24.4.19
22.4.19
no deserto do Saara
Foto : J. A. M. |
trata-se
genericamente de pontos de vista como outros quaisquer cada um vê à sua altura
e nem há alturas mais +, nem desalturas.
Estamos todos numa viagem aparentemente longa, um homem com pressa é um homem morto,
eis um ditado de gentes apaziguadas entre si & a vida nos desertos por aqui
há tempo para tudo é Tudo pois o céu é amplo e os horizontes são eternamente
demorados no presente, o tal tempo que foi expulso dos dias & das noites
por aquelas bandas Ocidentais por onde desandam os macakóides a correrem
sozinhos cada um com a sua meta & o descalabro dos seus desígnios impostos
& aceites como únicos,
quando
por vezes acontece passarem ao lado, por exemplo, das árvores que já não
enxergam, elas abanam desconsoladas as suas cabeleiras e por vezes até criam ditirâmbicas alianças com as aragens e
assobiam fraternalmente, mas qual quê moucos de todo.
Quem
os convenceu de que sozinhos vão a qualquer lado?
14.4.19
Imagens Afundadas na Memória ( 15º)
Nazaré. Foto: J. A. M. |
Como um navio deixa nos olhos uma sombra em movimento
o mundo é um cais iluminado só por um lado crescem as raízes
das estrelas que os dedos só sonham apesar das palavras agora
falo-te assim como um navio que vai de imagem em imagem,
lentíssimamente, atravessando um instante sempre atrás de outro
o tempo é uma água calada que não pára de navegar.
( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998)
11.4.19
~ Imagens Afundadas na Memória ( 13º) ~
Obra: J. A. M. |
Pega-se no nome: Mundo.
E em cada letra o som de uma estrela madura estremece a língua
que diz: M u n d o
como se os sons nos encaminhassem
para uma casa longínqua.
Mundo por dentro e por fora apenas o nome
que enche um lugar de dúvidas e dons.
( in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, Lisboa-1998)
28.3.19
As Mãos Góticas ( 3º)
Obra de : J. A. M. - 2017 |
mais sábia é essa porta que procuras
no rumor da súbitas manhãs
quando os olhos recebem do seu sono
a cerimónia de uma luz sem horizontes.
E quando um sonho é feito de matéria para os teus olhos
para quê cantares as ciências das bocas consagradas?
- in, As Mãos e as Margens, Editora Limiar, Col. Os Olhos e a Memória/57, 1991 -
27.3.19
Participação no " Correio do Porto" ( 2016), dirigido por Paulo Moreira Pinto.
19.3.19
18.3.19
Estremece a estrela que vive
naturalmente aberta à escuridão
e nos 2 olhos cintila
e nos 2 olhos cintila
o véu do instante a aparência maior
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias
as multidões são mecânicas.
do que é superfície e aí se afoga
na multidão dos dias
as multidões são mecânicas.
Vejo nos gestos a estrela amparada
pelo silêncio que aspiro, o lugar onde
qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pelo silêncio que aspiro, o lugar onde
qualquer semente pensa
sonhando com tudo
pois nada do que é fruto
acontece sozinho.
acontece sozinho.
(J. A. M. - Set.-2009)
7.3.19
As Fronteiras Agitadas
Foto: J. A. M. |
Eu não sei como dizer-te dizendo as formas
à-volta tangentes
ao meu corpo tudo ligado.
Linhas invisíveis separam e partilham
os mundos
- vários limiares.
Baralharam as lâmpadas acesas com a sedução
das estrelas. Inventaram Criaram
Transformam
Destroem.
Como dizer-te
os simples segredos da Terra. A minha seiva
sangue resina sangrada
nas luas cheias tempestuosas no corpo.
A imaginação acordada nas sementes
já nos frutos a água doce
para a sede das bocas
no fim completo da elipse.
