23.7.18
22.7.18
em Abril águas 1000
1 pirilampo aqui outro acolá na espessura da noite por
detrás da sebe deste jardim há 3 sobreiros unidos com troncos rugosos onde a cortiça
respira e cresce sem darmos por isso e as folhas todas juntas formam uma
cabeleira que estremece & dança, muito espaçadamente, com a aragem que
sopra dos lados do mar enquanto pedaços de algodão dos álamos esvoaçam e uma sisão (1) algures espalha as
pautas.
De repente, a chuva parou. Gotas de água escorrem de
folha em folha e depois apagam-se no chão onde as raízes das plantas absortas se
abrem aos desejos da sede. E as folhas cintilam sob o peso da luz que cai dos
candeeiros. E são belas assim, nos seus verdes flamejantes contra as
obscuridades à volta. Na superfície azulada de um pequeno lago provisório,
estranhamente ondulado, está a lua estampadamente enorme.
(1) declarado a "Ave do Ano 2017", em Espanha.
(rascunho nº 151)
20.7.18
12.7.18
Diásporas ao Deus~Dará
já há uns bons tempos que não ia a um restaurante chinês e então hoje,
sei-lá-porquê, deu-me para ir ao Restaurante da Rosa, mas afinal a Rosa andava
por outros jardins…
Mal entrei, fui imediatamente recebido por uma jovem chinesinha que me
abriu o espaço com uma larga simpatia que me surpreendeu. “Isto já teve
melhores dias”, pensei. Sentei-me, retribuindo q.b. a simpatia da menina com um
sorriso até sincero lá no fundo.
Comi algo comestível, e o melhor foi a salada, mastiguei esquecidamente os
vegetais que depeniquei na travessa, com o complemento direto de um Evel branco fresco e para enlaçar a
coisa no fim: café & saqué de rosas.
Enquanto o laço não acontecia, olhei à volta para os altos-relevos e as
pinturas com o tal brilho eclético dos plásticos o que me seduz muitas vezes são as
palavras desenhadas em mandarim, e olhando-as traço a traço, invento traduções
rocambolescas, pois só cada uma dá pano para mangas.
Ponho-me a observar, comedidamente é claro, a empregada chinesinha bem acompanhada
pela luz morna do local, fininha, impávida, e tentei adivinhar-lhe algo de
dentro dela mesmo, para além da
epidérmica empatia já demonstrada.
Não estava a ser fácil chegar a outros portos...
O café e o respetivo anexo chegaram, a pikena
estava por aqui há 1 ano, respondeu-me, com o seu ar naturalmente aprumado, já
arranha o português do cardápio e até um pouco mais e, mais uma vez, aquela incerteza de eu a olhar, olhos nos olhos,
e ela espreitar-me sei lá de onde. Disse-lhe que era um antigo cliente da casa,
perguntei-lhe onde parava a Rosa e ela disse algo de “Avero”
(Aveiro?), acrescentei mais umas lérias oportunamente circunstanciais tentando
prepará-la psicologicamente para me oferecer, por decisão própria se possível,
o 2º saqué de rosas, que afinal no tempo da Rosa era trigo limpo, ai que porra.
E eu gosto deste “bagaço”, não sei bem se é pelo saqué em si e o seu efeito
em mim, se é pelas rosas, pois eu amo todas as flores, eu amo as cores, eu amo
os aromas, as suas elegâncias, os silêncios, as sombras, a permanente entrega
aos outros e a si próprias, Oh! como eu amo as flores. Sempre tranquilas sempre
à mão de semear de qualquer mão amiga ou matreira, eu amo despudoradamente
estas criaturas de deus, que não se cansam de me ensinar coisas das artes e da
vida.
Entretanto dediquei-me ao café e ao tal néctar, que acontece em cálices
pequenos, rendilhados com dragões a fumegarem linhas curvas, e eis a piada da
primeira descoberta: quando a coisa está cheia, a gente ao beber o primeiro
gole repara que lá no fundo está uma sr.ª toda descascada numa pose abertamente descarada e a gente olha e das duas uma, ou ficamos enlevados
eternamente por caminhos lúbricos & afins ou então continuamos a bebericar,
pois em princípio é este o objetivo do ato, enquanto a provocação se vai
diluindo no fundo vazio do olhar, até desaparecer de todo.
