José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

20.5.19

-.- o meu problema pessoal com as galinhas -.-



Estava no meu cadeirão anti-stress, enlevado sei lá em  quê se é que havia tal coisa quando me ocorreu - repentinamente - que afinal tenho uma incerta desavença, pacífica é claro, com as galinhas. Assim à 1ª a coisa não me parece ser grave, mas eu nunca tenho a certeza de nada. E já comecei a cacarejar justificações, até são uns bichos interessantes, quando estão a comer debicam algo no chão tão rapidamente que nem enxergo o quê e depois atiram as cabecinhas para o céu e estão nestas figuras amiudadas vezes. Nos inícios de tais observações eu olhava - imediatamente! - lá pra cima tentando vislumbrar o que era o alvo de tal curiosidade inopinada, pois eu quando como, habitualmente olho para o que está à frente do meu nariz e deixo os céus para as ocasiões místicas. Prosseguindo os já citados cacarejos, também gosto das suas penas, algumas mais, pois vê-se ali a mão da mãe-natureza o deslumbre da luz a desfazer-se em cores. Tive uma amiga artesã, das américas do sul salvo erro, que alimentava uma galinha com o intuito assumido de lhe arrancar apenas uma pena de vez em quando, para os seus colares & aquelas obras de arte que lhe davam o pão para a boca. É verdade! Também havia por lá 1 macaco pendurado nas traves da casa, que eram ramos grossos de uma acácia que lhe entrava por ali dentro para lhe oxigenar gratuitamente o ambiente. Uma vez estávamos eu e ela esparramados lá no seu jardim sem cercas que se prolongava por uma floresta a sério cheia de borboletas estonteadas e belos pássaros a esvoaçarem com as suas cores tudo junto era bom respirar ali, e então estávamos nós a fazer o nada e aparece o seu filho por aí nove anos se tanto, e deu-me uma lata de coca-cola transformada em cinzeiro para as cinzas do meu fogo no cigarro que ardia alheado disto tudo. O meu preconceito em relação à coca-cola é assumidamente enorme, mas a Brigite sentiu logo a coisa e explicou-me que era a maneira do menino me dizer que gostava de mim e como não tinha mais nada para brincar, costumava apanhar latas no lixo dos Sr.s lá em baixo na cidade e depois transformava-as no que lhe vinha à cabeça e ao coração e, sinceramente, aquilo era uma piquena obra de arte. Olhei para a criança como quem olha para um Deus e os seus olhos eram luminosos & felizes e eu,,,eu também fiquei feliz e com a voz embarcada num nó cego até às lágrimas que contive. A mãe sentiu tudo como só as mulheres sabem e ofereceu-me um chá que dividimos pelos 3.
Afinal, a bem dizer eu até gosto das galinhas, a maneira como se deslocam com as duas patas indecisas parecem sempre inquietas à toa, mas isso não passa de + uma perceção pessoal, pois suspeito que só vejo aquilo que sou e aí há que ter uma certa parcimónia nas coisas dos julgamentos, juízos de valor, essas lérias. 
São precisamente 5 h. & tal da noite e ainda estou pr'aqui com as minhas irmãs galinhas, que são muitas no meu quintal, sem medos dado que eu não as papo já faz um tempo que estou sentado à sombra de 1 pinheiro que também habita comigo ali no canto onde lhe deu para estar e dá-me pinhas às vezes pinhões que eu amontoo numa tigela azul & branca da dinastia Ming que tenho na cozinha, foi uma namorada chinesa mesmo da China que m´a deu, o pai era podre de rico, segundo ela, mas fiquei sempre na dúvida se a peça era realmente verdadeira ou não, mas como não ligo a tais valores, o que me agradou foi a sua beleza  singular. À superfície na epiderme colorida, o branco & os azuis entrelaçados como fios de cabelos ondulados parecem dançar uma música que julgo escutar às vezes, quando o silêncio à volta se fecha e estou muito dentro. Quando acumulo forças suficientes, pego nos tais pinhões às mãos cheias e quebro-lhes as couraças, um a um atentamente, com uma pedra de estimação que tenho sempre à mão de semear para ocasiões mais determinantes.
Depois desta ocasional divagação, retorno à cabeça da pescadinha de rabo na boca que agora com o tempo já é uma serpente a morder a cauda que dá veneno, que também pode ser remédio, tantas vezes se dá este caso há esotéricos que o dizem, e o que eu nesta realidade   pretendia dizer é que elas, as minhas amigas galinhas, têm uma relação íntima visceral com o Sol [1] que eu naturalmente também mantenho com todo o apreço deste mundo & dos outros, mas também gosto das estrelas e da lua e dos silêncios azuladamente brilhantes quando o são outras vezes nem por isso acontecem estas circunstâncias de 1 gajo estar ~ graças a Deus ~ a respirar mesmo vivo no meio destas montanhas onde o meu patrão sou eu não.


