José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

25.7.16

O MEDO DA ROSA


 
Eu sei a rosa da cor da luz ao amanhecer o mundo, a primeira imagem antes de qualquer palavra, antes do verbo, era deus e a sua solidão era deus a sonhar a minha vaidade de o imaginar assim, na soberba imensidão vazia, que nunca foi.
- Sei como a rosa se levantou, pétala a pétala, no seu fulgor de luz errante, hilariante e como o seu esforço vai adiante.
Sei e claro que não sei, a cor da rosa, nem a imagem da própria rosa, nem esse deus nada assim, de que vos falo só para me libertar de mim e assim pressentir nas palavras que semeio, esta assustadora liberdade de ser humano.
 
(2007)

22.7.16

auto-retrato ~ self portrait



















( Foto: J.A.M.) 






&, no entanto há uma luz por aqui



&, no entanto
há uma luz
poisada no centro
do seu  silêncio de ser
só uma luz
Aberta
para fora
de si

- como se um pássaro esquecesse no voo
o peso das suas asas;

- como se a memória fosse uma trave esmorecida
na casa estagnado dos hábitos;

- como se, algo te chamasse & fosse uma voz cúmplice
no cálice mais translúcido do teu  corpo
onde o som maduro do silêncio
te chama - em chamas - alumiantes na cor
e tu estás longe ou perto nos olhos
divagados em ti


E então, nem o ouro
nem a prata


- por onde há-de uma Vida luzir?



(28-Set.2007)

What are your masters in the arts, artist?- Is the Nature.




















( Imagem construída: J.A.M.)

21.7.16

Ponta d’ Areia



Estou na ponta d’areia. Sentado. Á sombra, aí uns 20 e tal graus. O guarda-sol é cor de laranjas maduras e eis á minha frente o mar vivo e aceso. Do céu vários tons azuis luminosos descem suavemente sobre tudo o que é vida.
Á minha volta, o povo espraia-se finalmente no seu sábado.
As crianças vivem à solta por aqui, onde o mar deslaça dia-&-noite as suas ondas e elas, as crianças dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos saltos de quem está mesmo felizmente feliz. Há gazelas morenas, umas a seguir às outras, é difícil acompanhar com a devida atenção tantos ritmos ondulantes e belos, sob este sol de deus.
Passa alguém com uma caixa transparente pelo braço e leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas comidas que outros comerão, com certeza.
Olhando para trás, vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos a despontarem entre os verdes das árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá – dessas bandas, que chega até aqui aquela música popular, sempre a tocar as esferas do coração. Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
 
1 papagaio caiu, tombou mesmo agora a meus pés e reparo que é feito de plástico, que já foi saco de supermercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados e ainda mais agora, o menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvas sozinho com a  cauda louca sem tino esburacando o espaço, rodopia veloz e depois,,, cai outra vez no chão sólido do mundo e a criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.
A menina do bar, mini-saia de ganga boa perna, camiseta desabotoada, bandeja prateada na mão esquerda, já aviou mais umas cervejas Sol *a uns jovens que estão prá-li num forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas dos seus clientes.
Um bandozinho de pardais passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras & mesas azuis, vermelhas, brancas e cinzentas
e
desaparecem numa curva uníssona do tempo, o que é feito deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim ainda se regala a fazer jogos infindáveis com as cores do cenário.
Lá adiante, lá mesmo ao fundo, uma tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã irei a St.º António de Alcântara, por onde um touro passeia a sua estrela de cinco pontas na testa carimbada.
 
* marca de cerveja

 
(Estado do Maranhão. Brasil - 2007)