José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

17.7.15


o novelo da paisagem perdura
no lugar que está a cair.

14.5.15

OLHANDO PARA O MONTE CARA


 

Os ramos das palmeiras ao sabor da leve brisa
e os sons frescos encaminham-me para o mar
onde vejo um pensativo rosto de pedra.



Feliz escurece, o olhar à procura
da lua, esse vaso de luz
onde uma das luas se deita
e então eu sou, a sombra pousada

nessa luz alheada.

 
(Cabo Verde.Mindelo.)

10.5.15

tudo está ligado
















( foto) J.A.M.

Género Metáfora

 
A gente vai sabendo as coisas para aprender a saber outras coisas e depois esquecer.
Amparamo-nos nisto e naquilo ao sabor dos gostos e desgostos que a vida nos dá, ao deixarmos bater o coração contra o peito do mundo.
Alguém passeia-se algures por caminhos e paisagens, onde há pedras pelo chão e acontece-lhe curvar-se de repente, por algo que o chama sem dar por isso e há um diamante entre as mãos, o olhar turva-se pelo brilho demasiado que o sol lhe oferece no mesmo instante e depois?
Há quem veja logo um diamante , há quem não dê conta do vislumbre que lhe aconteceu e continue a sua vida apegado aos seus hábitos, atirando o pequeno seixo para as águas de 1 rio que desliza por ali no seu ocaso indiferente a tudo isto.
Os hábitos escravizam-nos, tornam-nos cegos, todos os dias acontecem coisas assim, parecem banais porque são diárias mas não o são, não.
 
 
( J.A.M.)

A Travessia
















 
digital-art. J.A.M.

9.4.15

Ponta d’Areia


 
Estou na ponta d’ areia. Sentado. À sombra, aí uns 20 e tal graus. O guarda-sol é cor de laranjas maduras e eis à minha frente o mar vivo e aceso. Do céu vários tons azuis luminosos descem suavemente sobre tudo o que é vida.

À minha volta, o povo espraia-se finalmente no seu sábado.

As crianças vivem à solta por aqui, onde o mar deslaça dia-e-noite as suas ondas e elas, as crianças, dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pequenos saltos de quem está mesmo felizmente feliz. Há gazelas morenas, umas a seguir às outras, é difícil acompanhar com a devida atenção tantos ritmos ondulantes e belos, sob este sol de deus.

Passa alguém com uma caixa transparente pelo braço e leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas comidas que outros comerão, com certeza.

Olhando para trás, vejo 2 candeeiros públicos ainda acesos a despontarem entre os verdes das árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto. É de lá – dessas bandas, que chega até aqui aquela música popular, sempre a tocar as esferas do coração. Muitas pessoas cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.

1 papagaio caiu, tombou mesmo agora a meus pés e reparo que é feito de plástico, que já foi saco de super-mercado + uns pauzinhos de coqueiro aliados e ainda mais agora, o menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil como Tudo, dá curvas sozinho com a  cauda louca sem tino esburacando o espaço, rodopia veloz e depois,,, cai outra vez no chão sólido do mundo e a criança continua a ser criança a brincar e já é muito, tomara eu.

A menina do bar, mini-saia de ganga boa perna, camiseta desabotoada, bandeja prateada na mão esquerda, já aviou mais umas cervejas Sol*a uns jovens que estão prá-li num forrobodó evidente e regressa ao balcão, esvoaçando um olhar geral pelas mesas dos seus clientes.

Um bandozinho de pardais passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras & mesas azuis, vermelhas, brancas e cinzentas

e

desaparecem numa curva uníssona do tempo, o que é feito deles? pensei, enquanto uma outra parte de mim ainda se regala a fazer jogos infindáveis com as cores do cenário.

Lá adiante, lá mesmo ao fundo, uma tira horizontal de água mais cintilante no brilho, faz-me lembrar que amanhã irei a St.º António de Alcântara, por onde um touro passeia a sua estrela de cinco pontas na testa carimbada.

 

 

* marca de cerveja brasileira.

 

Brasil. Estado do Maranhão - 2007

27.3.15

diálogos com deus



 
 
(de J. A.M.)
 
Técnica: tinta da china e acrílico s/ papel.
(61X73 cm)

Já não me lembro se era uma luz exterior ou de dentro de mim


 
 
Já não me lembro se era uma luz exterior ou de dentro de mim, mas tudo estava incandescente de uma forma natural e o Mundo tinha um amplo sentido exato em todas as coisas.
A certa altura, olhei-me de longe e com o passar do tempo aprendi a esquecer-me de mim.

No entanto, sou cada vez mais
esse vaso de luz
onde a luz me ensina.

 

 

 
2.Julho.2009

18.2.15

DIÁLOGO

- de J.A.M. -

Técnica: Tinta da china e guache s/ papel ( 61X76 cm). 2015.

17.2.15

REENCONTRO


às vezes, de um modo inesperado, levanta-se um lençol qualquer da memória e aparece-nos um lugar com luz e alguém lá dentro, como se tudo acontecesse de novo.

