23.11.16
22.11.16
eixos & volantes
pobres seixos ambulantes
aos ziguezagues tantos tontos
perantre as luzes ke não enxergam
mas, lá no fundo de si próprios
há uma vela acordada assistindo
insistindo
aos desalmados ventos ke inventam
onde respiram, circulam & carambolam.
(Set. 2010)
30.10.16
19.10.16
A Poesia
Entre o alimento vermelho da carne sorumbática
uma veia de ouro única. Poesia.
É preciso encarnar o corpo anónimo
saber estar atento
para quando o excesso do ouro
cega as flores á superfície.
Aliciadas pelo perfume as mãos impacientes
recolhem sob a cegueira o brilho primeiro
e expõem á vida a escura transparência de uma voz
transbordada pelas imensuráveis dimensões evocativas
o corpo o mundo os universos
e os restos de poeira sobre a epiderme das coisas.
( in, " O Triângulo de Ouro , Ed. Justiça e Paz, 1988)
Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores-
1997.
29.8.16
1.8.16
A Bula
~
É com muito gosto que coloco como introdução , um link de - A Bula -, secção do jornal on-line "Correio do Porto" (http://www.correiodoporto.pt/) dirigido por Paulo Moreira Lopes, onde participo com 6 poemas e um texto-poético, a convite deste.
Os poemas têm uma bela ilustração da minha colega de artes Fernanda Santos.
~ Obrigado Paulo M. Lopes e equipe do Correio do Porto ~
31.7.16
por uma unha negra
Foi um tempo obscuro, escuro, mesmo negro. Atravessei-o
com a juventude espalhada pela idade e todos os mundos que podia a encherem-me
a alma até às marcas afloradas na pele. Por vezes, pensava que enlouquecia e
então abrigava-me nas casas do silêncio á espera de escutar o fio tremeluzente
da minha voz mais íntima. Outras vezes, saía pelo mundo fora, á procura de mais
dias & mais noites umas a seguir ás outras como primaveras que se devoram
com muitas flores vivas a saltarem pela boca, pelos olhos, pelo corpo inteiro e
esburacado. Conheci gente, pessoas, corpos habitados por alguém, outros nem por
isso, cheguei a conhecer os mortos que continuam por aí, de um lado para o
outro, como imagens atrapalhadas adiarem sei lá o quê. Também, confesso,
cheguei a ser tocado por alguns seres humanos que me deram minúsculas estrelas
duradoiras, muitas vezes sem eu dar por isso. Ainda hoje as guardo, como pedras
preciosas, soltas entre os seixos das minhas margens.
Foi um tempo de
procuras, em que passei por pontes & pontes e nem sequer as via nem os rios
dedicados aos seus mares, nem os lugares de um lado e do outro, por onde
gastava o meu destino possuído pela dourada cegueira da juventude e por todos
os copos de veneno que encontrava. Vi alguns amigos caírem para o interior de
uma luz que nunca mais os largou, foram assim sozinhos para longe e nuncanunca
mais.
Após muitas
paisagens, comecei a ver que tudo à minha volta eram imagens que se soltavam de
dentro de mim, onde eu não era chamado para o caso, nem propriamente ninguém,
mas no fim de contas todos estávamos lá: pessoas, animais, plantas, pedras,
mundo, vida e todos os universos conhecidos e por conhecer.
Comecei a olhar mais
a luz, a luz claramente acesa, a primeira que vem de dentro das pessoas e das
coisas e descobri um centro que não é centro nenhum, apenas me desloco, despido e nu, de centro em centro, no mapa circular da minha idade.
Sempre, com 1 deus
presente em tudo e o amor íntimo e distante pelo que passa por mim.