Bá-lá, entretanto a música? suave & calma parece mal dizer oca,
obrigava o maralhal ali presente, demasiado próximo ao meu território, a
amainar a algazarra com que tinha entrado, o que eu agradeci muda e
convictamente aos músicos chineses, aos deuses chineses e também portugueses e
a tudo o que ocasionalmente tinha contribuído para tal. Cansado de vislumbrear,
pedi a conta, que remédio, com um gesto arredondado de uma só mão (mas ainda
com umas ténues esperanças do que seria provável acontecer-me) e o tal saqué de
borla Lá Surgiu, meticulosamente colocado ao lado do raio da conta. Enfim, vale
mais tarde do que nunca (dizem eles que um dia, um dia é que vai ser) e rejubilei
saborosamente por ter reavido tal privilégio, atirando o último trago goela
abaixo e sentindo-me deliciado com o fogo que se extinguiu melodiosamente pelo
corpo todo.
Com tais sortilégios acontecidos, saí para a rua bem senhor de mim mesmo e
do meu destino, fogueei 1 cigarro no meio da noite e algumas estrelas
permitidas pela névoa citadina deixaram-me que tal acontecesse: neste antro
insano de concorrências, foi milagre !
(Rascunho Nº 216.Portugal.2010)
11.7.18
7.7.18
Acta de uma Flor num dia de Verão. ( postagem dedicada aos Sr.s Professores. Até Quando?)
autor: j. a. m. -.-
|
6.7.18
cem títulos
(...) falo-te das sombras acesas das koisinha da
vida, essas paisagens atravessadas pelo rigor dos dias & das noites, exatamente
como se todos os lugares tivessem a mesma forma do que és.
Vivemos por circunstâncias dizem, sempre dentro sempre fora, muito mais dentrofora do que pensas saber quando ainda pensas, com a tua liberdade, quando existe, e
o nosso desconhecido destino comum nada distraído em nós.
frondosas árvores crescem sobre pedras.
(1999)
2.7.18
27.6.18
25.6.18
hoje deu-me para ir jantar fora
Hoje, deu-me para ir jantar fora. Ao
restaurante mais próximo, dado que estava a chover e eu e os guarda-chuvas não
temos uma relação lá muito íntima, mas com o tempo lá acabei por aceitar tal facto.
O que a gente não acaba por aceitar, com o raio do tempo? Lá fui entre a noite bem
escura e as gotas de água fria que me perseguiram até à meta pretendida e quando desemboquei na coisa é que me apercebi que amanhã será feriado e por
conseguinte todo o pessoal da zona lhe deu pra ir prá-li.
Lá me alinhei aprumadamente na fila de
espera depois de emprestar o (meu) nome ao men
de serviço nos apontamentos lá fiquei entretido com o vái-vém corredio dos
empregados, mais um ou outro personagem que sobressaia e me levava o olhar para
lá onde acabava por se esfumar (as mesas fartas, as bocas a mastigarem
abertamente, os vários planos arranhados das algazarras, os omnipresentes telemóveis
pelo meio das batatas fritas & as carnes a fumegarem, o ruido abrupto das 4
pernas das cadeiras juntas quando deslizavam,
um prato que foi desta pra melhor forçando à despedida a presença obrigatória
de muitos olhares, por aí…..)
e sem dar por isso já estava a ser encaminhado
por um empregado conhecido que me levou pela mão (esta inventei agora :-), para uma mesa com duas
cadeiras, onde obviamente só ocupei uma. Aparentemente. Dado que a outra, por
debaixo da toalha de linho rafeiro, abandonada na queda, servia-me para apoiar
confortavelmente as sapatilhas encharcadas de todo. Por cima da minha cabeça
havia uma T.V. e no início estranhei tanta gente a olhar para mim. O meu ego
veio ao de cima mas logo o despachei, pois tenho mais que fazer.
Dado a algazarra inopinada (em relação
às minhas perspetivas iniciais), explico, não só pelo feriado já aludido mas
também porque já começou a coisa do
Natal e ele há grupos & mais grupos a juntarem-se para se comemorarem e ainda bem quando chegou o empregado com aquele livro muito fino que só tem meia-dúzia de
folhas habitualmente, mas aqui fica-se pelas duas, eu disparei-lhe logo a
solução: ½ dose de açorda de camarão (lá
são generosos nisto, já não é a 1ª vez) e o
maduro branco da casa ( é do Douro,
bonzinho até à data), e aguardei pastando o olhar pela multidão de vozes e
rostos e gestos e televisões ligadas nos 4 cantos do lugar, nesta altura do campeonato, ainda abandonadas de todo, quem diria? Felizmente o pedido não demorou a ter resposta,
pois já estava a esgotar o cardápio visual & sonoro. Debrucei-me sobre o
assunto em questão e isolando-me do mundo à-volta, saboreei o repasto, pois
realmente a fome é negra, como dizem
os pobres pois os ricos ainda não chegaram lá e com a noite da alma onde vivem ainda
mais, depois havia ali mesmo à frente do meu nariz mais 1 camarão rosadinho que nem as bochechas de uma minhota, mais uma conchinha para escancarar, mais uma colherada de açorda com
orégãos & a faca o garfo entrecruzando-se num bailado amistoso + uma
golada do vinho fresco, tudo estava a ficar mais claro e comecei a serenar os impetuosos
ânimos um tanto ou quanto já exaltados do meu dele estômago que desde manhã
cedo, não tinha vislumbrado niente.
