José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

30.8.24

SERES COMUNS

SERES ESTRANHOS. Pintura. J. A. M.

há pessoas assim, chegam-nos sei lá de onde, instalam-se num lugar qualquer mais substantivo do nosso corpo onde ciclicamente amanhecemos e morremos e parece que as levamos conosco para todos os lados, sem darmos conta da leveza que nos dão. 

E através do tempo, prolongamo-nos entre pensamentos, sentimentos e palavras anónimas em conversas mais íntimas, sem nada sabermos do que acontece e que importa?


( J. A. M.)

20.8.24

Quanto demora uma idade a ser luz?

As Janelas da minha alma. J. A. M.

 

Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho que o sol, atento a tudo onde há vida, lhe oferece no mesmo instante e depois há quem veja logo ali um presente, ou há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por perto no seu ocaso indiferente a tudo isto.
      Os hábitos escravizam, tornam-nos cegos.
    Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.
     Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.
    E por aqui os diamantes não têm quaisquer preços, são iluminadas fontes metafóricas, criadas pela infindável sede que habita os profundos lençóis da Terra. E das pessoas, também.
  

- Quanto demora uma idade a ser luz?


  (Ourique. Alentejo. Portugal)

 

P.S. texto do Livro de Contos Lusófonos: O OURO BREVE DOS DIAS.


( J. A. M.)

16.8.24

os jardins reinarão e no final haverá deuses

Pintura. J. A. M.

 
Solitário e caído como a chuva, quero erguer
as florestas ressoadas ao longe, o manso som
dos camelos no deserto, pela noite adiante
até que enfim, os jardins reinarão
e no final haverá deuses.

E, no entanto, há um olhar derradeiro no fim das visões
tudo o que é felicidade começa e acaba por uma torrente
vou dizendo, vou tentando entrar pelo lado
mais surdo onde estás adormecido, morto de todo
e eis, o meu fiel cantar, a casa liberta, a estrela livre
o espírito aberto, e eis que aclamo: o teu sol total
a luz íntima e simples desse fim
onde já moras sem margens sem caminhos
sem paz nem alegrias
alternando as rosas e os espinhos
quando acordas. Quando?

Já não estás vivo, e ambos o sabemos, agora só imagens
por fora, só pontes rios e ecos enchem as cabeças
ressoam ao longe pelas noites onde vives esquecido
e depois?
Um dia destes partes para outra luz
cheia de escuridão negra, luz assim ressurgida
desde o princípio dos homens, desde o início da Terra
entre os Sr.s e os seus povos escravizados.
 
Vamos um dia destes unir os abismos da sabedoria?
Vamos ao silêncio dourado, vamos celebrar?
Vamos quebrar, a constante unanimidade das fontes secas?




( J. A. M. )


 

 

 

 


15.8.24

Poesia ta liga nôs koraço

Pintura. J. A. M. 

flores secas de buganvílias de várias cores rodopiam pelo chão.
Um sopro morno aproxima o mar.
E as folhas das palmeiras afastam as nuvens.

O sol regressa
e as pupilas voltam a ser barqueiros.



( Cabo Verde. Agosto-2024)