Série: Flores com Aromas. Anos 80. J. A. M. |
primeiro foi uma
sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão
suave a pedir só mansidão e elas, as mãos transcorriam como caravelas loucas
com todas as suas 10 velas nas polpas sensíveis cada vez eram mais e
eu lá ao fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça
esboçada do mundo por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no
silêncio ofegante da noite.
E ela estava deitada,
absorta no seu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu
sentia-a a crescer nos ritmos da respiração e de um lado e do outro éramos cada
vez mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio
que ambos tínhamos de possuir, precisamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no
entanto, não era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com todas as
portas abertas ao Mundo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo
era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos no fundo jaziam.
Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais
apuradas já não dizem palavras.
E os gestos criavam
outros mundos onde só nós cabíamos, onde só nós éramos perfeitos, à espera de o
sermos.
(São Luís do Maranhão. Brasil)
NOTA: texto incluído no Livro de Contos, a sair brevemente, intitulado O OURO BREVE DOS DIAS. Edição LeiaBrasil.
Após um intervalo de cerca de duas décadas.
O autor publicou anteriormente 3 livros de Poesia, tendo o primeiro merecido da Associação Portuguesa de Escritores (A.P.E.) o Prémio Revelação de Poesia, tendo sido o coordenador do Júri, o poeta António Ramos Rosa. Obteve mais 2 prémios nacionais de poesia, que resolveu não assumir, por razões de índole pessoal.
O atual Livro, contém Contos escritos em alguns países dos PALOP(https://www.cplp.org/)
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