Fizemos as pazes, finalmente nunca é tarde para tal deslumbrante facto, a meu
ver.
Mastiguei demoradamente, como é meu
hábito, entretido com os minúsculos sabores que advêm de tal esforço pelos
vistos compensatório para as papilas gustativas que bateram palmas em uníssono e escortinando agora à-volta aquele mundo parecia-me longe. Tinha-me desligado.
Aprendi esta pequena arte algures com um mestre budista que, mal me apanhou a suplicar-lhe pela iluminação, me enfiou numa
gruta sozinho por um ano e tal. Foi numa alta montalha do Tibete (bem perto de um portal) toda alva de neve e quando saí
de lá até voei. Bendito mestre.
Bons tempos...em que entre mim e os
anjos apenas havia a diferença no comprimento das asas.
Depois regressei aos insanos ocidentes made in U.E. prá-ki made in U.S.A. prá-li, mais o Trump e
o Kim naquelas poucas vergonhas, tudo no fundo feito num nó cego bué amistoso & mafioso, e todas
as tais minhas asas foram à vida. 1º fiquei desencantado de todo numa tristeza sem nexo ( e sem sexo) , depois caí numa
depressão horrível e mais depois, logo a seguir, psicólogos psiquiatras pírulas um balúrdio
de $ na farmácia [1].
Terra esta de danados... Também de pessoas simples, humildes e humilhadas tantas
vezes, parece-me que só ás vezes damos por isso.
Após um café e um incendiário bagaço
(fabrico caseiro de alambique, proibido nas Europas eles lá sabem o que fazem?)
lá me dispus a declarar-me à noite que remédio, regressando a casa entre
estrelas muitas e gotas de chuva agora prateadas pela luz descarada que descia
da lua cheia.
mês do Natal( Rascunho Nº 241)
[1] Onde, graças a Deus, me deixam pagar ao fim do mês quando o patrão me dá, também dizem: graças a Deus, o tal de ordenado mínimo.
Série: Labirintos Acesos
120X120 cm. Autor J. A. M. - 2018 ~ Link: https://www.ted.com/talks/janna_levin_the_sound_the_universe_makes#t-277925 |
22.6.18
Blog: Gazeta de Poesia Inédita.
Celebro a vida todos os dias.
o silêncio serpenteia-se nas ondas do ar a boca da noite
abre as flores do coração curva os sons que tem sempre à mão
e o tempo habita-nos mais ao sabermos nos olhos as sombras
que se despedem das árvores onde os pássaros acordam
os primeiros tons do dia sob o lençol verde às tantas
da manhã pelas cinco e tal ou quase assim começam a sinfonar
uma visão acesa para quem esmorece ainda é cedo ainda há o segredo
de haver um mundo contudo sagrado.
( J. A M.)
Link: https://gazetadepoesiainedita.blogs.sapo.pt/jose-alberto-mar-celebro-a-vida-todos-4994
15.6.18
13.6.18
"os trabalhos e os dias"
é necessária uma longa preguiça
laboriosa distracção para que o acaso encontre
as portas do seu espírito.
é preciso aguardar atento
esses nomes estremunhados ainda
circulando sobre os corpos a espera
no sono disfarçado pelas mãos.
( 2001 ? )
7.6.18
5.6.18
coisas nocturnas
até que enfim o Porto hoje era uma cidade viva às 3 horas da manhã
ainda havia uma chusma de gente nas ruas à volta dos Clérigos e enquanto
resolvia comigo a estranheza da novidade, acabei por me sentar numa cadeira à
frente do café Piolho. havia pessoal desordenado em grupos, falavam,
riam, bebiam. Gostei. havia um aroma quente no ar & fiquei por ali o tempo
de 2 finos frescos, ou foram mais?
Depois, atravessei a escuridão do jardim da Cordoaria, onde revi de soslaio,
mas com atenção, as estátuas do Juan Muñoz. com aquela parca luz geral a
gentinha do Muñoz ganhava um ar mais severo e bizarro. Mas, porque é que não
estavam parados?
As extensas sombras pelo chão pareciam levitarem ao som dos candeeiros sobriamente acesos. ao fundo, ainda estalavam no ar as gargalhadas dos jovens, abrindo a noite a outras luzes mais.
( 2009. Rascunho Nº 213 )
31.5.18
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