José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

6.7.20

~ 11º Pedaço de mais um diário perdido ~

" O meu pássaro. My bird. ( digital-art ). by: J. A. M. - 2020
























E tu, disseste-me:
tenho N estrelas nas mãos, tenho toda esta luz retida e não sei o que fazer.


Escutei-te, como quem é distante, Mas, eu estava ali. E, nada disse.
Deixei que o silêncio se alongasse até que tu tivesses, eventualmente, alguma necessidade de prosseguir.


Entretanto um bando de pássaros esvoaçam em círculos por cima. Ambos olhámos. Demoradamente olhámos.
E um silêncio cheio, despediu-nos.

- Até 1 dia destes.


J. A. M. 

( Rascunhio Nº 6 )


30.6.20

~ 10º Pedaço de mais um diário perdido ~


Trabalho Visual. J. A. M. -2020



Algo desce ou sobe, cresce, amadurece e 1 dia há uma semente nas tuas mãos.
Ou no teu coração.


Uns tempos mais adiante, já temos uma árvore: ramos que dão ramos, folhas que dão flores, por aí. Por vezes, frutos.
Quando o calor aperta nos Verões que eram, deitas-te sobre a sombra dessa esplêndida árvore que cresce sem o saberes e adormeces. 


- vens pela rua abaixo da tua aldeia algures nesta província feita deserto de seres humanos.Vês apenas as estórias que ainda estão vivas na memória, vês agora  como tudo se tornou maior, as casas a mãe e o pai no meio dos pratos e da terrina a fumegar, vês a lareira arder onde acabas as noites, a olhar as chamas que lês como um livro sem fim.


Depois  acordas : a sombra despedida  tudo já é escuridão, os lençóis negros da noite não te aliviam o frio.
E há sempre um frio que também acontece por dentro.


Entretanto olhas à volta e reparas numa semente que caiu enquanto eras menina no sonho.
Apanhas a semente com ambas as mãos pequenas, levantas-te e desces até casa, onde os teus pais te esperam: a sopa  a colher,  o pão ao lado.
Colocas a semente sobre a mesa e os teus pais sorriem.


J. A. M. 


( Rascunho Nº 3)

25.6.20

( Marketing Gratuito)

Série: Flores com Aromas. Anos 80. J. A. M. 
























primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos transcorriam como caravelas loucas com todas as suas 10 velas nas polpas sensíveis cada vez eram mais e eu lá ao fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
E ela estava deitada, absorta no seu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-a a crescer nos ritmos da respiração e de um lado e do outro éramos cada vez mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio que ambos tínhamos de possuir, precisamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no entanto, não era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com todas as portas abertas ao Mundo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos no fundo jaziam. Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais apuradas já não dizem palavras.
E os gestos criavam outros mundos onde só nós cabíamos, onde só nós éramos perfeitos, à espera de o sermos.


 (São Luís do Maranhão. Brasil)




NOTA texto incluído no Livro de Contos, a sair brevemente, intitulado O OURO BREVE DOS DIAS. Edição LeiaBrasil. 

Após um intervalo de cerca de duas décadas.

 O autor publicou  anteriormente 3 livros de Poesia, tendo o primeiro merecido da Associação Portuguesa de Escritores (A.P.E.) o Prémio Revelação de Poesia, tendo sido o coordenador do Júri, o poeta António Ramos Rosa. Obteve mais 2 prémios nacionais de poesia, que resolveu não assumir, por razões de índole pessoal.
O atual Livro, contém Contos escritos em  alguns países dos PALOP(https://www.cplp.org/)

18.6.20

~ 9º Pedaço de mais um diário perdido ~


(Inimă. Coeur. Coração. Koro. Heart) by: J. A. M.




(…) Enquanto caminho ao sabor da leve aragem que me acompanha re/paro por perto no aroma espalhado de uma visita a que não (me) tinha ligado e é saboroso vislumbrar
Agora
as flores de alfazema minúsculas violetas espigadas encantadas entre si, amparadas pelas significantes folhas verdes onde o sol se despede tranquilamente e se desfaz em prata, e vejo que me olham como eu nunca as senti.

Guardo a lição no bolso da camisa junto ao peito e continuo a caminhar para onde ainda não sei




Nota: Dedicado à minha filha, Diana Isabel (18-06-2020).


17.6.20

tranquilamente a dança continua

Foto: J. A. M.























(…) Caminhava sozinhamente feliz por um caminho muitos na floresta algures na ilha maior da Caraíbas, quando me aconteceram vários pequenos milagres

- permanente a Fonte nunca se esquece de me matar a sede.