(Foz-Côa. Douro. Portugal)



[1] As galinhas a que me refiro, são umas felizardas parolas nas aldeias pois em relação às suas irmãs macambúzias & amordaçadas de todo (como os irmãos humanos) fechadas em infernos imaginados por desalmados, onde claramente desconhecem o que é a noite. Foi através do genuíno comportamento das 1ªs que surgiu o ditado popular: “fulano ou sicrano deita-se com as galinhas”. Isto é, esse alguém mal se põe o sol já está deitado a dormir, caso não sofra de insónias.
Interessante!  (ocorreu-me agora). Nos meus tempos de intelectual puro & duro, deu-me para estudar com muito afinco e múltiplas pesquisas no terreno, o pano de fundo ontológico destes animais, digamos assim, e nunca apanhei uma só galinha acordada ao lado da fileira em que se costumam organizar, mui meticulosamente, para meu espanto na altura.


Luz~Sun~Cbet~Crit~نور ~ 光 ~ Ukukhanya ~ Lumière ~ Lumo

تصوير : J. A. M.


















Mumford & Sons, Baaba Maal (There Will Be Time): https://youtu.be/eCIHPdx1OAs

19.5.19

sir Banksy, + uma vez?

A peça mostra uma criança-imigrante, a usar um colete salva-vidas e a segurar uma chama cor de rosa no ar.

-.-

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16.5.19

a Ciência das Ilhas ~ the Science of the Islands

Pintura: J. A. M. - 2015





















as Ilhas partilham um segredo com as árvores.
Todas têm as suas raízes entrelaçadas
no fundo
das águas.

onde ainda há peixes & pássaros a cantarem e
a encantarem a vida.

15.5.19

para os olhos de quem é mendigo à frente dos prodígios da vida

- Foto trabalhada. J. A. M. -

























de folha em folha os horizontes alongam-se para os olhos
de quem é mendigo à frente dos prodígios do Mundo.
Há sempre um nada absoluto em cada gesto, uma idade
e um peso de estrela a cair na sua luz até nós.

Olho à volta, agora esquecido de tudo e de súbito vejo-te
como esta frágil papoila a deambular pelos seus íntimos
sonhos coloridos.
Enquanto, a minha voz se perde no meio da luz que me dás.



in, " A Primeira Imagem", Ed. Sol XXI, Lisboa.1998 )

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Madrugada - Honey Bee: https://youtu.be/JQUNTJob078

coisas comuns

- Rio Minho. V. N. de Cerveira. Foto trabalhada: J. A. M. -



















há pessoas assim, chegam-nos sei lá de onde, instalam-se num lugar qualquer mais substantivo do nosso corpo onde ciclicamente amanhecemos e morremos e parece que as levamos connosco para todo os lados, sem darmos conta da leveza que nos dão.


E através do tempo, prolongamo-nos entre pensamentos, sentimentos e palavras anónimas em conversas mais íntimas, sem nada sabermos do que acontece e que importa?




(Julho-2007. Actualizado a 2019. Rascunho Nº 64)