José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

21.7.24

Desisti da arte da cegueira

Pintura: J. A. M.

 

Depois de vários anos em sobressalto, de pergunta em pergunta: fecho a arte do alvo e das setas. Desisti da arte da cegueira.
Porque afinal o olhar apenas vê os exílios cintilantes, os que decidem florescer pelo lado de fora.
Agora procuro escutar o dom dos desejos que veem das nascentes do coração. 
Inclino-me perante os dias e a luz entrega-me os seus segredos. Os  2 olhos ampliam as (suas) margens. As margens do Grande rio. E o olhar materializa pontes transparentes. E a  vida acontece. E o fluxo permanece.
Deixo nas palavras apenas um rasto como um refúgio que me apazigua.


( J. A. M.)

 

19.7.24

"Monte Cara"

Foto. J. A. M. 

 

Os ramos das palmeiras ao sabor da leve brisa
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.

Feliz escureço, o olhar à procura
da lua, esse vaso de luz
onde uma das luas se deita
e então eu sou, a sombra pousada
dessa luz alheada.

 

(Cabo Verde. Ilha de São Vicente. Mindelo)

 

12.7.24

passeio a dois

CAMINHOS. J. A. M.

 

Era uma paisagem feita de distâncias, sons longínquos de um mar que apenas se pressentia e o leve aroma de flores silvestres que amadureciam o luar.
Caminhávamos com as mãos dadas e os rostos prolongados algures no fundo do silêncio de cada um.
De vez em quando, inesperadamente, olhávamo-nos e criavam-se pontes que pareciam surgir de outros mundos. Não havia palavras.
Depois tudo voltava a parecer normal.

Eram as paisagens que entravam em nós, e nós propriamente dito, apenas deambulávamos como dois espelhos transparentes.


( J. A. M.)

 

3.7.24

O eco do "Grito"

O eco do "Grito". Pintura. J. A. M.

Vinham de longe. Eram aves prematuras.
Ainda com as chamas das florestas extintas. Nas asas
a esperança nos homens aturdidos pelos dias presentes.

Sinais que desembocam nos olhares de quem ainda insiste em estar vivo.
E somos muitos.


( J. A. M. )