Foto trabalhada. Autor: J. A. M. |
era Primavera [i]
e havia papoilas espalhadas pelos campos são seres com as pétalas como asas de
borboletas, finas, frágeis esvoaçantes quando pressentem qualquer brisa.
Ao
longe, parecem gotejar sangue nos verdes prados empolgadas pelo sol.
Por onde eu
caminhava, á deriva, mas com o intuito de descobrir repentinamente um outro
mundo inteiramente desconhecido.
Mas, ia-o
conhecendo aos poucos, aparecia-me uma árvore frondosa: um carvalho, um ulmeiro,
um choupo de onde se soltavam farrapos informes de algodão que me atapetavam o
chão.
E eu reparava como
aquilo já era algo de novo na minha pressa dos milagres repentinos.
Debruçava-me sobre estas minúsculas coisas, e descobria que – afinal – estava
já a viver o que ainda não sabia estar a acontecer.
Parava. Não sei se
refletia ou se me esquecia. Deitava-me sobre as ervas verdes ao lado das
papoilas, com o céu por cima.
Estava mais em mim
e dentro do que á minha volta me tocava. Havia alturas em que desconhecia os
pássaros metafóricos em visita à minha própria alma.
E o frenesim
inicial da caminhada, apaziguava-se com a candura que me surgia por todos os lados. Pois,
dentro e fora tudo é o mesmo.
E, quando chegava
a casa estava remediavelmente perdido nas horas dos outros. Nem tinha ouvido o
sino da Igreja. Chegava normalmente tarde
e a más horas.
Mas os meus pais
eram pacientes e compreensivos e olhavam-me como alguém que regressava á sua morada,
sempre pela primeira vez.
( J. A. M. )
- Rascunho Nº 4 -
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