9.6.20

Trabalho~Visual com xenolinguistica *. J. A. M.
* uma designação que alguém, algures me emprestou.

























Havia 1 marinheiro que tinha um barco.
Havia 1 barco que tinha um marinheiro.
Ambos não tinham nada, a não ser o mar e os horizontes.

Eram muito felizes naquela cumplicidade silente
com o marulhar sempre tão presente

que, quase sempre, parecia ausente.


J. A. M. 



















4.6.20

um barco e o seu barqueiro

Pintura. Autor: J. A. M. - 2020




















porque nos cai o azul sobre as cabeças


Um barco parado nas águas ao de leve sonoras do Rio Preguiças enquanto a noite desce como um lençol suavemente escuro apagando o rio, que ainda há pouco era azul e agora já é um espelho prateado virado para fora de si. Alongado pela escuridão que se recolhe nos olhos, de quem apenas olha.
 E agora, o barco já acordado no dia seguinte, desce preguiçadamente entre as duas margens de florestas e tudo são verdes faustosos até à sua foz em Caburé, onde soube de um milagre que acontecia: alguém aparecia à noite cavalgando um cavalo branco e esbelto sobre as águas do rio e era mulher diziam alguns, não sei, mas gostaria de saber, pensei eu e então fiquei por ali para ver a história e tudo aconteceu assim.
 Em silêncio: de rompante, numa brecha incerta da escuridão, apareceu a imagem em fuga mesmo ali à frente dos nossos narizes e deixou uma brisa de espanto calado sobre quem olhava pasmado e depois, realmente mais nada. Todo o mundo se olhou estranhadamente e ninguém falou



(Barreirinhas. Estado do Maranhão. Brasil.)
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ 
Nota: Brevemente a sair no Livro de Contos:
“ O  OURO  BREVE  DOS  DIAS ”.

3.6.20

Luz

Técnicas-mistas. Autor: J. A. M. 





















que atravessas o meu rosto
e tombas em algo dentro de mim, que:
não sei mas sinto
o relâmpago acontecido.

Vens de longe ou, até não 
há distâncias
vens porque, por 1 instante mais distraído
eu aconteci  em ti
e Tu és eterna, vã e sem
retornos.


( Rascunho N5.- 2020)

30.5.20

~ 8º Pedaço de mais um diário perdido ~

Pintura: J. A. M. 
















A noite está densa como bréu.


Ouço 2 ou 3 pássaros aqui  no meu jardim e no lado íntimo deles próprios,
que também é o meu.
O que dizem desconheço, mas sinto que comunicam algo de belo pelos sons que caiem em mim.

Há muitos mundos neste Mundo.
E muita Beleza, também.

E, creio bem, que Tudo se toca, muito longe ou muito perto, das palavras que vos escrevo.
Há com certeza um equívoco qualquer, nesta aparente separação.


A luz das estrelas chega até nós, após uma ilusão do tempo, que afinal é de ninguém.


( J. A. M ~ Maio. 2020.) 


28.5.20

Selfie de Guerreiro.



"El arte, para aquellos que no están todos encerrados en él como en las paredes de un monasterio, singulariza la existencia".

(in, “Notas Contemporâneas”. Escritor portugués,Eça de Queirós)
~

“Art, for those who are not all enclosed in it as in the walls of a monastery, singularly poetizes existence.”

(in, “Contemporary Notes”. Portuguese writer, Eça de Queirós)
~

“A arte, para os que não se enclausuraram todos nela como nos muros de um mosteiro, poetiza singularmente a existência.”

(in, “Notas Contemporâneas”. Eça de Queirós)

15.5.20

Pintura: J. A. M. 
~

Imagine - John Lennon & The Plastic Ono Band:

:http//youtu.be/VOgFZfRVaww





























Largos silêncios rasgados pelas mãos
até os dedos ficarem esquecidos
abrindo a vida á boca do espanto.

Portas para as vozes dos astros
corredores íngremes
como os dons do Mundo.



( J. A. M. ~ data: séc. XIX)



10.5.20

série: pequenas sabedorias ~ series: small wisdoms


27 trabalhos da “Série: pequenas sabedorias”, de dimensões relativamente pequenas realizados recentemente. Esta Série, foi iniciada em 2017, e neste momento constam cerca de 200 trabalhos finalizados. Tem – igualmente - o intuito de poderem ser acessíveis a um público que, embora gostando do meu trabalho artístico, tem um poder de compra menor.
A técnica utilizada é tinta da china e tinta acrílica, sobre papel canson. Neles, encontra-se patente o meu “estilo “e embora sem títulos individuais, versam várias temáticas diferenciadas, que serão vislumbradas de um modo subjetivo.

