Palavras, Palavras, Por
Vezes
Palavras,
palavras, por vezes cansado das palavras fico completamente à escuta parado por
dentro, vazio, virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta aos
sons que passam. E é então que ouço o sol a cobrir as formas do Mundo, o
coração dos universos a bater como um pêndulo maduro, os mares a respirarem lá
no fundo, a beleza epidérmica das coisas sem nomes a vida total a pulsar sem
eira nem beira.
E
então, vejo que nada em mim é apenas o que sei e sinto, nada em mim é apenas
uma ilha a sonhar horizontes de palavras, nada disto tudo faz sentido, sem o
céu e a vastidão da Terra com sementes e as plantas e as flores e as árvores e
os frutos e as pessoas a encherem os dias e as noites.
Depois regresso. Olho, só por olhar. E tudo à minha
volta é mais.