27.7.16
26.7.16
Onde o Sol é mais Perto
Às vezes pego no bloco. Pego na
caneta. Fico assim horas a fio a olhar
Depois
desço o olhar1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite deste jardim
por detrás da sebe da casa há um sobreiro com ramos rugosos onde a cortiça respira & cresce sem darmos por isso e as folhas todas juntas formam uma cabeleira que estremece e dança, muito espaçadamente, com a aragem que sopra dos lados do mar.
De
repente, os repuxos calaram-se. Gotas de água escorrem de folha em folha e
depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se abrem ao desejo
da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que desce dos candeeiros. E são
belas assim, nos seus verdes flamejantes contra as obscuridades à volta. Na
superfície azulada da piscina, estranhamente ondulada, está a lua
estampadamente enorme.
25.7.16
O MEDO DA ROSA
- Sei como a rosa se levantou, pétala a pétala, no
seu fulgor de luz errante, hilariante e como o seu esforço vai adiante.
Sei e claro que não sei, a cor da rosa, nem a imagem
da própria rosa, nem esse deus nada assim, de que vos falo só para me
libertar de mim e assim pressentir nas palavras que semeio, esta assustadora
liberdade de ser humano.
(2007)
22.7.16
&, no entanto há uma luz por aqui
&, no entanto
há uma luz
poisada no centro
do seu silêncio de ser
só uma luz
Aberta
para fora
de si
há uma luz
poisada no centro
do seu silêncio de ser
só uma luz
Aberta
para fora
de si
- como se um pássaro esquecesse no voo
o peso das suas asas;
- como se a memória fosse uma trave esmorecida
na casa estagnado dos hábitos;
- como se, algo te chamasse & fosse uma voz cúmplice
no cálice mais translúcido do teu corpo
onde o som maduro do silêncio
te chama - em chamas - alumiantes na cor
e tu estás longe ou perto nos olhos
E então, nem o ouro
nem a prata
- por onde há-de uma Vida luzir?
(28-Set.2007)
What are your masters in the arts, artist?- Is the Nature.
21.7.16
Ponta d’ Areia
Estou na ponta d’areia.
Sentado. Á sombra, aí uns 20 e tal graus. O guarda-sol é cor de laranjas
maduras e eis á minha frente o mar vivo e aceso. Do céu vários tons azuis
luminosos descem suavemente sobre tudo o que é vida.
Á minha volta, o
povo espraia-se finalmente no seu sábado.
As crianças vivem à
solta por aqui, onde o mar deslaça dia-&-noite as suas ondas e elas, as
crianças dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos
saltos de quem está mesmo felizmente feliz. Há gazelas morenas, umas a seguir
às outras, é difícil acompanhar com a devida atenção tantos ritmos ondulantes e
belos, sob este sol de deus.
Passa alguém com uma
caixa transparente pelo braço e leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas
comidas que outros comerão, com certeza.
Olhando para trás,
vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos a despontarem entre os verdes das
árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá – dessas bandas,
que chega até aqui aquela música popular, sempre a tocar as esferas do coração.
Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
1 papagaio caiu,
tombou mesmo agora a meus pés e reparo que é feito de plástico, que já foi saco
de supermercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados e ainda mais agora, o
menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvas sozinho
com a cauda louca sem tino esburacando o
espaço, rodopia veloz e depois,,, cai outra vez no chão sólido do mundo e a
criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.
A menina do bar,
mini-saia de ganga boa perna, camiseta desabotoada, bandeja prateada na mão
esquerda, já aviou mais umas cervejas Sol *a uns jovens que estão prá-li num
forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas
dos seus clientes.
Um bandozinho de
pardais passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras
& mesas azuis, vermelhas, brancas e cinzentas
e
desaparecem numa
curva uníssona do tempo, o que é feito
deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim ainda se regala a fazer
jogos infindáveis com as cores do cenário.
Lá adiante, lá mesmo ao fundo, uma
tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã
irei a St.º António de
Alcântara, por onde um touro passeia a sua
estrela de cinco pontas na testa carimbada.
* marca de cerveja
17.7.16
11.7.16
Estou de Tanga
hoje
levantei-me bem comigo & a vida, comi manga, papaia e cana de açúcar do meu
quintal tudo oferecido com a claridade do sol sempre esclarecido nas coisas do
mundo.
Também
bebi água logo nas aberturas do dia e é água leve e fresca que vem dos lados do
convento de São Francisco, do séc. XVII, eles lá sabiam as melhores fontes das
coisas essenciais à vida.
Nesta
varanda virada para a Sidády Vêlha, com o mar ao fundo de onde se colhem
imagens & imagens sem fim e um barulho de ondas fortemente contra as rochas
negras da praia, onde todos os dias me banho ao fim da tarde até ver o círculo
solar cheio de cores a partir para outros lugares.
A
minha amiga borboleta, que me visitou logo no 1º dia, volta todos os santos
dias, enquanto estou a acordar-me nestas pequenas tarefas. Um dia destes, veio
poisar na minha mão, mas só ao fim do coração da manga bem chupada, é que
sorveu com tal suavidade a ultima gota que me deixou derrotado por uns longos
instantes.
Ah!
eu e a minha amiga borboleta, duas pétalas brancas, uma de cada lado, onde
pontuam vários círculos coloridos salpicados
à toa, falámos abertamente dentro dos nossos silêncios amadurecidos,
depois foi vadiar pela mata a fora
partilhar alegria e liberdade com outros, remando agora as suas muitas
asas frágeis ao sabor das curvas da aragem e, pronto.
Votei
ajustar a tanga à cintura (um dia destes tenho que arranjar uma tanga a sério
de pano de terra, logo se vê)
incendiei 1 cigarro, pernas desleixadamente sobre a varanda azul e costas
contra o mundo.
( Cabo Verde. Ilha de Santiago. Sidády Vêlha – 2008)
7.7.16
Exposição de Artes-Visuais: OUTROS MUNDOS ~ OTHER WORLDS
~ cinturón de asteroides ~
6.7.16
Sensação a veludo nas mãos
Primeiro
foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave e a pedir só
mansidão e elas, as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas
polpas sensíveis cada vez eram mais e eu lá no fundo, no final da sensação,
deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo, por este mar de
novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
E
ela deitada, absorta no seu sonho de ser mulher para as minhas mãos e eu
sentia-a a crescer nos ritmos da respiração, e de um lado e do outro, ambos
éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que
tínhamos de possuir precisamente ao mesmo tempo.
Tudo
ilusão. E, no entanto não era. Eu estava ali, ela também, éramos dois corpos
com as portas escancaradas de todo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele
de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos
jaziam. Havia entre nós, um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas
mais aprumadas já não dizem palavras. Os gestos criavam outros mundos, onde só
nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos espera de o sermos.
5.7.16
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