Como tocar a simbólica garganta sozinha
na nascente da nosso voz mais esquecida
onde já não há livros nem palavras evidentes.
Os sons do mundo batem furibundos
no céu das bocas atraiçoadas
pelo ódio e pelo amor.
O comércio a ganância assassina
sob a ingénua luz das estrelas.
Imparcialmente a noite é dividida
para cada um a sua sombra.
Olhar-me assim, sagrado animal acossado
pelas suas próprias garras apocalípticas
das antigas ciências onde o anjo ferido
é caça e caçador
desafio entregue às estranhas vontades
dos homens alguns.
( in, "As Mãos e as Margens", Editora Limiar, Col. Os Olhos e a memória/57.1991)
27.2.19
Cinturão de Asteróides
Autor: J. A. M. ( Entrevista com a psicóloga Gilda Moura, " Programa Vida Inteligente": https://youtu.be/YkQh8cJzPIM ) |
21.12.18
16.12.18
~ Mercado de Sucupira ~
6 horas e tal, as mãos & as moscas e às vezes uma
delas está a poisar AGORA…Zás!…apanhei-te…
e depois olho, olho e não vejo nada
e então, depois de uma noitada em que atravessei
vários mundos na Praia [1],
já estou no interior de uma antiga camioneta amarela torrada pelo sol
transformada em restaurante. Depois de ter aviado uma catxupa [2]
num prato de lata redOndo mesmo, sentado numa mesa à porta da dita a colher
imagens da gente que vende coisas, que compra algumas dessas coisas e das
pessoas que passam de um lado para o outro abrindo naturalmente o ar que as
ampara.
No geral “a coisa está preta”. Depois, levanta-se nas
cores das roupas. Dá-me a impressão, ainda sujeita a posterior confirmação, que
o vermelho é o eleito. Impõe-se só por si, a seguir há os amarelos e os verdes
em N tons. O verde-alface é bem considerado por aqui. O branco, obviamente.
Uma jovem mulher expõe com 1 só braço suspenso
exatamente uma garrafa grande de água gelada e espera alguém que a leve. Tem
uma bunda maravilhosa e sei lá por que é que olhei para este caso. Alguém
transporta carne de um animal já muito morto numa bacia de plástico cor-de-rosa
em cima da cabeça, mas o que eu vejo com estes 2 olhos que a terra há-de comer,
é uma chusma de moscas tresloucadas com o manjar. Irão pesar as moscas também
aquando do negócio ou serão o brinde, com certeza.
Lá ao longe o céu está assim-assim-escurecido, sei lá o que vai ser por
aqui nunca se sabe e já transpiro bastante, ponho-me nu, da cintura até à
cabeça exponho o peito a alma, tudo.
Passa mesmo à frente do meu nariz uma menina toda
sirigaita, retocando os cabelos com uma mão distraída e a treinar o gingar das
ancas que ainda se estão a abrir às sementes que um dia virão, e lá vai ela
muito compenetrada no seu papel de ser gente grande também, à espera de ser
amada quando acontecer e será para breve, vê-se. Ali vai um gajo todo inclinado
para o rádio aos berros na mão esquerda junto ao ouvido do mesmo lado e é
música que não tenho tempo de saber, mas com aquele ar tão feliz é boa de
certeza.
Ainda
as eternas mangas as bananas ao lado juntas ao quilo,
maçarocas de milho tenro, galinhas aos saltos, compotas, bolsas de coco e
outros objetos decorativos feitos de conchas e dádivas do mar, cestos de folhas
de tamareira, sapatos sapatilhas e chinelos para todos os gostos, mandioca,
queijos da ilha de Maio, ervas medicinais, garrafas de manecom [3],
licores, Tudo…
e a evidente e dura realidade da sobrevivência. São as
mulheres, sempre rodeadas de bandos de filhos espalhados em brincadeiras por
ali, que erguem toda esta trabalheira.
