José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

28.9.08

folha de 1 diário perdido (Nº3)


É preciso escoar a coisa:


Uma mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de verde,
no jardim.
No banco ao lado um sr. de camisa e calças vermelhas, sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda, no mesmo jardim.

O sino do relógio a dar 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado, será que vai chover? O céu faz-me recordar Mindelo e depois o “monte cara” e com ele fiquei pensativo mas, já regressei.


Passam mulheres & mulherzinhas agrupadas, com a bunda arrebitada todas janotas em direção à igreja que já está apinhada de gente para a missa de domingo. Espreito de longe e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas acham que a fé lá no fundo tem algum nº na porta?

No jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos dedicadas ao corpo da paixão. Por ali devagarosamente há sombras que estremecem quase sem se dar por isso. Evolam-se pelo ar formas de carne & paixão, cores vermelhas vivas & cores azuladasperfumadas de laranjas que até encantam as flores sonolentas à-volta.

Por perto, há jovens absortos de computadores escancarados em cima dos joelhos, a fazerem o que lhes apetece (soube que alguém da nova Câmara, instalou ali precisamente um sistema eficaz de acesso à internete.- Já agora um exemplo a ser copiado por estes Ex.mos Sr.s Presidentes das Câmaras de Portugal, que só se expõem em tudo o que é propaganda (bem-mal paga pelos eternos contribuintes cada vez + pedintes) e nem perdem tempo a cogitar estes pormenores “minimamente” úteis às vidas do seu “povo”.

Volto a dar 1 passeio. E volto ao lugar.
A meu lado está alguém com um ar de quem já não espera nada e também não se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser talvez seja o seu modo de estar ,talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no (seu) pequeno sol de dentro, e que me importa?


Passam mais meia-dúzia de moços todos coloridos, alegres, entretidos com eles próprios. Ouço o barulho de uma moto bastante, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente grande……
lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante…


Adiante, a diante, que é sempre cedo para se ser feliz.



(Cabo Verde. Praia.Plateau.Agosto.2008)

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