Artista Visual: José Alberto Mar (2020)

~

Twenty-seven works from the “Series: small wisdoms”, of relatively small dimensions and recently carried out. This Series, started in 2017, and at this moment there are about 200 works, completed. It is - also - intended to be accessible to an audience that, although liking my artistic work, has less purchasing power.
The technique used is Chinese ink and acrylic ink, on canson paper. In them, my “style” can be seen and although without individual titles, they deal with several different themes, which will be glimpsed in a subjective way.

Visual Artist: José Alberto Mar (2020)

1.5.20

estes dias assim

Pintura. J. A. M. - 2020

























à volta o silêncio
como um pássaro com asas
de pedra.

Muito devagar, o coração
ainda estremece
a fina luz do horizonte.


26.4.20

Covid 19

Trabalho Visual: J. A. M. - Maio -2020


















Por aqui, há um indeterminado peso nos dias que levanta suspeitas. Para além, das divulgadas que, ao fim e ao cabo, acabam por se interrogar a si próprias, para além das dúvidas que sustêm.

Agora é noite. Mas é o mesmo silêncio à volta, um mutismo novo que se prolonga até às minhas plantas na varanda à espera da Primavera que tarda. Enquanto lá por dentro, as futuras flores continuam a inventar-se.

(Março - 2020)

19.4.20

as vozes muitas

Trabalho visual. Autor: J. A. M. - 2020















E as vozes aparecem mensageiras
da ausência
instigam uma outra língua
elevam para longe
as vidas e as veias
o sangue, o ouro
pelas gargantas da Terra
há um sol onde a luz adormeceu.
(...)


11.4.20

Os 3 Planos

Pintura: J. A. M. - 2020



















As semelhanças não são aparências, são estrelas que agora se unem.
- e, depois vem esta espera, o tempo instalado na esfera indecisa dos nossos gestos, dos nossos olhares.

Há uma outra luz que nos faz acordar em nós.
Enquanto ainda dormimos, sem o sabermos, há esperanças vivas nesta escuridão.


( J. A. M. - 04-04-2020)



20.3.20

Novos Tempos

Título:  O 3º Olho. Autor: J.A.M. - 2020






































As imagens tocam-me mas não sei
se vejouço ou então
só em parte estarei vivo.

O ar habita-nos por dentro e por fora.
Ao sabor de fronteiras incertas. Às vezes
outro sol nasce em nós. O tempo
separa as escolhas.

E então lembro-me:
as flores em Maio dão-me para olhar.


19.2.20

Rio Minho. Foto: J. A. M. 


quero ficar assim nu de fora para
dentro, até ao vazio transparente
de alguém que o deixou de ser para
ser ponte para tudo o que é
paz, serenidade viva e mansa alegria.


( J. A. M. - séc. XX)

16.2.20

~ 7º pedaço de mais um diário perdido ~

Desenho. Autor: J. A. M. - Anos 80
























O agora, estanca, parte-se, abre-se como um fruto a seu tempo, para que o tempo seja outro e haja uma viagem à-volta.
Regressarei.
Entretanto: vivi com tribos e tribos, muitos nomes e culturas, deixei-me atravessar por N mundos diferentes, vi o geral e o particular nos pormenores e em nenhum lugar fui estrangeiro.


- Há em nós algo de tudo.



( África. Senegal.2019)

13.2.20

retrospetivas

Pintura: J. A. M. 



















1

Por vezes, alguém põe 1 dedo na ferida.
Quero dizer - alguém acorda a sombra geral dos seus nomes
e os nomes mergulham nos ritmos do sangue
e logo as mãos crescem para os lugares
e os lugares crescem com elas
e depois, fica tudo mais Alto.
Há quem passe, olhe de lado e continue a sua vida.
Outros há que passam e se detêm
por um pormenor mais chamativo.

2

Claro que todos os lados, todos os nomes
são pretextos. E os lugares também.
Nascemos e morremos por uma graça indomável
perdida no tempo. Andamos às voltas disto tudo
enquanto por dentro acordam & adormecem
as sementes povoadas pelos estranhos frutos
de uma sede sem fim.

3

Vozes e vozes que cantam a Vida e
o exemplo de milhares de sóis
mesmo sabendo-se que para outros olhares
há um abismo memorial nas cabeças
uma outra idade outra boca menos cercada
pelos dons dos dias na transformação dos corpos.



- J. A. M. in, “A Primeira Imagem”, Ed. Sol XXI, Lisboa, 1998 -