2.5.09
Série: O(s) Grito(s) . - A Revista da Câmara -
Agradeci o favor, que obviamente não foi favor algum mas um grandessíssimo corte e por qualquer razão que agora não me apetece saber, abri a dita revista da câmara municipal cá da zona, que não tinha muitas folhas mas parecia Grande devido à generosa espessura das folhas, e caí logo na pág. 16. O 16? Como sou adepto fervoroso até incerto ponto, das numerologias, fiz automaticamente as contas e zás ali estava o tal 7, o número mágico por excelência nesta civilização onde deus me obriga andar, e pus-me logo-imediatamente a pensar onde poderia encontrar a tal magia. Então comecei pelo título da pág."desporto, saúde & bem-estar". Quando cheguei ao "bem-estar", fiquei um pouco aliviado mas logo-simultaneamente intrigado, pois havia muita matéria junta que transbordava um-não-sei-quê do título para encher as medidas de quem tem a intenção sub-reptícia de convencer outros de algo que só tem haver consigo próprio, no intuito para mim claríssimo de um lucro sorrateiro qualquer. Mas pronto.
Vim por ali abaixo, ultrapassei os obstáculos que surgiram, e o pior era o tipo de letra, para não falar da horripilante mancha gráfica, até que me deparei com a palavra "Aviso". E aí, estanquei mesmo definitivamente, com todas as minhas forças possíveis, fiz um momento de cabeça atirar para uma maior
concentração no assunto e pus-me a ler o dito aviso para poder continuar a escrever este artigo de momento, sem qualquer futuro à vista desarmada, pois a vida de um cidadão neste país é um eterno desarmamento de tudo o que é Vida realmente. A coisa começou a complicar-se, tudo aquilo na minha cabeça eram artigos a maiss, mais os "decretoss-lei" e as "deliberaçõess" com datass & tudo, maiss os "capítuloss" & os "subcapítuloss",,, Ei, minha nossa Sr.ª, comecei a ficar farto, farto, enfardado de todo, pois considero-me uma pessoa minimamente culta, minimamente inteligente, minimamente capaz de ler e entender um mero artigo de uma Revista de Informação Camarária, mas efectivamente não entendia patavina daquilo.
Adiante. Trocado por miúdos, e muito bem espremido o fruto podre, tratava-se do quê?
De um aviso para avisar o povo destas bandas de que foram avisados de que há um prazo de 30 dias "úteis" (ainda estou para descortinar o que é isso de dias "inúteis"..)” para se realizar uma "discussão pública" acerca de mais uma alteração ao não-sei-quê, que logicamente tem o seu quê de mudança relevante para alguém e o pessoal até tem de ser informado segundo a lei em vigor e essas lerias ditas democráticas, deles.
Agora a questão aqui complicou-se ainda mais, porque na parte final diziam ao povo que 1º tinham de ir a uma determinada morada (que, Vá Lá ! estava ali escarrapachada inteirinha para quem a quisesse ), para consultarem o tal assunto fundeado no enigmático número 7, e depois quem quisesse até podia, enviar reclamação ou sugestão, nas "horas normais de expediente". Só estas palavras do final da frase, atiraram-me abruptamente para profundíssimos momentos de reflexão acerca deste lado da questão: o que são horas "normais" para eles? Onde param as horas anormais, que eu nunca as vislumbrei ? E qual será o expediente lá do sítio? E no expediente de lá, há lá alguém ou será a habitual es-pe-ra-es-pe-ra ?Mas
o que mais me deixou desanimado de todo, confrangedoramente deprimido mesmo, comigo próprio e com o mundo e até com a Humanidade , foi o facto de perceber - creio bem - que numa declaração tipo preto no branco acerca de uma DISCUSSÃO PÚBLICA, o pessoal era Afinal convidado, nestes modos enviesadamente anacrónicos e absurdamente obscuros, a ENVIAR CARTAS, se quisesse (verdade seja dita, não vi neste textozinho nenhuma insinuação velada ou não, acerca de uma possível punição ao adoptar-se uma atitude de abstenção - Apesar de tal modo de criar Medos andar muito na moda).
E. Pronto. Continuo a não entender nada acerca do modo de pensar e agir dos Senhores que nos governam democraticamente eleitos & tudo e para ver
se alguém me poderá ajudar neste momento um tanto ou quanto confuso da minha vida, vou surripiar uma garrafa de vinho da parte mais nobre da minha modesta garrafeirazinha, e vou ter com a minha simpática vizinha.
Vou tocar à campainha, muitíssimo ao de leve, só um toquezinho de quem está ali, triste como a noite e também muito só, apenas com uma prenda entre as duas mãos e um sorriso naturalmente levíssimo no meu rosto aparvalhado de todo.
29.4.09
26.4.09
a nossa ideia do Mundo
atravessa-nos inteiros como uma flecha sem dono
e num silêncio muito vivo sabemos
Salomé, sabemos como somos tão mortais.
25.4.09
Um povo macanbúzio burro de carga aguentando
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
in, Pátria,"Guerra Junqueiro,1896.