(2006)
27.7.16
26.7.16
Onde o Sol é mais Perto
Às vezes pego no bloco. Pego na
caneta. Fico assim horas a fio a olhar
Depois
desço o olhar1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite deste jardim
por detrás da sebe da casa há um sobreiro com ramos rugosos onde a cortiça respira & cresce sem darmos por isso e as folhas todas juntas formam uma cabeleira que estremece e dança, muito espaçadamente, com a aragem que sopra dos lados do mar.
De
repente, os repuxos calaram-se. Gotas de água escorrem de folha em folha e
depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se abrem ao desejo
da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que desce dos candeeiros. E são
belas assim, nos seus verdes flamejantes contra as obscuridades à volta. Na
superfície azulada da piscina, estranhamente ondulada, está a lua
estampadamente enorme.
25.7.16
O MEDO DA ROSA
- Sei como a rosa se levantou, pétala a pétala, no
seu fulgor de luz errante, hilariante e como o seu esforço vai adiante.
Sei e claro que não sei, a cor da rosa, nem a imagem
da própria rosa, nem esse deus nada assim, de que vos falo só para me
libertar de mim e assim pressentir nas palavras que semeio, esta assustadora
liberdade de ser humano.
(2007)
22.7.16
&, no entanto há uma luz por aqui
&, no entanto
há uma luz
poisada no centro
do seu silêncio de ser
só uma luz
Aberta
para fora
de si
há uma luz
poisada no centro
do seu silêncio de ser
só uma luz
Aberta
para fora
de si
- como se um pássaro esquecesse no voo
o peso das suas asas;
- como se a memória fosse uma trave esmorecida
na casa estagnado dos hábitos;
- como se, algo te chamasse & fosse uma voz cúmplice
no cálice mais translúcido do teu corpo
onde o som maduro do silêncio
te chama - em chamas - alumiantes na cor
e tu estás longe ou perto nos olhos
E então, nem o ouro
nem a prata
- por onde há-de uma Vida luzir?
(28-Set.2007)
What are your masters in the arts, artist?- Is the Nature.
21.7.16
Ponta d’ Areia
Estou na ponta d’areia.
Sentado. Á sombra, aí uns 20 e tal graus. O guarda-sol é cor de laranjas
maduras e eis á minha frente o mar vivo e aceso. Do céu vários tons azuis
luminosos descem suavemente sobre tudo o que é vida.
Á minha volta, o
povo espraia-se finalmente no seu sábado.
As crianças vivem à
solta por aqui, onde o mar deslaça dia-&-noite as suas ondas e elas, as
crianças dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos
saltos de quem está mesmo felizmente feliz. Há gazelas morenas, umas a seguir
às outras, é difícil acompanhar com a devida atenção tantos ritmos ondulantes e
belos, sob este sol de deus.
Passa alguém com uma
caixa transparente pelo braço e leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas
comidas que outros comerão, com certeza.
Olhando para trás,
vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos a despontarem entre os verdes das
árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá – dessas bandas,
que chega até aqui aquela música popular, sempre a tocar as esferas do coração.
Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
1 papagaio caiu,
tombou mesmo agora a meus pés e reparo que é feito de plástico, que já foi saco
de supermercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados e ainda mais agora, o
menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvas sozinho
com a cauda louca sem tino esburacando o
espaço, rodopia veloz e depois,,, cai outra vez no chão sólido do mundo e a
criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.
A menina do bar,
mini-saia de ganga boa perna, camiseta desabotoada, bandeja prateada na mão
esquerda, já aviou mais umas cervejas Sol *a uns jovens que estão prá-li num
forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas
dos seus clientes.
Um bandozinho de
pardais passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras
& mesas azuis, vermelhas, brancas e cinzentas
e
desaparecem numa
curva uníssona do tempo, o que é feito
deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim ainda se regala a fazer
jogos infindáveis com as cores do cenário.
Lá adiante, lá mesmo ao fundo, uma
tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã
irei a St.º António de
Alcântara, por onde um touro passeia a sua
estrela de cinco pontas na testa carimbada.
* marca de cerveja
17.7.16
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