Obra: J. A. M. |
Palavras, palavras, por vezes
cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por dentro, parado,
virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta aos sons que
passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o grandioso coração dos universos
a bater como um pêndulo maduro, a água no corpo como os oceanos a respirarem lá no fundo, a beleza epidérmica das coisas sem nomes, a vida
total a pulsar sem eira nem beira.
E então, vejo que nada em mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha a desenhar horizontes de
palavras, nada disto tudo faz sentido, sem a luz e a vastidão da Terra com
sementes e as plantas e as flores e as árvores e os frutos e as aves e as pessoas a
encherem-nos os dias e as noites.
(1987?)
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