1.3.17
Nº 14 ( Ressureição)
" Eis que o Pai, coberto de suor por causa do Filho,
rogou do fundo do coração ao Senhor,
a quem, de fato, tudo é possível,
pois que cria todas as coisas. E pede-lhe para fazer sair de seu Corpo seu Filho,
Que o ressuscite.
O Senhor não deixa de escutar sua prece,
e ordena ao Pai que durma.
Enquanto repousa na paz do sono,
faz cair do alto uma chuva
através da clara abóbada constelada,
Uma fecunda chuva de prata pura e verdadeira,
que rega e enternece o coração paterno.
Ó Deus, ajude-nos também a obter Sua Graça! "
27.2.17
o silêncio serpenteia-se nas ondas
O
silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite abre as flores do
coração curva os sons que tem sempre à mão e o tempo habita-nos mais ao
sabermos nos olhos as sombras que se despedem das árvores onde os pássaros
acolhem os primeiros tons do dia sob o lençol verde às tantas da manhã pelas
cinco e tal ou quase assim começam a
sinfonar uma visão acesa para quem esmorece ainda é cedo ainda há o segredo de
haver um mundo contudo sagrado.
21.2.17
Plateau
~ Dedicado ao meu amigo Victor Mendes ~
Uma
mulher negra coberta de panos amarelos sentada num banco de madeira pintado de
verde, no jardim. Ao lado um Sr. de camisa & calças vermelhas, também
sentado num banco verde à sombra de uma árvore com folhas tenramente ainda.
O
sino do relógio dá 6 badaladas bem compassadas ao ritmo do calor hoje abafado,
será que vai chover?
Passam
mulheres e mulherzinhas agrupadas, com as bundas arrebitadas todas janotas em
direção à igreja já apinhada de crentes para a missa domingueira. Espreito
discretamente e parece-me haver ali um fervor amornecido, uma entrega
naturalmente física à devoção, neste caso católica, mas esta fé lá no fundo
terá algum nº de porta?
No
jardim, um casalinho namora espreguiçadamente num outro banco de cimento que já
não tem cor. Ela deitada sobre o colo ali à mão de semear e ele com as mãos
dedilhadas no corpo da paixão. No chão quente do dia as suas sombras estremecem
quase sem darmos por isso, evolam-se no ar em formas de carne & paixão e
até encantam as flores sonolentas à volta.
Volto
a dar 1 longo passeio. No mercado tudo são cores que se mexem. E volto ao
lugar. A meu lado está alguém com ar de quem já não espera nada e também não se
rala com isso. Talvez esteja em plena divagação do seu ser, talvez seja o seu
modo de estar, talvez a luz do seu olhar esteja toda estancada no pequeno sol
de dentro, e o que é que eu terei haver com isto?
Passam
mais meia-dúzia de moços coloridos, todos alegres, entretidos com eles
próprios, em direção aos finais da missa. Ouço o barulho de uma moto bastante
na estrada ao lado, e leva atrás um gajo de patins a deslizar por ali como gente
grande, lá vai ele a espalhar o seu imenso sorriso branco pela cidade adiante,
adiante que é sempre cedo para se ser feliz.
José Alberto Mar
José Alberto Mar
Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia – 2008 (alterado a Fev.-2017)
COISAS COMUNS
há pessoas assim, chegam-nos sei lá de onde, instalam-se num lugar qualquer mais substantivo do nosso corpo onde ciclicamente amanhecemos & morremos e parece-me que as levamos connosco para todo os lados, sem darmos conta da leveza que nos dão.
E com o tempo, prolongam-nos entre palavras anónimas nas conversas mais íntimas, sem nada sabermos do que acontece e que importa?
Atravessado pelo zen
e... meus amigos: o ar dentro das gaiolas está engaiolado?
eu conto-vos: para meu espanto, algo realmente aconteceu e fiquei perplexo :
várias vezes o ar se tornou mais leve e aí as palavras que escrevia eram sombras estranhas & quando o silêncio pesava 1 poukíssimo mais, inventava à sorte outros sons: kaziar, ooom, latuuda, maçala, tarugui,lubeduma, mucussueje.... etecetera
no próprio ato da busca retornava ao silêncio vivo onde as mãos lembravam somente algo que se eleva
e levanta o ar
e levanta o ar
soprando nas gaiolas risos criativos.
A bem dizer eu só estava ali, para aprender a estar.
17.2.17
16.2.17
14.2.17
Sei lá
Estremece a estrela que vive naturalmente aberta
à escuridão & nos 2 olhos cintila
o véu do instante, a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias
há tanta vida mecânica
Vejo nos gestos o silêncio amparado
pelo silêncio que aspiro
o lugar onde qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
Set.
- 2009
13.1.17
porque nos cai o azul sobre as cabeças
(...) e agora, o barco já acordado no dia seguinte, descia preguiçadamente entre as duas margens de florestas e tudo eram verdesviajantes até à sua foz em Caburé, onde soube de um milagre: alguém aparecia à noite cavalgando um cavalo branco e esbelto sobre as águas do rio e era mulher diziam alguns outros, não sei mas gostaria de saber, pensei eu e então fiquei por ali para ver a história e tudo aconteceu assim. Em silêncio:
De rompante, numa incerteza da escuridão, apareceu a imagem em fuga mesmo ali à frente dos nossos narizes e deixou uma brisa de espanto calado sobre quem olhava e depois, realmente maisnada. Todo o mundo se olhou, estranhadamente. Ninguém falou.(...)
José Alberto Mar
(Maranhão.Brasil)
(Maranhão.Brasil)
1.1.17
6.12.16
Imagens Afundadas na Memória
1º
Um rosto visitado pelo sol
por onde é fácil
estar no Mundo
afastar as margens dos sentidos
olhar para a Terra e dizer: - é este
o meu destino.
Com uma mão cheia de pensamentos se fabricam
as casas das idades humanas.
Com outra mão cheia de sentimentos
se põe em cada lado o lado mais vivo
de uma vida.
Respiramos por intervalos
entre os desejos desalinhados das nossas luzes
mais solitárias & mais íntimas.
E, quando os dias se afastam
há um canto absoluto abandonado em cada rosto
e no lado mais fechado do nosso corpo
deus pergunta-nos o seu lugar.
( José Alberto Mar.in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI. Lisboa.1998)
25.11.16
Série: Msg a Garcia.
"I don’t
know how to be silent when my heart is speaking."
( Eu não sei ficar em
silêncio quando o meu coração está a falar)
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