José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

30.6.20

~ 10º Pedaço de mais um diário perdido ~


Trabalho Visual. J. A. M. -2020



Algo desce ou sobe, cresce, amadurece e 1 dia há uma semente nas tuas mãos.
Ou no teu coração.


Uns tempos mais adiante, já temos uma árvore: ramos que dão ramos, folhas que dão flores, por aí. Por vezes, frutos.
Quando o calor aperta nos Verões que eram, deitas-te sobre a sombra dessa esplêndida árvore que cresce sem o saberes e adormeces. 


- vens pela rua abaixo da tua aldeia algures nesta província feita deserto de seres humanos.Vês apenas as estórias que ainda estão vivas na memória, vês agora  como tudo se tornou maior, as casas a mãe e o pai no meio dos pratos e da terrina a fumegar, vês a lareira arder onde acabas as noites, a olhar as chamas que lês como um livro sem fim.


Depois  acordas : a sombra despedida  tudo já é escuridão, os lençóis negros da noite não te aliviam o frio.
E há sempre um frio que também acontece por dentro.


Entretanto olhas à volta e reparas numa semente que caiu enquanto eras menina no sonho.
Apanhas a semente com ambas as mãos pequenas, levantas-te e desces até casa, onde os teus pais te esperam: a sopa  a colher,  o pão ao lado.
Colocas a semente sobre a mesa e os teus pais sorriem.


J. A. M. 


( Rascunho Nº 3)

25.6.20

( Marketing Gratuito)

Série: Flores com Aromas. Anos 80. J. A. M. 
























primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos transcorriam como caravelas loucas com todas as suas 10 velas nas polpas sensíveis cada vez eram mais e eu lá ao fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
E ela estava deitada, absorta no seu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-a a crescer nos ritmos da respiração e de um lado e do outro éramos cada vez mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio que ambos tínhamos de possuir, precisamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no entanto, não era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com todas as portas abertas ao Mundo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos no fundo jaziam. Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais apuradas já não dizem palavras.
E os gestos criavam outros mundos onde só nós cabíamos, onde só nós éramos perfeitos, à espera de o sermos.


 (São Luís do Maranhão. Brasil)




NOTA texto incluído no Livro de Contos, a sair brevemente, intitulado O OURO BREVE DOS DIAS. Edição LeiaBrasil. 

Após um intervalo de cerca de duas décadas.

 O autor publicou  anteriormente 3 livros de Poesia, tendo o primeiro merecido da Associação Portuguesa de Escritores (A.P.E.) o Prémio Revelação de Poesia, tendo sido o coordenador do Júri, o poeta António Ramos Rosa. Obteve mais 2 prémios nacionais de poesia, que resolveu não assumir, por razões de índole pessoal.
O atual Livro, contém Contos escritos em  alguns países dos PALOP(https://www.cplp.org/)

18.6.20

~ 9º Pedaço de mais um diário perdido ~


(Inimă. Coeur. Coração. Koro. Heart) by: J. A. M.




(…) Enquanto caminho ao sabor da leve aragem que me acompanha re/paro por perto no aroma espalhado de uma visita a que não (me) tinha ligado e é saboroso vislumbrar
Agora
as flores de alfazema minúsculas violetas espigadas encantadas entre si, amparadas pelas significantes folhas verdes onde o sol se despede tranquilamente e se desfaz em prata, e vejo que me olham como eu nunca as senti.

Guardo a lição no bolso da camisa junto ao peito e continuo a caminhar para onde ainda não sei




Nota: Dedicado à minha filha, Diana Isabel (18-06-2020).


17.6.20

tranquilamente a dança continua

Foto: J. A. M.























(…) Caminhava sozinhamente feliz por um caminho muitos na floresta algures na ilha maior da Caraíbas, quando me aconteceram vários pequenos milagres

- permanente a Fonte nunca se esquece de me matar a sede.

9.6.20

Trabalho~Visual com xenolinguistica *. J. A. M.
* uma designação que alguém, algures me emprestou.

























Havia 1 marinheiro que tinha um barco.
Havia 1 barco que tinha um marinheiro.
Ambos não tinham nada, a não ser o mar e os horizontes.

Eram muito felizes naquela cumplicidade silente
com o marulhar sempre tão presente

que, quase sempre, parecia ausente.


J. A. M. 



















4.6.20

um barco e o seu barqueiro

Pintura. Autor: J. A. M. - 2020




















porque nos cai o azul sobre as cabeças


Um barco parado nas águas ao de leve sonoras do Rio Preguiças enquanto a noite desce como um lençol suavemente escuro apagando o rio, que ainda há pouco era azul e agora já é um espelho prateado virado para fora de si. Alongado pela escuridão que se recolhe nos olhos, de quem apenas olha.
 E agora, o barco já acordado no dia seguinte, desce preguiçadamente entre as duas margens de florestas e tudo são verdes faustosos até à sua foz em Caburé, onde soube de um milagre que acontecia: alguém aparecia à noite cavalgando um cavalo branco e esbelto sobre as águas do rio e era mulher diziam alguns, não sei, mas gostaria de saber, pensei eu e então fiquei por ali para ver a história e tudo aconteceu assim.
 Em silêncio: de rompante, numa brecha incerta da escuridão, apareceu a imagem em fuga mesmo ali à frente dos nossos narizes e deixou uma brisa de espanto calado sobre quem olhava pasmado e depois, realmente mais nada. Todo o mundo se olhou estranhadamente e ninguém falou



(Barreirinhas. Estado do Maranhão. Brasil.)
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Nota: Brevemente a sair no Livro de Contos:
“ O  OURO  BREVE  DOS  DIAS ”.

3.6.20

Luz

Técnicas-mistas. Autor: J. A. M. 





















que atravessas o meu rosto
e tombas em algo dentro de mim, que:
não sei mas sinto
o relâmpago acontecido.

Vens de longe ou, até não 
há distâncias
vens porque, por 1 instante mais distraído
eu aconteci  em ti
e Tu és eterna, vã e sem
retornos.


( Rascunho N5.- 2020)