O
sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado,
será que vai chover?
Passam
mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em
direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito
discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega
naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas a fé lá no fundo terá
algum nº de porta?
No
jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já
não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos
dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem
quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e
até encantam as flores sonolentas à volta.
Volto
a dar 1 longo passeio pelo Plateau sem deixar de passar pelo mercado. E volto
ao lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não
se rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o
seu modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno
sol de dentro, mas o que é que eu terei a ver com isto?
Passam
mais meia-dúzia de moços todos coloridos, todos alegres, entretidos com eles
próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante
na estrada ao lado, e leva atrás um indígena de patins a deslizar por ali como
gente grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade
adiante, adiante que é sempre cedo para se ser feliz.
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