José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

16.3.25

Ecos de Cabo Verde

Pintura. J. A. M.

     

               (dá tchuva na tchón áoje, foi milagre d`Deus(1)

     O céu cheio de manchas acinzentadas umas mais outras menos escuras sobre um fundo que se pressente azul. O “Monte Cara” sempre pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão presente no caroço da alma de cada mindelense. Os aromas nostálgicos do ser de uma ilha com as raízes mergulhadas nas águas demoradas do eternamente mágico oceano(2), os sons de uma morna abrindo a noite como quem pede licença para entrar mas já se instalou suave e inteira, abrindo os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-abertamenteazul com as duas coxas de ébano polido demoradamente nuas e brilhantes até um determinado ponto inexato, os 2 amigos calados & unidos a uma garrafa de grogue, a criança ainda de colo de camisa cor-de-rosa  e 4 totós verde-alface  no cabelo encarapinhado a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota a cair-lhe doucement pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do Paulino Vieira(3), unindo-nos a todos num só abraço  unânime e depois lá fora vislumbro através do feixe de luz da porta com uma nesga aberta, os ruídos dos ilhéus que vão e vêm dos seus destinos circulares e ali na estrada, agora mesmo, alguém vai sentado ao contrário , numa bicicleta que desliza sorrateiramente pelas azáguas(4) afora, mas que arte será aquela?

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[1]   “hoje choveu, foi milagre” (crioulo do Barlavento).
[2]   Atlântico.
[3]   Cantor cabo-verdiano (1956).
[4]   Poças de água da chuva (crioulo do Barlavento).



( J. A. M. ~ Cabo Verde)


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