciosas, joias de ouro muitas e de pratas algumas, falo metaforicamente, também seixos plebeus colhidos em costas marítimas pelo mundo a fora a mala pesadíssima lá atrás, encostada a um porku branco que às vezes rosnava para o silêncio dele próprio.
A certa altura, o condutor parou numa povoação cheia de buganvílias, São Domingos, fez um gesto geral com os dez dedos no fim dos braços levantados e cada um foi à sua vida por uns momentos. Numa pequena tenda montada em plena rua por ali à sombra de uma buganvília com flores cores de curcuma, que me seduziram vê-se bem porquê, decidi-me por um pastel de milho ainda morno e um ponche de coco que a patroa garantiu ser safra dela e seu marido lá para,,,,e apontou 1 dedo para um local algures , que logo imaginei ser agradável ir até lá um dia destes. Este encontro realmente caiu-me muito bem, entrelaçado com as várias fragâncias no ar e um grupo de “batukadeiras” ali perto, a explodirem sons a condizer.
Regressados ao veículo, voltámos a amontoar-nos como podíamos todos com a natural morabeza que eu aprendia devagarosamente e ainda estou a ouvir as “tabankas” do  rádio, que parecia já ter uma incerta idade, ou seriam cassetes? acompanhadas pelo leve resvalar do veículo pela estrada acima que nem uma seta q.b. por dentro do nevoeiro que às vezes se esquecia de o ser, e então apareciam montanhas verdes muito altas algumas, quem o haveria de dizer, e casas perdidas sozinhas por lá, onde só as portas e as janelas tinham cores, e que cores! e as paredes levantadas prolongavam os tons da terra.


Nota: O título faz alusão ao único jardim botânico do país, sonho realizado em 1983, pelo franco-português Luís Augusto Grandvaux Barbosa, onde podemos apreciar inúmeras plantas endémicas e árvores, como jacarandás, cabaceiras,dragoeiras, acácias, etecetera.
José Alberto Mar
  ( Cabo Verde. Ilha de Santiago )

11.12.17

Zodiacal Light ~ Luz Zodiacal

J. A. M. (73X88 cm. 2016 )

~ castanhas, amarelas, verdes, vermelhas ~



As folhas despedem-se das suas árvores
castanhas, amarelas, verdes, vermelhas
às vezes
um adeus de sombras a voarem.
(vadias pela aragem enquanto a terra não lhes dá colo)


Naturalmene despidas, as árvores abraçam o frio.

(?-J. A. M.)