24.4.09
Discurso do Ministro da Educação do Brasil nos E.U.A.
Visão
São 5 H. da manhã e
por aqui é noite fechada
e um nó de silêncio ampara a visão
um astro ancorado nos olhos
diz "não"
a este Mundo medonho
das europas no estertor da doença
mais funda: a do espírito
que está a secar, sem
sem mais nada a dizer.
Não me venham com mais imagens
das glórias que se apagam
sobre os corações de pedra(s)
já sem vida.
Todos os Impérios desaparecem
em cada gesto hediondo, todos
os dias são assim-assim,
sem vocês, já darem por disso.
E a História, não está : Viva
nos livros, nos museus, por aí..
bem guardada em baús de cimento dourado
A História, quando está, prolonga-se
nos actos de quem sente
o dever & o direito
de lhe dar : outras Novas Luzes.
Estais a morrer, aos poucos
muitos de vocês já morreram, mas ainda
não o sabeis
é que, a questão, a verdadeira Questão é que
os nossos filhos talvez não tenham tempo
de resgatar tantas mortes erguidas como glórias.
A juventude ofusca-se ( vocês lembram-se?)
com as 1ªs luzes,
e não têm tempo para o tempo
que irão ter mais tarde.
Só Vocês, OH! Sr.s deste antigo & carcomido
lugar do Mundo
só alguns de vocês ainda
poderão reparar nas brechas
do Novo Sol, que já chegou.
Estejam atentos, pois o Tumulto já começou.
Não é tarde nem é cedo,
mas, nenhum mal se compadece
com tanta vã loucura, e
há 1 ponto nesta viajem
em que o mal se desmorona
e tudo já não poderá ter regresso
algum.
28.3.09
AS FRONTEIRA AGITADAS
Eu não sei como dizer-te dizendo as formas
à-volta tangentes
ao meu corpo tudo ligado.
Linhas invisíveis separam e partilham
os mundos.
Vários limiares.
Baralharam as lâmpadas acesas com a sedução
das estrelas. Inventaram Criaram
Transformam
Destroem.
Como dizer-te
os simples segredos da Terra. A minha seiva
sangue resina sangrada
nas luas tempestuosas no corpo.
A imaginação acordada nas sementes
já nos frutos a água doce
para a sede das bocas
no fim completo da elipse.
Como tocar a simbólica garganta sozinha
na nascente da voz mais esquecida
onde já não há livros obscuros
nem palavras evidentes.
Os sons do mundo batem furibundos
no céu das bocas atraiçoadas
pelo ódio e pelo amor.
O comércio a ganância assassina
sob a ingénua luz das estrelas.
Imparcialmente a noite é dividida
para cada um a sua sombra.
Olhar-me assim, sagrado animal acossado
pelas suas próprias garras apocalípticas
das antigas ciências onde o anjo ferido
é caça e caçador
desafio entregue às estranhas vontades
dos homens alguns.
(in, AS MÃOS E AS MARGENS.Editora Limiar. Porto.1991)
2.11.08
cresce a mão para a palavra
mas porque é que cresce a mão para a palavra?
Há o sol, as matérias primas
dentro do sangue
e há a noite recolhida, submersa
e ainda há as pessoas
e a vastidão da respiração
no coração
seio de idades invadidas por tantos rostos
e há pontos imprecisos em que somos quase
inteiros
e há o útero de tudo onde as vozes se instalam
mas só às portas rondam os sons
as palavras,que agora escrevo
O olho do mundo dança-me na cabeça
ao sabor das luzes que giram
na alta nudez sem nome.
(Nov.2008)
1.11.08
para alguém será
e tu que vieste da escuridão dos meus sonhos
entre o corpo e o sal adormecido
agora na violência deste silêncio apenas
desenhas um só nome: vento.
Entre os arquipélagos do tempo
eis a sombra da minha espera
enquanto as minhas âncoras acendem
as raízes do mar por onde indago
o céu & a terra
e este sentimento obscuro e fundo
que me entrelaça a ti.
(1.Nov.2008)
15.10.08
11.10.08
de manhã
de manhã, quando ainda as aves são sonhos
e já as claridades esvoaçam
abrindo as portas & as janelas
dencontro aos olhos de quem acorda
e os rios de ouro abrem as vozes
à procura dos mastros humanos
onde há gente viajada em nascentes
e a Beleza do mundo é 1 presente simples
e tudo se ampara nos muitos eus
que devagar se unem
enlaçando a infância, o futuro e o agora
de manhã quando algo estala o
silêncio instaurado e já ouço
o cantarolar aceso dos pássaros
Felizmente vivo
mais um dia.
(11-10-08)
7.10.08
COM UMA BEBEDEIRA DE LUZ
eu ká voo caminhando dencontro ao sol negro
onde mergulho de corpo inteiro
para que toda a escuridão que trago de tãolonge
vá sumindo em todos os instantes
um pouco +
(...)
