29.4.09
26.4.09
a nossa ideia do Mundo
atravessa-nos inteiros como uma flecha sem dono
e num silêncio muito vivo sabemos
Salomé, sabemos como somos tão mortais.
25.4.09
Um povo macanbúzio burro de carga aguentando
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
in, Pátria,"Guerra Junqueiro,1896.
24.4.09
Discurso do Ministro da Educação do Brasil nos E.U.A.
Visão
São 5 H. da manhã e
por aqui é noite fechada
e um nó de silêncio ampara a visão
um astro ancorado nos olhos
diz "não"
a este Mundo medonho
das europas no estertor da doença
mais funda: a do espírito
que está a secar, sem
sem mais nada a dizer.
Não me venham com mais imagens
das glórias que se apagam
sobre os corações de pedra(s)
já sem vida.
Todos os Impérios desaparecem
em cada gesto hediondo, todos
os dias são assim-assim,
sem vocês, já darem por disso.
E a História, não está : Viva
nos livros, nos museus, por aí..
bem guardada em baús de cimento dourado
A História, quando está, prolonga-se
nos actos de quem sente
o dever & o direito
de lhe dar : outras Novas Luzes.
Estais a morrer, aos poucos
muitos de vocês já morreram, mas ainda
não o sabeis
é que, a questão, a verdadeira Questão é que
os nossos filhos talvez não tenham tempo
de resgatar tantas mortes erguidas como glórias.
A juventude ofusca-se ( vocês lembram-se?)
com as 1ªs luzes,
e não têm tempo para o tempo
que irão ter mais tarde.
Só Vocês, OH! Sr.s deste antigo & carcomido
lugar do Mundo
só alguns de vocês ainda
poderão reparar nas brechas
do Novo Sol, que já chegou.
Estejam atentos, pois o Tumulto já começou.
Não é tarde nem é cedo,
mas, nenhum mal se compadece
com tanta vã loucura, e
há 1 ponto nesta viajem
em que o mal se desmorona
e tudo já não poderá ter regresso
algum.