José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

29.4.19

Parece-me que quem assim respira talvez possa encontrar

Obra: J. A. M. 


Mais uma viagem aproxima-se caminho lentamente
para o barco desamparado nas águas,
ao lado
as redes rendilhadas & frágeis do Mundo.

Como um simples sopro tento apenas
ser o seu alento.

Parece-me que quem assim respira
talvez possa encontrar.


(26-Julho-2008/Alterado em Abril-2012)

25.4.19

Palavras, palavras, por vezes

Obra: J. A. M.


























Palavras, palavras, por vezes cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por dentro, parado, virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta aos sons que passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o grandioso coração dos universos a bater como um  pêndulo maduro, a água no corpo como os oceanos a respirarem lá no fundo, a beleza epidérmica das coisas sem nomes, a vida total a pulsar sem eira nem beira.
E então, vejo que nada em mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha a desenhar horizontes de palavras, nada disto tudo faz sentido, sem a luz e a vastidão da Terra com sementes e as plantas e as flores e as árvores e os frutos e as aves e as pessoas a encherem-nos os dias e as noites.


(1987?)

24.4.19

pequenas sabedorias

Obra: J. A. M. 















à volta, as coisas da humanidade, seres humanos, árvores, flores, aves, água horizontalmente azul, a música  do silêncio que desflora o ar como ramos que se erguem  para os céus e depois, curvam-se com o peso alentado do mundo,
demonstram-se assim os simples milagres do que é sempre impermanente.


( Agosto-2011)

made in Portugal

Obra : J. A. M. 

22.4.19

no deserto do Saara

Foto : J. A. M.



























trata-se genericamente de pontos de vista como outros quaisquer cada um vê à sua altura e nem há alturas mais +, nem desalturas.
Estamos todos  numa viagem aparentemente  longa, um homem com pressa é um homem morto, eis um ditado de gentes apaziguadas entre si & a vida nos desertos por aqui há tempo para tudo é Tudo  pois o céu é amplo e os horizontes são eternamente demorados no presente, o tal tempo que foi expulso dos dias & das noites por aquelas bandas Ocidentais por onde desandam  os macakóides a correrem sozinhos cada um com a sua meta & o descalabro dos seus desígnios impostos & aceites como únicos,
quando por vezes acontece passarem ao lado, por exemplo, das árvores que já não enxergam, elas abanam desconsoladas as suas cabeleiras e por vezes até  criam ditirâmbicas alianças com as aragens e assobiam fraternalmente, mas qual quê moucos de todo.

Quem os convenceu de que sozinhos vão a qualquer lado?

14.4.19

Imagens Afundadas na Memória ( 15º)

Nazaré. Foto: J. A. M.


















Como um navio deixa nos olhos uma sombra em movimento
o mundo é um cais iluminado só por um lado crescem as raízes
das estrelas que os dedos só sonham apesar das palavras agora
falo-te assim como um navio que vai de imagem em imagem,
lentíssimamente, atravessando um instante sempre atrás de outro
o tempo é uma água calada que não pára de navegar.


( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998)

11.4.19

~ Imagens Afundadas na Memória ( 13º) ~

Obra: J. A. M.


Pega-se no nome: Mundo.

E em cada letra o som de uma estrela madura estremece a língua
que diz: M u n d o
como se os sons nos encaminhassem
para uma casa longínqua.
Mundo por dentro e por fora apenas o nome
que enche um lugar de dúvidas e dons.



( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, Lisboa-1998)