E, quando é preciso subo a um terraço
qual xamã de mim e a Vida,
nós próprios em evocação aliados
aos destinos que dEUS nos emprestou
para que tudo se desenlace & volte a enlaçar
cumprindo-se a 1ª vontade do Infinito
que sempre Foi e sempre Estará
aqui & agora, para quem apenas já
sabe Ser
à sua altura
"os Sons, a Palavra é o Verbo"
E então que o meu nome conquiste inteira-
mente a sua sombra, esse "óleo derramado"
que já ouço escorrer em mim.
(9-10.Set.2008)
5.10.08
4.10.08
Mestres do Nada
Há rostos que tornam as coisas mais simples
São como pedras vivas
mergulhadas a prumo
no sábio esquecimento
das suas formas
onde a sós
só os olhos dizem
o ouro breve
das imagens.
(in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998)
1.10.08
Folha de 1 diário perdido (Nº4)
5 horas da tarde + ou -, 5 pombas à minha volta procuram comida, no chão quente destas pedras bem escuras.
Às vezes encontram, descem as suas cabecinhas só delas, os bicos alongam-se e debicam algo,,, depois, seguem afirmadas & apressadas, mais uns passinhos ........
voltam a fazer unânimes vénias para sobreviverem neste chão duro do mundo.
(C.V. Sidády Vêlha. Agosto.2008)
30.9.08
Tudo O.K?
"A felicidade não consiste em adquirir nem em gozar.
Consiste em Ser Livre"
-Epicteto-
|
29.9.08
e a grande teta universal ?
A noite acesa e "há quem diga
que o peito da mulher é a pedra mais dura
que Deus pôs sobre a terra dos homens.
Que terra? que homens?"
Mas
digo eu: e a via Láctea
& a grande teta universal
mãe ou pai ou ambos
como Leonardo se sonhou e pintou
em plena ausência do seu 1º amor
a mãe: - para onde partiste?
pedra dura-
mente aconchegada às minhas sombras
quando desamparadas esperamos
o pressentimento da asa que ampara
e,,, a mãe já não está lá
mesmo quando agora é noite incendiada
no verbo, no clamor da voz cheia de vivos silêncios
Alguém, Quem? grita no meio das montanhas
transmutadas em visões, Oh! Marões!
e no fim do poema ou dilema somente os ecos
ecoam, e/co/am os brancos lençóis metafóricos
onde a criança renasce para (se) deslumbrar.
(referência inicial, versos do Poeta Corsino Fortes. Cabo Verde)
- 28.Set.2008-
28.9.08
folha de 1 diário perdido (Nº3)
É preciso escoar a coisa:
Uma mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de verde,
no jardim.
No banco ao lado um sr. de camisa e calças vermelhas, sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda, no mesmo jardim.
O sino do relógio a dar 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado, será que vai chover? O céu faz-me recordar Mindelo e depois o “monte cara” e com ele fiquei pensativo mas, já regressei.
Passam mulheres & mulherzinhas agrupadas, com a bunda arrebitada todas janotas em direção à igreja que já está apinhada de gente para a missa de domingo. Espreito de longe e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas acham que a fé lá no fundo tem algum nº na porta?
No jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos dedicadas ao corpo da paixão. Por ali devagarosamente há sombras que estremecem quase sem se dar por isso. Evolam-se pelo ar formas de carne & paixão, cores vermelhas vivas & cores azuladasperfumadas de laranjas que até encantam as flores sonolentas à-volta.
Por perto, há jovens absortos de computadores escancarados em cima dos joelhos, a fazerem o que lhes apetece (soube que alguém da nova Câmara, instalou ali precisamente um sistema eficaz de acesso à internete.- Já agora um exemplo a ser copiado por estes Ex.mos Sr.s Presidentes das Câmaras de Portugal, que só se expõem em tudo o que é propaganda (bem-mal paga pelos eternos contribuintes cada vez + pedintes) e nem perdem tempo a cogitar estes pormenores “minimamente” úteis às vidas do seu “povo”.
Volto a dar 1 passeio. E volto ao lugar.
A meu lado está alguém com um ar de quem já não espera nada e também não se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser talvez seja o seu modo de estar ,talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no (seu) pequeno sol de dentro, e que me importa?
Passam mais meia-dúzia de moços todos coloridos, alegres, entretidos com eles próprios. Ouço o barulho de uma moto bastante, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente grande……
lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante…
Adiante, a diante, que é sempre cedo para se ser feliz.
(Cabo Verde. Praia.Plateau.Agosto.2008)
onde estão as luzes que ficam?
no meio de tanta barulheira & escuridão
fabricada por "makakóides" completa-
Mente avariados de todo
Onde estão as luzes que ficam?
meu dEUS, Onde achar as portas douradas
por onde estas asas brancas brancas
iluminem o fogo primordial que as criou
Onde? Saltar da cruz deste mundozinho assim
e ficar, no entanto ainda, de corpo inteiro
para transportar felizmente o meu destino
amando quem me vê mesmo, acordado
sempre inteiramente lúcido em cada
momento, até não mais.
?.Set.2008