José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

29.7.20

~ 14º Pedaço de mais um diário perdido ~



( Foto: J. A. M. )


o teu rosto é o meu sol, o meu rosto será o teu sol, se me olhares lá do fundo onde já não há traves,trevas, pontes ou abismos que se patrocinam cúmplices  entre si, sozinhos.

Abraço a tua cintura, como quem enlaça a haste  de uma flor que ainda não se vislumbra; mas leve o seu aroma no ar já é uma natureza mortal. Por isso, mais uma flor irá acontecer. Nas suas pétalas onde podemos poisar o olhar e as nossas cores.

Pois, em cada momento morremos, com as dispersas tarefas da vida e 1 dia partimos irremediavelmente nus, apenas com os aromas que, no fundo de nós, em nós colhemos.
 

          
             ( J.A.M.- 2020 )

              - Rascunho Nº5 - 

Mapa Descido

Pintura: J. A. M. 



















Os Universos Paralelos existem  (Sadhguru Português):


27.7.20

~ o Grande Olho ~

Pintura. Autor: J. A. M. 



















O olho no qual vejo Deus é o mesmo
olho no qual Deus me vê;
o meu olho e o olho de Deus

são um único olho, uma única visão, um único reconhecimento
e um único amor.

( Eckhart )

22.7.20

~ 13º Pedaço de mais um diário perdido ~

Foto trabalhada. Autor: J. A. M. 

























era Primavera [i] e havia papoilas espalhadas pelos campos são seres com as pétalas como asas de borboletas, finas, frágeis esvoaçantes quando pressentem qualquer brisa.
Ao longe, parecem gotejar sangue nos verdes prados empolgadas pelo sol.
Por onde eu caminhava, á deriva, mas com o intuito de descobrir repentinamente um outro mundo inteiramente desconhecido.

Mas, ia-o conhecendo aos poucos, aparecia-me uma árvore frondosa: um carvalho, um ulmeiro, um choupo de onde se soltavam farrapos informes de algodão que me atapetavam o chão.
E eu reparava como aquilo já era algo de novo na minha pressa dos milagres repentinos. Debruçava-me sobre estas minúsculas coisas, e descobria que – afinal – estava já a viver o que ainda não sabia estar a acontecer.

Parava. Não sei se refletia ou se me esquecia. Deitava-me sobre as ervas verdes ao lado das papoilas, com o céu por cima.
Estava mais em mim e dentro do que á minha volta me tocava. Havia alturas em que desconhecia os pássaros metafóricos em visita à minha própria alma. 
E o frenesim inicial da caminhada, apaziguava-se com a candura que me surgia por todos os lados. Pois, dentro e fora tudo é o mesmo.

E, quando chegava a casa estava remediavelmente perdido nas horas dos outros. Nem tinha ouvido o sino da Igreja.  Chegava normalmente tarde e a más horas.
Mas os meus pais eram pacientes e compreensivos e olhavam-me como alguém que regressava á sua morada, sempre pela primeira vez.



[i] Estas flores, quando colhidas mal tardam em qualquer jarra.




( J. A. M. )

- Rascunho Nº 4 -
















17.7.20

A Beleza derrota-me

Imagem Trabalhada ou " Digital Art". Autor: J. A. M.

















A beleza de um corpo transfigura
a nossa ideia do Mundo
atravessa-nos inteiros como flechas sem dono
e num silêncio muito vivo sabemos
Salomé, sabemos como somos tão mortais.


(poema: anos 80 ?. J. A. M.)

12.7.20

Other Wings ~ º ~ Alte Aripi

Trabalho Visual: J. A. M. Anos 80?
























Outras asas


por vezes, abrem-se outras luzes , outras cores
outros sons dentro
como acontece na boca das fontes
e é por aqui que algo em mim é mais humano
entre esta sagrada Terra & as estrelas às mãos de semear
entre tantas margens os tambores celestes batem e
rebatem no meu coração.


( J. A. M.)


- Rascunho Nº 6 -.

9.7.20

~ 12º Pedaço de mais um diário perdido ~

Imagem Trabalhada. J. A. M. 
















Conheci uma mulher num país distante, era bela e serena e atravessava os dias, os meses, os anos com uma candura sábia de quem sabe que 1 dia também iria morrer, como tudo o que está vivo.

 No jardim, seu lugar preferido, sentada num banco de madeira, cuja cor já não se sabia. Ocupava-se a olhar as flores à volta com um vagar e o inverso de uma aparente displicência especial, para mim inteiramente incógnita, até hoje. Às vezes olhava o horizonte, às vezes levantava um pouco o rosto para o céu e aqui, era à noite que se demorava mais.

 Ao lado quase sempre um livro que a brisa desfolhava quando calhava. Ela parecia ler no ar as palavras que, entretanto, se evolavam das folhas.Parecia nunca usar as mãos e em vez dos braços talvez tivesse asas.

Nunca lhe perguntei nada acerca das artes destes gestos tão silenciosos como as pedras que rodeavam os canteiros. Houve alturas em que me viu olhá-la de longe estava sempre distante, no entanto eu sentia uma levíssima sensação fresca e inquietante, do lado agradável das novidades.Retrocedia para as minhas tarefas, o pincel, o papel, as cores do meu mundo.

 De vez em quando, amávamo-nos através dos corpos e parcas palavras. Adivinhávamo-nos através de olhares demorados que continham tudo o que os nossos seres confirmavam.


Um dia fui ao jardim, onde era o seu lugar e não a vi. Procurei-a por todos os cantos, mas apenas vislumbrei as flores, todas as flores debruçadas sobre si próprias exalando aromas mais intensos e os frutos maduros das poucas árvores a caírem um a um


J. A. M.

( Rascunho Nº 7)


6.7.20

~ 11º Pedaço de mais um diário perdido ~

" O meu pássaro. My bird. ( digital-art ). by: J. A. M. - 2020
























E tu, disseste-me:
tenho N estrelas nas mãos, tenho toda esta luz retida e não sei o que fazer.


Escutei-te, como quem é distante, Mas, eu estava ali. E, nada disse.
Deixei que o silêncio se alongasse até que tu tivesses, eventualmente, alguma necessidade de prosseguir.


Entretanto um bando de pássaros esvoaçam em círculos por cima. Ambos olhámos. Demoradamente olhámos.
E um silêncio cheio, despediu-nos.

- Até 1 dia destes.


J. A. M. 

( Rascunhio Nº 6 )