28.2.10
27.2.10
SOL DI MANHÃ
- "Ouvi dizer" que o Paulino Vieira se chateou mesmo com as máfias instaladas nos mundos - das-artes- das - músicas - tb - e então retirou-se para se concentrar no ( seu ) essencial.
Continua a criar, claro, mas muito menos contaminado. Ainda há criadores assim. 1 abraço -
25.2.10
24.2.10
20.2.10
6.2.10
3.2.10
2.2.10
Série : O(s) GRITO(s)
Texto Escrito por Mário Crespo que foi censurado pelo Jornal de Noticias dia 1 Fevereiro de 2010
Título: O Fim da Linha
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
1.2.10
- a meu pai -
Nasci a 13 de Maio, a uma sexta-feira, e o meu pai partiu para outro mundo num dia 14 de Maio. Tenho a impressão, que apesar de moribundo, aguentou aquilo para, mais uma vez, não me fazer qualquer desfeita. O meu pai era assim: sensível às pessoas e muito atento ao seu filho. Também lhe agradeço este último gesto a selar toda uma vida de dedicação e amor, como pai, amigo e ser humano.
Ontem, às tantas da noite, quando me bateram á porta tão tarde, fiquei um pouco intrigado. Ia já de braço em riste para o puxador, quando vejo o meu pai já dentro de casa, com o seu ar circunspecto e um sorriso levemente matreiro de quem vê alguém com uma cara de espanto sem solução á vista.
-”Então Gé, como vai isso?”Falou-me no mesmo tom e com as mesmas palavras que ouvi N vezes, como quem pergunta:” Então filho, como vai essa Vida”.
-”Tá indo bem”, disse-lhe enquanto o olhava nos olhos para confirmar o que dissera. Lembrei-me que muitas vezes, quando ele estava deste lado, eu nem sempre era mesmo sincero, embora a resposta fosse sempre igual. Mais tarde percebia que não o tinha convencido. Conhecia-me de ginjeira.
-”Entre, sente-se ali no sofá. Toma alguma coisa?”.
-“Não, bem-hajas, agora não preciso de tomar nada, mas vamos lá até ao sofá”.
Sentámo-nos lado a lado, enquanto eu o olhava de soslaio verificando que continuava com os seus gestos pousados a reflectirem um sossego interior muito raro, nos dias que correm. A conversa facilmente desembocou, como não poderia deixar de ser, para os lados da Vida e da Morte. Demorámo-nos entre frases, sorrisos e silêncios só nossos a falar das coisas que só as palavras permitem. Depois, quando o dia já se começava a misturar na sala e a realidade daquilo tudo parecia demasiada e também já sentíamos ter esgotado o que nos ia na alma, o meu pai levantou-se, pôs-me uma mão no ombro e com um ar vagamente satisfeito, murmurou:
- “pareces cansado, não estás a precisar de ir dormir?”.
-“É, talvez sejam horas”, e levantei-me também dando-lhe uma palmada afectuosa nas costas. Dirigimo-nos para a porta que abri muito lentamente e quando me voltei para nos despedirmos com o abraço habitual de antigamente, eu estava ali, completamente sozinho.
(texto re+escrito. A 1/Fev./2010)