Aconteceu-me hoje, com algo que foi a primeira vez há dois anos, num local deste planeta agora distante, estava eu a olhar um pôr-do-sol e a pensar na redondez do mundo e ao mesmo tempo, na sua vastidão sem medida e todas as circunferências e espirais de tudo isto estavam a levar-me para longe.

Entretanto, alguém apareceu por ali, com os pés descalços e apenas o manso som surdo de uma presença e eu demorei a desviar o olhar.(Estava por lá, de onde é difícil, os regressos repentinos. Tinha que deslocar-me até ao centro, voltar ao núcleo aceso do que eu julgo ser eu, e depois repetir-me nos gestos, por aí…).

Mas, quando já estava em mim, deparei-me com alguém muito sereno, distante até, com o olhar atirado ao deus-dará e pensei como há seres humanos a sentirem as coisas mais simples e essenciais da vida. E no entanto, são silenciosos ao largo dos seus horizontes, não são notícia nas T.V.s deste mundo ruidoso demais, nem escurecem os dias dos outros.

Depois, acho que trocámos meia-dúzia de palavras, nem tanto, com os 2 pares de olhos em pontes abertas entre si.

Despedimo-nos como dois bons amigos, e cada um foi para o seu mundo continuar a cumprir o seu destino.

 

2-Out-2007

A Porta Para



 
-de J.A.M.-
Técnica: Tinta da china e guache s/ papel.(57X79 cm)

7.10.14

É preciso escoar a coisa


 
Uma mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de verde, no jardim. Ao lado um Sr. de camisa & calças vermelhas, também sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda.

O sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado, será que vai chover?

Passam mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas a fé lá no fundo terá algum nº de porta?

No jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e até encantam as flores sonolentas à volta.

Volto a dar 1 longo passeio pelo Plateau sem deixar de passar pelo mercado. E volto ao lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o seu modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno sol de dentro, mas o que é que eu terei a ver com isto?

Passam mais meia-dúzia de moços todos coloridos, todos alegres, entretidos com eles próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante na estrada ao lado, e leva atrás um indígena de patins a deslizar por ali como gente grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante, adiante que é sempre cedo para se ser feliz.

 
Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia - 2008

12.9.14

18.7.14

Sentimentos Ilhados


 
O céu cheio de manchas cinzentas umas mais outras menos escuras sobre um fundo que se pressente azul. O Monte Cara pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão presente na alma de cada mindelense. O aroma nostálgico do Ser de uma ilha com as raízes mergulhadas no oceano Atlântico, os sons de uma morna abrindo a noite como quem pede licença para entrar, mas já se instalou suave e inteira abrindo os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-azul abertamente com as coxas de ébano demoradamente nuas e brilhantes até um determinado ponto inexacto, os 2 amigos calados & unidos a uma garrafa de grogue, a criança ainda de colo de camisa cor-de-rosa e 4 totós verde-alface no cabelo encarapinhado a chupar uma manga pela boca adentro e uma gota docemente a cair-lhe pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta aos sons do cantor, unindo-nos a todos num só lugar e depois lá fora os ruídos dos ilhéus que vão e vêem dos seus destinos circulares, e ali fora na estrada alguém vai sentado de lado sobre uma bicicleta que desliza sorrateiramente pelas azáguas* a fora sem darmos por isso

 

 
*Em crioulo: poças de água da chuva

(Texto de J.A.M., inédito.Cabo Verde.Mindelo.2005)

Série B2. 2014.

17.7.14

bilhete aceso

 
....colher dos teus olhos a voz que me chama sei lá para onde eu olhe o teu corpo está nu e eu vejo-me despedido pela natureza e já não é a carne, nem os cabelos, nem a púbis, é outro o espanto que me afronta, talvez volte aos teus olhos e ao fundo dessa luz irei a caminho de quem me cativa assim, sem mais nenhuma palavra embalo a noite que me leva...e já nada tem haver contigo.. é outra a chama que me
 
 
 
...regressa..debruça-te sobre os teus primeiros sonhos enquanto eras criança era a água metafórica a respirar para cima, o teu corpo aberto ao sol e às perguntas que amadureciam com as folhas das árvores, verdes, verdes eram as emoções impressas dentro das noites que acordavas, a infância é sempre tão vasta e desprendida, não era?..
 
 
.. no entanto, ainda há os dias que virão, as velas acesas dentro dos corações animados para cima dos sonhos e estes como gritos acordados a chamarem o corpo para o equilíbrio das vozes inspiradas e tudo o que realmente é desconhecido como um desenho esboçado à felicidade do Homem - quanto tardas?

..e do animal às asas nos símbolos ocidentais da brancura, as imagens nos tempos que correm já ultrapassam as visões dos homens de génio, ainda espero desesperado uma espécie de justiça entre os homens, porque é que a ganância nunca mais sabe encontrar a sua morte?..


- 25-Out.- 2009 -