José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

31.8.22

Conheci uma mulher num país distante

Pintura: J. A. M.

Conheci uma mulher num país distante, era bela e serena e atravessava os dias, os meses e os anos com uma candura sábia de quem sabe que 1 dia também iria morrer, como tudo o que está vivo.

No jardim, seu lugar preferido, sentada num banco de madeira, cuja cor já não se sabia. Ocupava-se a olhar as flores à volta com um vagar e o inverso de uma aparente displicência especial, para mim inteiramente incógnita, até hoje. Às vezes olhava o horizonte, às vezes levantava um pouco o rosto para o céu e aqui, era à noite que se demorava mais.

Ao lado quase sempre um livro que a brisa desfolhava quando calhava. Ela parecia ler no as palavas no ar que se evolavam das folhas. Parecia nunca usar as mãos e em vez dos braços talvez tivesse asas.

Nunca lhe perguntei nada acerca das artes destes gestos tão silenciosos como as pedras que rodeavam os canteiros. Houve alturas em que me viu olhá-la de longe estava sempre distante, no entanto eu sentia uma levíssima sensação fresca e inquietante, do lado agradável das novidades. Retrocedia para as minhas tarefas, o pincel, o papel, as telas, as cores do meu mundo.

De vez em quando, amávamo-nos através dos corpos e parcas palavras. Adivinhávamo-nos através de olhares demorados que continham tudo o que os nossos seres confirmavam.

Um dia fui ao jardim, onde era o seu lugar e não a vi. Procurei-a por todos os cantos, mas apenas vislumbrei as flores, todas as flores debruçadas sobre si próprias exalando aromas mais intensos e os frutos maduros das poucas árvores a caírem um a um.

J. A. M.


 

29.8.22

"não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores"

Pintura: J. A. M.













Alguém disse já não me recordo, pois foi num campo de batalha e o ribombar das bombas e dos seus ecos na altura, faziam-nos surdos. A outros, faziam-nos cegos. A outros ainda, faziam-nos mortos.
Mas a frase em questão, no meio daquele inferno encantou-me o lugar e por momentos caí num silêncio sem tempo, que me trouxe a casa de meus pais, longe muito longe, onde havia um jardim.
E a frase era assim: não corras atrás das borboletas, cuida antes das tuas flores que elas virão até ti (1).

Ainda hoje passados anos, por vezes em dias ou noites em que tudo parece estranhamente desolador, me acontecem imagens bem nítidas que esta frase levanta à frente do meu olhar.
E então, algo em mim se transforma e tudo à minha volta também. E um sorriso leve e doce aflora por dentro.


(1) frase atribuída, a D. Elhers, em tradução livre.

26.8.22

Exposição de Pintura: REFLEXOS da FONTE.

“Mais uma vez, se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário - e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida. (…)”

( Sofia Moraes)


( "Clube Prova D´Arte". Evento promovidado pelo Espaço QuadaSoltas )




 

19.8.22

Universos Paralelos

Pintura: J. A. M.

Escuta o silêncio. Como se fosse o mar.
Onda a onda cada pensamento é nuvem.

Voltemos ao centro. Onde gravitas como
alguém que procura
mas apenas poderás encontrar.

(2022)

10.8.22

olhos nos olhos


Obra: J. A. M. . Mulher.














tu cresces e eu cresço quando

algo cresce de novo entre nós.


Olhos nos olhos

uma desconhecida  Luz dialoga.