Foto: J. A. M. |
Hoje,
para variar, meti-me ao caminho para norte e vim parar à Povoa do Varzim.
O
mar vivo e aceso, com o sol por cima, está a meu lado como um companheiro para
esta ocasional minha solidão, prazenteira aliás.
Nesta esplanada onde os sons das ondas se debruçam em cascatas iluminadas para dentro
dos ouvidos dos olhos e a bem dizer, para o corpo todo.
Saio
de mim
e
reparo num barco de velas no alto mar, parece transparente segue um percurso e
agora atravessa a luz espelhada na água pelo sOl e parece desaparecer
definitivamente. Como é tão belo saber esta luz por fora e por dentro o reflexo
direto e verídico das leis da Natureza em Tudo se demonstram.
A Maria, empregada de Pernambuco, estou
cá há duas semanas que me serve as estrellas (1), tem
um ar graciosamente sensível, ondula a sua maravilhosa bunda por entre as mesas e a
simpatia dos clientes que surgem como cogumelos neste fim de tarde Alguns destes amigos vêm do trabalho e falam
alto entre eles, como se tivessem muitas coisas adiadas para dizerem. Outros
mais cansados aparentemente, agarram-se com afinco aos telemóveis e
vice-versa & também ficam presos a uma atenção tão demorada
que me deixa derrotado, mas logo recupero.
O copo amarelo da cerveja, os tremoços também amarelos, ambos juntos bem
equilibrados em cima do corrimão branco da varanda com minúsculos espelhos,
onde os azuis do mar se refletem e parecem criar um outro mar. E a
sinfonia dos maravilhosos sons das ondas torna-se mais aLta, d´encontro aos meus 2 ou
200 ouvidos expectantes. E, por momentos torno-me o Cego do Maio, sem me entender.
E
o tal barco, feito de nevoeiro e magia voltou ao início e este início é a
forma de uma ilha a flutuar entre as
águas longínquas e um horizonte difuso e o barco desliza agora outra vez no
mesmo caminho outro.
- Maria, já reparou naquele barco além?- Desculpe, sr., mas não vejo barco algum.
Entretanto: o jantar, algo comestível com um “Cabriz”(2), mas quanto ao prego
no prato a parte da carne nem se via praticamente que o digam os talheres.
Como só consumo cadáveres raramente, não houve problema de maior, embora tenha
assinalado a “gravidade do lapso” ao empregado que fez a fita de se
mostrar servil, nem era preciso tanto pensei eu para com os
meus botões, depois de um sorriso q.b.
compreensivo & implicitamente altaneiro de cliente de fora, para
estar de acordo com o teatro.
Entre tanto ar tudo escureceu, nem horizonte, nem gaivotas, apenas umas
luzinhas dispersas são barcos de pesca nesta zona ainda são possíveis
embarcações pequenas onde meia-dúzia de pescadores salvam muitas fomes e
apetites nos pratos dos restaurantes à beira-mar plantados à espera dos lucros,
obviamente, venham os turistas, por aqui ainda há peixe fresco, serviços
baratos, aproveitem que 1 dia destes nunca se sabe, até quando?
E
eis-me então agora no laço final: café curto & Jack Daniel`s,
com uma pedra. De gelo, feito com água da Serra da Estrela, gosto de saber
estas coisas.
Antes de me ter despedido do local, ainda olho + uma vez para o tal barco, parece sempre parado antes de o fixar, o barco e a sua viajem, agora é uma visão ou alucinação diferente e entre este e as águas que o transportam não há intervalo que se vislumbre tudo é uníssono e caminha através de um tempo metafórico que 1 dia destes talvez venha a saber.
As
novidades dos novos tempos aproximam-se já chegaram, tudo começa a ser um outro
modo de olhar, de estar vivo e aceso.
(1) cerveja da Galícia ( España).
(2)
vinho da zona do Dão, Portugal.
(Inicial: Out.
2018)
Rascunho Nº27