"Não só as coisas acontecem com as pessoas, (...) cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter."
(Não gosto nada de citações, mas, nestes tempos que correm, há coisas que vale a pena repetir)
O palhaço
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem. O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada. Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver. O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar. E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples. Ou nós, ou o palhaço.
É necessária uma longa preguiça laboriosa distracção para que o acaso encontre as portas do seu espírito. É preciso aguardar atento esses nomes estremunhados ainda circulando sobre os corpos a espera no sono disfarçado pelas mãos.
(extracto.in,"As Mãos e as Margens", Editora Limiar.Porto.1991)
.. no entanto, ainda há os dias que virão, as velas acesas dentro dos corações animados para cima dos sonhos e estes como gritos acordados a chamarem o corpo para o equilíbrio das vozes inspiradas e tudo o que realmente é desconhecido como um desenho esboçado à felicidade do Homem - quanto tardas?
..e do animal às asas nos símbolos ocidentais da brancura, as imagens nos tempos que correm já ultrapassam as visões dos homens de génio, ainda espero desesperado uma espécie de justiça entre os homens, porque é que a ganância nunca mais sabe encontrar a sua morte?..
...regressa..debruça-te sobre os teus primeiros sonhos enquanto eras criança era a água metafórica a respirar para cima, o teu corpo aberto ao sol e às perguntas que amadureciam com as folhas das árvores, verdes, verdes eram as emoções impressas dentro das noites que acordavas, a infância é sempre tão vasta e desprendida, não era?..
....colher dos teus olhos a voz que me chama sei lá para onde eu olhe o teu corpo está nu e eu vejo-me despedido pela natureza e já não é a carne, nem os cabelos, nem a púbis, é outro o espanto que me afronta, talvez volte aos teus olhos e ao fundo dessa luz irei a caminho de quem me cativa assim, sem mais nenhuma palavra embalo a noite que me leva...e já nada tem haver contigo.. é outra a chama que me chama...quantos deuses são inventados nestes percursos?..
Estou na ponta d,areia. Sentado à sombra. O guarda-sol é cor-de-laranjas maduras e à minha frente há o mar vivo e aceso.No céu vários tons azuis luminosos descem naturalmente sobre tudo o que é vida.
À minha volta, o povo espraia-se finalmente no seu sábado.
Há gazelas morenas, umas a seguir às outras, é difícil acompanhar com a devida atenção tantos ritmos ondulantes e belos, sob este sol de deus.
Também as crianças vivem à-solta por aqui, onde o mar larga de vez as suas ondas e dão cambalhotas e correm chapinhando a água dócil, entre pikenos sal/ tos, de quem está mesmo felizmente feliz.
Passa alguém com uma caixa transparente pelo braço e leva ovos de codorniz, camarão cozido, umas comidinhas que outros irão comer, concerteza.
Olhando para trás, vejo dois candeeiros públicos ainda acesos a despontarem por entre os altos verdes das árvores sossegadas e claramente alheadas do assunto.
É de lá, dessas bandas, que chega até aqui aquela música popular, sempre a tocar as esferas do coração. Tem jeitos de frases muito simples e até bem fundas se as deixarmos espalharem-se pelo corpo inteiro. Muitas pessoas, cantam-nas em grupos e alegram-se simplesmente assim.
1 papagaio caiu agora a meus pés e só agora enxergo que é feito de plástico que já foi saco de super-mercado, mais uns pauzinhos de coqueiro aliados, e aindamais agora, o menino já o ergueu no ar e aquela coisinha frágil, como TUDO, dá curvas sozinho com a sua cauda louca sem tino, esburacando o espaço, rodopia veloz e depois..,
já nem tanto..
cai
no chão sólido do mundo e a criança continua a ser uma criança a brincar e já é muito, tomara eu.
A menina do bar, mais crescida, mini-saia de ganga boa perna, camiseta vermelha viva desabotoada até incerto ponto, de bandeja prateada na mão esquerda, já aviou mais umas cervejas "Sol", a uns jovens que estão prá-lí num forrobodó evidente.
