29.4.19
25.4.19
Palavras, palavras, por vezes
Obra: J. A. M. |
Palavras, palavras, por vezes
cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por dentro, parado,
virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta aos sons que
passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o grandioso coração dos universos
a bater como um pêndulo maduro, a água no corpo como os oceanos a respirarem lá no fundo, a beleza epidérmica das coisas sem nomes, a vida
total a pulsar sem eira nem beira.
E então, vejo que nada em mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha a desenhar horizontes de
palavras, nada disto tudo faz sentido, sem a luz e a vastidão da Terra com
sementes e as plantas e as flores e as árvores e os frutos e as aves e as pessoas a
encherem-nos os dias e as noites.
(1987?)
24.4.19
pequenas sabedorias
Obra: J. A. M. |
à volta, as coisas da humanidade,
seres humanos, árvores, flores, aves, água horizontalmente azul, a música do silêncio que desflora o ar como ramos que
se erguem para os céus e depois,
curvam-se com o peso alentado do mundo,
demonstram-se assim os simples milagres do que é sempre impermanente.
demonstram-se assim os simples milagres do que é sempre impermanente.
( Agosto-2011)
22.4.19
no deserto do Saara
Foto : J. A. M. |
trata-se
genericamente de pontos de vista como outros quaisquer cada um vê à sua altura
e nem há alturas mais +, nem desalturas.
Estamos todos numa viagem aparentemente longa, um homem com pressa é um homem morto,
eis um ditado de gentes apaziguadas entre si & a vida nos desertos por aqui
há tempo para tudo é Tudo pois o céu é amplo e os horizontes são eternamente
demorados no presente, o tal tempo que foi expulso dos dias & das noites
por aquelas bandas Ocidentais por onde desandam os macakóides a correrem
sozinhos cada um com a sua meta & o descalabro dos seus desígnios impostos
& aceites como únicos,
quando
por vezes acontece passarem ao lado, por exemplo, das árvores que já não
enxergam, elas abanam desconsoladas as suas cabeleiras e por vezes até criam ditirâmbicas alianças com as aragens e
assobiam fraternalmente, mas qual quê moucos de todo.
Quem
os convenceu de que sozinhos vão a qualquer lado?
14.4.19
Imagens Afundadas na Memória ( 15º)
Nazaré. Foto: J. A. M. |
Como um navio deixa nos olhos uma sombra em movimento
o mundo é um cais iluminado só por um lado crescem as raízes
das estrelas que os dedos só sonham apesar das palavras agora
falo-te assim como um navio que vai de imagem em imagem,
lentíssimamente, atravessando um instante sempre atrás de outro
o tempo é uma água calada que não pára de navegar.
( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998)
11.4.19
~ Imagens Afundadas na Memória ( 13º) ~
Obra: J. A. M. |
Pega-se no nome: Mundo.
E em cada letra o som de uma estrela madura estremece a língua
que diz: M u n d o
como se os sons nos encaminhassem
para uma casa longínqua.
Mundo por dentro e por fora apenas o nome
que enche um lugar de dúvidas e dons.
( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, Lisboa-1998)
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