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Pintura. J. A. M. |
(dá tchuva na tchón áoje, foi milagre d`Deus(1)
O
céu cheio de manchas acinzentadas umas mais outras menos escuras sobre
um fundo que se pressente azul. O “Monte Cara” sempre pousado na sua lonjura
pensativa e sempre tão presente no caroço da alma de cada mindelense. Os aromas
nostálgicos do ser de uma ilha com as raízes mergulhadas nas águas demoradas do
eternamente mágico oceano(2), os sons de uma morna abrindo a noite
como quem pede licença para entrar mas já se instalou suave e inteira, abrindo
os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e
mini-saia-abertamenteazul com as duas coxas de ébano polido demoradamente nuas
e brilhantes até um determinado ponto inexato, os 2 amigos calados & unidos
a uma garrafa de grogue, a criança ainda de colo de camisa
cor-de-rosa e 4 totós verde-alface no cabelo
encarapinhado a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota a cair-lhe doucement pelo
queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do Paulino Vieira(3),
unindo-nos a todos num só abraço unânime e depois lá fora vislumbro
através do feixe de luz da porta com uma nesga aberta, os ruídos dos ilhéus que
vão e vêm dos seus destinos circulares e ali na estrada, agora mesmo, alguém
vai sentado ao contrário , numa bicicleta que desliza sorrateiramente
pelas azáguas(4) afora, mas que arte
será aquela?
[2] Atlântico.
[3] Cantor cabo-verdiano (1956).
[4] Poças de água da chuva (crioulo do Barlavento).
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