já a noite tinha sido iniciada, os pescadores
juntos sentados calados curvados olhavam presos por um fio emaranhado de leves
& ondulantes pensamentos o horizonte, como quem lia 1 texto antigo.
Entretanto as nuvens de um lado para o outro,
fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente
diferentes. Nada se cruzava & tudo estava unido. Os barcos continuavam a
balançar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco
longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
E os pescadores aguardavam como quem espera e
também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam
por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso junto ao
aconchego do útero.
Os pescadores, disse-me um dia um amigo
vagabundo nas viagens, viraram estátuas fixas e ali estancaram para o gáudio
dos turistas que acudiam aos magotes e as crianças agora pediam moedinhas com
uma vida inteira moribunda nos olhares.
(Out-.2010. Modificado.Março-2016)