Um bandozito de pardais passa à frente do meu olhar a rasarem o grande areal, com cadeiras & mesas, azuis, vermelhas, brancas e cinzentas. E, desaparecem numa curva uníssona do tempo," o que é feito deles?", enquanto uma parte de mim ainda se regala a fazer jogos infindáveis com as cores do cenário.
Lá adiante, lá ao fundo, uma tira horizontal de água evidentemente salgada mais cintilante no brilho, parece fazer-me um apelo secreto e pessoal, mas agora não me apetece falar disso
(Texto revisitado.2009.Original de São Luís do Maranhão -2007)
23.10.09
- Foto. Perto de Natal.Brasil. j.a.m.-
“Quem sabe esperar pacientemente é um vencedor”. (Anônimo)
Há coisas do diabo. Já fui ao Paraíso. E voltei. Era um lugar sem a chatice dos turistas, a uns bons quilómetros de Recife, em direcção a um dos pontos cardeais do mundo.
Estava já quase acordado na cama do meu quarto, no Hotel Europa, quando a Ana e a Joyce abriram a porta cheias de sorrisos floridos e me convidaram para dar um passeio pelas franjas de Gaibu. Lá fomos, que nem 1 trio harmonia pelo dia adiante.
Passámos pela linda praia de Calhetas, onde vi ondas debruçadas sobre a própria espuma e mais espuma sempre, depois de serem verde-esmeralda e azul-turquesa, e também vi uma foto do jovem Eusébio no bar lá do sítio, ao lado de N ilustres que por ali tinham po(u)sado algures, ao longo dos seus destinos. Depois, continuámos a caminhar por entre árvores, plantas e flores de muitas cores e aromas, até que, a certa altura, num morro inesperado e cheio de azul muito azul do céu, vi uma tabuleta tosca de madeira com a palavra: “PARAÍSO”.
As minhas companheiras apanharam o meu ar aparvalhado e eu apanhei-as a sorrirem apenas cúmplices. O que é que eu tinha a dizer?
Lá descemos entretidos com os pés de cada um, a saltarem de pedra em pedra, até que desembocamos numa espécie de praia com a água muitomasmuito transparente e a areia quase prateada pelo pôr-do-sol que se diluía pelas águas até ao esquecimento. Sentámo-nos a olhar e a escutar o mundo através daquele ponto de vista, dentro do ponto de vista de cada um e os três sentados juntos com as 6 vistas desarmadas, despidas, deliradas. Já não sei, e pouco me importa, o tempo (o tempo?..) que poisámos ali, a respirar aquele simples paraíso tão simples realmente em tudo. Lembro-me vagamente que as palavras eram coisas a mais e a ninguém lhe passou pala cabeça falar de tal coisa.
Quando regressámos a Gaibu, numa camioneta que ainda circulava, já lá estava instalada uma noite claramente aberta á nossa festa.
"Poucas serão as escolas em que o professor não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar. A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam. Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar, nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta(...)".
"Houve 1 e-mail, de Abril de 2008, que se soltou do jornal o público e foi parar a um jornalista da ilha da madeira e depois ainda foi foi cair no jornal diário de notícias e mais tarde voltou aparecer no jornal o público, um mês antes das campainhas das eleições e entretanto o sr. presidente da república de portugal disse que não dizia nada acerca do assunto mas disse-o distinguindo o seu braço direito de há 25 anos tornando-o o seu braço esquerdo no meio de 120 pares de braços que por ali andam a esbracejar, e agora, depois do p.s. ganhar a eventual continuidade do desgoverno do país, o sr. presidente deste local em causa, apareceu em todas as televisões a dizer que suspeitava andar a ser espiado pelos ouvidos do "S.I.S.Tema" do já referido desgoverno, mas a gente que ouviu aquilo não entendeu patavina do desabafo, embora pelo visual dê para perceber que a "coisa" parece séria e o sr. presidente já não está para brincadeiras do género e francamente eu também já perdi mesmo a paciência para aturar esta cambada".
Estremece a estrela que vive naturalmente aberta à escuridão e nos 2 olhos cintila o véu do instante, a aparência maior do que é superfície e aí se afoga na multidão dos dias a vida é mecânica Vejo nos gestos o silêncio amparado pelo silêncio que aspiro, o lugar onde qualquer semente pensa sonhando com tudo pois nada do que é fruto acontece sozinho.