José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

31.3.25

postais

Foto: J. A. M. ~ ALCÂNTARA. MARANHÃO. BR.


 Meu amigo Pedro ( Raul Seixas):


 @Dr. zé kalunga 

28.3.25

CONVITE



 CENTRO NACIONAL DE CULTURA:

 

                                                    HORÁRIO:

Segunda a sexta feira – 9,30h.-12.00h. e  14.30 h.- 17.00 h.
Sábado – 14.30h. - 17.30h.
Domingo e feriados – encerrado

O Sopro

PINTURA " SOPRO". J. A. M.

 

Já não me recordo se era uma luz exterior 
ou vinda de dentro de mim, mas
tudo estava incandescente
de uma forma natural e o Mundo
tinha um amplo sentido exato
em todas as coisas.
 
A certa altura, olhei-me de longe
e com o passar dos anos aprendi
a esquecer-me de mim.
 
No entanto, sou cada vez mais
esse vaso de luz
onde a luz me ensina.


( J. A. M.)

 

20.3.25

) eu falo para ti (

Pintura. J. A. M.

 

      Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar-bem-por-isso e há um diamante entre as suas mãos, o olhar turva-se pelo brilho que o sol, atento a tudo onde há vida, lhe oferece no mesmo instante e depois há quem veja logo ali um presente, ou há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por perto no seu ocaso indiferente a tudo isto.
      Os hábitos escravizam, tornam-nos cegos.
     Todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias, mas não o são, não.

      Nada é banal nesta vida que nos está acontecendo.

     E por aqui os diamantes não têm quaisquer preços, são iluminadas fontes metafóricas, criadas pela infindável sede que habita os profundos lençóis da Terra. E das pessoas, também.


  - Quanto demora uma idade a ser luz?


 

 (J. A. M. , Ourique. Alentejo. Portugal)

 

16.3.25

Ecos de Cabo Verde

Pintura. J. A. M.

     

               (dá tchuva na tchón áoje, foi milagre d`Deus(1)

     O céu cheio de manchas acinzentadas umas mais outras menos escuras sobre um fundo que se pressente azul. O “Monte Cara” sempre pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão presente no caroço da alma de cada mindelense. Os aromas nostálgicos do ser de uma ilha com as raízes mergulhadas nas águas demoradas do eternamente mágico oceano(2), os sons de uma morna abrindo a noite como quem pede licença para entrar mas já se instalou suave e inteira, abrindo os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-abertamenteazul com as duas coxas de ébano polido demoradamente nuas e brilhantes até um determinado ponto inexato, os 2 amigos calados & unidos a uma garrafa de grogue, a criança ainda de colo de camisa cor-de-rosa  e 4 totós verde-alface  no cabelo encarapinhado a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota a cair-lhe doucement pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do Paulino Vieira(3), unindo-nos a todos num só abraço  unânime e depois lá fora vislumbro através do feixe de luz da porta com uma nesga aberta, os ruídos dos ilhéus que vão e vêm dos seus destinos circulares e ali na estrada, agora mesmo, alguém vai sentado ao contrário , numa bicicleta que desliza sorrateiramente pelas azáguas(4) afora, mas que arte será aquela?

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[1]   “hoje choveu, foi milagre” (crioulo do Barlavento).
[2]   Atlântico.
[3]   Cantor cabo-verdiano (1956).
[4]   Poças de água da chuva (crioulo do Barlavento).



( J. A. M. ~ Cabo Verde)


9.3.25

eu vim de longe

Imagem trabalhada. J. A. M.

eu vim de longe, de muito longe
do pó das estrelas, do vazio dos astros
do silêncio infinito
da longínqua aliança da Fonte.

eu vim de longe
da cegueira das pedras, do fogo
colorido das flores
das cavernas escuras
onde desenhei o queixume da ausência
desse misterioso Ser abismado em mim.



(J. A. M. - 09/03/25)


7.3.25

Mauro, o poeta da Ilha

Foto trabalhada. J. A. M.

     

     Arrastava mais um pé do que outro e eu reparei no seu ar luminoso abrir airosamente a noite. Ia a passar perto do meu lugar e eu senti logo que podíamos trocar algumas luzes. Convidei-o a sentar-se ali, por baixo da grande árvore noturna. Vi o seu olhar inclinado para o meu copo ainda cheio de Brahma (1) e perguntei-lhe o que bebia. Não tardou a abrirem-se as nossas portas, uma de cada vez e cada uma no seu lugar mais claro e mais íntimo.
      Era um poeta e eu disse-lhe que também era um aprendiz de poeta. Ele lembrou-se deste pormenor mais tarde, durante uma noite em que amizade, alegria e o mistério do “bumba-meuboi”(2)se entrelaçaram com ambos no fim iscados (3de todo, tombámos e acordámos na Praia da Guia e ao mesmo tempo num silêncio cúmplice fomos mergulhar no mar para acender o dia.
      Ele arrastava uma perna quando andava, mas falava sem arrastar nenhuma das suas asas. Aí, ele crescia em voos cheios de altura e distância e, às vezes, descia um pouco, para recitar um poema seu, que parecia ler no meu rosto. Eram sempre longos, feitos de simplicidade e lonjura e eu ficava mais pequeno a escutá-lo e a olhá-lo com todo o orgulho do mundo, pois já éramos amigos.
 
     Hoje, imagino-o a levantar a noite da sua ilha, livre como sempre, feliz e a cantar alegremente toda a escuridão que há na sua vida de poeta.

   

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[1]   Marca de cerveja brasileira.

[1]  Existem várias versões acerca desta lenda nordestina. A história mais comum refere a escrava Catirina ou Catarina, grávida, que pede ao marido Chico ou Pai Francisco para comer língua de boi. O escravo atende ao desejo da esposa, matando o boi de estimação do patrão. O crime de Pai Francisco é descoberto e por isso ele é perseguido pelos vaqueiros da fazenda. Quando preso, são infligidos excruciantes castigos e, para não morrer, Pai Francisco, com a ajuda de pagés, ressuscitam o animal. Todos, então, cantam e dançam comemorando o milagre. Esta lenda tornou-se motivo das maiores celebrações culturais e festivas em todo o Estado do Maranhão. O “bumba-meuboi” maranhense recebeu do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o título de Patrimônio Cultural do Brasil.

[1]   Embriagados, bêbedos (dialeto maranhense).




(J. A. M. em São Luís do Maranhão. BRASIL)


5.3.25

Encontro

Pintura. J. A. M.

 

Foi um olhar, foi um abraço, foi um beijo
demorados gestos que se prolongam até hoje.
 
A leveza e o peso da vida quando
inesperadamente a memória se desenlaça
e surge no fundo de nós um halo colorido
que nos levanta.


( J. A. M.)