O
silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite abre as flores do
coração curva os sons que tem sempre à mão e o tempo habita-nos mais ao
sabermos nos olhos as sombras que se despedem das árvores onde os pássaros
acolhem os primeiros tons do dia sob o lençol verde às tantas da manhã pelas
cinco e tal ou quase assim começam a
sinfonar uma visão acesa para quem esmorece ainda é cedo ainda há o segredo de
haver um mundo contudo sagrado.
27.2.17
o silêncio serpenteia-se nas ondas
21.2.17
Plateau
~ Dedicado ao meu amigo Victor Mendes ~
Uma
mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de
verde, no jardim. Ao lado um Sr. de camisa & calças vermelhas, também
sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda.
O
sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado,
será que vai chover?
Passam
mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em
direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito
discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega
naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas esta fé lá no fundo
terá algum nº de porta?
No
jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já
não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos
dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem
quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e
até encantam as flores sonolentas à volta.
Volto
a dar 1 longo passeio. No mercado tudo são cores que se mexem. E volto ao
lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não se
rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o seu
modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno sol
de dentro, e o que é que eu terei haver com isto?
Passam
mais meia-dúzia de moços coloridos, todos alegres, entretidos com eles
próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante
na estrada ao lado, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente
grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante,
adiante que é sempre cedo para se ser feliz.
José Alberto Mar
José Alberto Mar
Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia – 2008 (alterado a Fev.-2017)
COISAS COMUNS
há pessoas assim, chegam-nos sei lá de onde, instalam-se num lugar qualquer mais substantivo do nosso corpo onde ciclicamente amanhecemos & morremos e parece-me que as levamos connosco para todo os lados, sem darmos conta da leveza que nos dão.
E com o tempo, prolongam-nos entre palavras anónimas nas conversas mais íntimas, sem nada sabermos do que acontece e que importa?
Atravessado pelo zen
e... meus amigos: o ar dentro das gaiolas está engaiolado?
eu conto-vos: para meu espanto, algo realmente aconteceu e fiquei perplexo :
várias vezes o ar se tornou mais leve e aí as palavras que escrevia eram sombras estranhas & quando o silêncio pesava 1 poukíssimo mais, inventava à sorte outros sons: kaziar, ooom, latuuda, maçala, tarugui,lubeduma, mucussueje.... etecetera
no próprio ato da busca retornava ao silêncio vivo onde as mãos lembravam somente algo que se eleva
e levanta o ar
e levanta o ar
soprando nas gaiolas risos criativos.
A bem dizer eu só estava ali, para aprender a estar.
17.2.17
16.2.17
14.2.17
Sei lá
Estremece a estrela que vive naturalmente aberta
à escuridão & nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias
há tanta vida mecânica
Vejo nos gestos o silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
Set.
- 2009
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