Cumprem-na devotadas e depois, ao fim do dia no silêncio pesado da noite
instalada, desenlaçam-se, encostam ao de leve a cabeça a uma esperança qualquer
que nunca vislumbrei e ficam assim desimportadas engolidas pela escuridão, até
que o sono as recolha.
O papel dos homens por estas bandas, parece-me que é
atirarem-se a elas esporradicamente e depois basam logo na primeira curva do
tempo d´encontro às luzinhas do grogu [4] ou desenrascam mais um poiso temporário
algures numa outra ilha deste arco verde, por onde vão cumprindo os seus
ancestrais ofícios de marinheiros vagabundos.
E são as mulheres as raízes destas 10 ou dez mil
ilhas. O resto é mar, mar e mais mar
e depois ainda
o m ~ a ~ r
[2] Prato típico da
gastronomia de Cabo Verde, confecionado à
base de milho, feijão, carne e/ou peixe.
[3] Vinho produzido nas terras
vulcânicas da Ilha do Fogo.
(J. A. M. - Cabo Verde. Ilha de Santiago. Praia – 2008-2018.
Rascunho Nº 324
28.11.18
10.11.18
Título: " Mundos Quânticos "
Técnica: tinta da china e acrílico s/ papel canson. 100X100 cm. 2017 . Obra de : J. A. M. |
"Os padrões internacionais que definem o quilograma e outras grandezas vão mudar na próxima semana, quando a entidade internacional de metrologia votar a adoção de fórmulas da física quântica para determinar quanto valem.
O Comité Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), numa decisão que será votada por representantes de 60 países reunidos a partir de terça-feira no Palácio de Congressos de Versailles, passará a usar uma fórmula conhecida como Constante de Planck, avançada em 1900 pelo físico teórico alemão Max Planck, prémio Nobel da Física em 1918.(...)"
7.11.18
3.11.18
~ encontros do acaso ~
Os lençóis negros da
noite desciam, tombavam, adormeciam colados uns aos outros, como as folhas das carnaubeiras [1] juntas
secas no chão.
Depois de várias voltas
por N ruas obscuras da cidade pareceu-me que era por aquelas bandas que a festa
começava a fervilhar. Num passeio de uma rua desamparada, encontrei um banco à
minha espera e pedi mesmo ali à Sr.ª da
roulotte uma cerveja bem gelada.
Recostei-me, costas com parede e vice-versa, e pus-me a pastar
vacarosamente o olhar à volta: havia de tudo o que era gente, jovens em
grupos soltos e felizmente assim, pessoas solitárias, alguns com ar de quem
procura desinspiradamente libertarem-se daquilo, outros já mais ancorados nas
suas derradeiras sortes, havia casais apaixonados que nem pássaros azurumbados havia
também mulheres de todas as cores e as mais belas prendiam-me o olhar por mais
tempo, e logo depois, desapareciam pelas portas dos vários bares de onde se
soltavam canções às molhadas e, de quando em quando, tudo aquilo fundia-se no
fundo mais profundo do meu ser e dava-me sede para mais uma cerveja.
A incerta altura, uma
menina sozinha por fora e por dentro aproximou-se de mim, de cerveja na mão e
sentou-se a meu lado. Depois continuou calada, ancorada e eu também não de
cerveja na mão. Encostou a sua tristeza desarmada no meu ombro abrigada e eu
comecei a cantar. As minhas canções eram peixes criados ali, para o seu mar. E
sem darmos por isso, pousámos os olhos nos olhos & começámos a beijar-nos. Já o seu fundo sereno tinha um outro olhar. E uma
paixão qualquer aconteceu naquele lugar.
Claro que o dia nasceu sem nos avisar.
(Jacaúna.
Estado do Ceará. Brasil)
Rascunho Nº 288.
[1]
Variedade de palmeira, com caraterísticas singulares, também conhecida pelo
povo como a “árvore da vida” e considerada o símbolo do Estado do Ceará.
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