José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

7.5.18

onde o Sol é mais perto



Às vezes pego no bloco. Pego na caneta. Fico assim horas a fio a olhar para o a noite do céu, depois a incerta altura, desço
o olhar

1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite por detrás da sebe deste jardim há um chaparro com ramos ainda pouco rugosos onde a cortiça respira e cresce sem darmos por isso e as folhas todas juntas formam uma cabeleira que estremece & dança, muito espaçadamente, com a aragem que sopra dos lados do mar enquanto o algodão dos álamos dança no ar e uma sisão algures espalha as pautas.

De repente, a chuva parou.
Gotas de água escorrem de folha em folha e depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se abrem ao desejo da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que desce dos candeeiros. E são belas assim, nos seus verdes flamejantes contra as obscuridades à volta. Na superfície azulada de um pequeno lago provisório, estranhamente ondulado, está a lua estampadamente enorme.



( Algarve. Rascunho Nº218)
Foto: j. a. m.

25.4.18

Poema em saldo Nº 25



uma data que regressa
transparente à cabeça um sino
pendular nas cavernas do corpo
e então escrevê-lo é abrir as potências
do sangue, dos pés até à raiz
dos cabelos, deixar crescer
a vida circular dos dias
pelo silêncio poderoso
se fundamenta um olhar
um sonho uma estátua invisível
dentro da memória
ordena-se o esquecimento
mantendo sempre a respiração do Mundo
entre muitos e muitos horizontes.



( 1998)