|
Pintura: J. A. M. |
1
Por vezes, alguém põe 1 dedo na ferida.
Quero dizer - alguém acorda a sombra geral
dos seus nomes
e os nomes mergulham nos ritmos do sangue
e logo as mãos crescem para os lugares
e os lugares crescem com elas
e depois, fica tudo mais Alto.
Há quem passe, olhe de lado e continue a sua
vida.
Outros há que passam e se detêm
por um pormenor mais chamativo.
2
Claro que todos os lados, todos os nomes
são pretextos. E os lugares também.
Nascemos e morremos por uma graça indomável
perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo
enquanto por dentro acordam & adormecem
as sementes povoadas pelos estranhos frutos
de uma sede sem fim.
3
Vozes e vozes que cantam a Vida e
o exemplo de milhares de sóis
mesmo sabendo-se que para outros olhares
há um abismo memorial nas cabeças
uma outra idade outra boca menos cercada
pelos dons dos dias na transformação dos corpos.
- J. A. M. in, “A Primeira Imagem”, Ed. Sol XXI,
Lisboa, 1998 -