José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

10.2.22

A Ilha Encarnada

 

Pintura: J. A. M. 


Olho-te agora de longe. O teu rosto enaltece a luz que cai entre os muitos ramos das enormes árvores à-volta e ao mesmo tempo é uma luz saída de dentro de ti. Com um sorriso leve igual a 1 pássaro suave que vai passando. Entre ti e este momento, entre ti e a tua discreta doação ao que no fundo já sentes ser, recordei agora esse instante fugaz entre o marulhar dos pequenos peixes na água do rio e os teus pés à beira descalços e acesos no meio da fogueira que agora me apetece imaginar.

Por detrás de ti havia plantas e flores despidas pelo sol com aromas em brandas chamas, havia borboletas amarillas(1) lúcidas e loucas sem dono agrupadas em círculos, e foi então que eu vi que eras uma pequena deusa ali descida, sem testemunhas, e prometi voltar sem o saber.


(1)  amarelas (castelhano)


- Topes de Collantes, Cuba -


28.1.22

Os Poderes do Coração


 LINK: https://youtu.be/tc4FDU4OIKc


Trabalho baseado em estudos científicos, no campo da neurologia e neurocardiologia. O coração possui um campo complexo de células neurológicas. O campo magnético deste, é muito superior ao do cérebro.

(Ilações retiradas a partir do "HeartMath Institute", U.S.A.)


P.S. Ao minuto 1.10 , há uma transição.



20.1.22

Earth is just One ~ A TERRA é só Uma.

 

"MostraMuseu". São Paulo. Br. Foto: Maria Eduarda Mota. 

" A TERRA é só Uma." Artista convidado: J. A. M. 


havia uma doença de sombras. Entranhadas no ar, nos ritmos dos dias, nas pessoas que deambulavam entre estes.
Mas as sombras eram como todas as sombras:  germinadas por uma luz. Esta luz era cega, distante, não se via. Apenas alguns a pressentiam. Por dentro, era por dentro que novas sementes germinavam e quando cresciam o suficiente, toldavam os olhares. E algumas pessoas começavam a ver novas flores que as outras não viam, pois havia uma doença de sombras.
Entre a vida e estes dias sonâmbulos havia um esquecido tempo sem nomes verdadeiros ou com demasiados nomes. Aparências. Muitas notícias em algazarra. Sinais para as pessoas se ampararem.
Alguns mais desesperados matavam-se. Outros resignavam-se, á espera. A morte, apesar de sempre presente, disfarçava-se de esquecimento. Andava-se de um lado para outro, através de distrações perenes. No fundo, ninguém se via nem via os outros, porque havia uma doença de sombras. No entanto, alguns vislumbravam o que parecia ser natural. Falavam destes tempos de mudanças, sem ninguém os escutar. Acomodavam-se num silêncio de ouro que crescia somente para eles. Aparentemente. Outros ainda gritavam sem ecos. Aparentemente, pois tudo era um vasto Mundo cada vez mais ligado.


(rascunho Nº 2. 2021)



13.1.22

um mar, onde todos os rios se esquecem

Pintura: J. A. M. 

Foi há muito tempo ou talvez não. Vinha de uma viagem por colinas por onde tudo me encantava e acabei por desembocar num rio.
Este, era desconhecido sem barcos nem barqueiros, apenas as duas margens amparavam o meu olhar.
Havia pássaros no ar a deslizarem as sombras sobre as águas que, apenas por isso, se moviam.
Imaginei um mar, onde todos os rios se esquecem.
Imaginei muitas metáforas que já esqueci.

( J. A. M.)

4.1.22

Sei como os universos estão cheios

 

Sei como os universos estão cheios de estrelas
de ouro breve nas suas viagens
e um coração de ouro nunca tem preço
(eu sei) como o teu sol também é o meu
também sei que por onde caminhas
é o (mesmo) lado só teu 
do lado que também é o meu.


( J. A. M. )

 

27.12.21

Estrelas apagadas

Foto de azulejos na Póvoa do Varzim ( transformada). J. A. M.

 

     Já a noite tinha sido iniciada, os pescadores juntos sentados calados curvados olhavam presos por um fio emaranhado de leves e ondulantes pensamentos o horizonte, como quem lia 1 texto antigo.
    Entretanto as nuvens de um lado para o outro, fragmentariamente orquestradas pelo seu próprio destino, lá iam impavidamente diferentes. Nada se cruzava e tudo estava ligado.
     Os barcos continuavam a baloiçar o cais. O mar sempre estivera ali como se fosse eterno. Como um eco longínquo que ainda perdura pelo poder dos olhares de muitas gerações.
    E os pescadores aguardavam como quem espera e também não, a hora da partida. Em casa os filhotes mais novatos choramingavam por comidas diferentes e as mães afagavam-lhes os cabelos, com um sorriso esboçado junto ao aconchego do útero.
 
    Os pescadores, disse-me um dia um amigo vagabundo nas viagens, viraram estátuas fixas e ali estancaram para o gáudio dos turistas que acudiam aos magotes e as crianças agora pediam moedinhas com uma vida inteira moribunda nos olhares.
 
 
(Póvoa do Varzim. Portugal)

 
P.S.
Texto do Livro de contos O Ouro Breve dos Dias- 2021.

 ( J. A. M.)

15.12.21

"Portal"

Pintura: J. A. M.

 1º vieram as saudades. De um mundo longínquo. Os meus dois olhos comidos pela noite. Onde a suspeita de uma luz pairava: sem sobressaltos olhei á volta. Tudo era um chão incógnito.

Algures em mim uma voz muito distante chamava-me. Não havia nomes. Não havia palavras. E algo por dentro tinha a ideia de porta fechada que a qualquer momento se podia abrir.

10.12.21

Todos parecemos ilhas

Pintura: J. A. M.

Todos parecemos ilhas

todos temos as mesmas raízes

entrelaçadas no fundo da Terra

e do Sol.


( J. A. M.)

3.12.21

Vivemos tempos de União

Foto: J. A. M.


 








O silêncio serpenteia-se nas ondas do ar, a boca
da noite abre as flores do coração curva
os sons que tem sempre à mão e o tempo
habita-nos mais ao sabermos nos olhos
as sombras que se despedem das árvores
onde os pássaros acolhem os primeiros
tons do dia sob o lençol verde às tantas
da manhã pelas cinco e tal ou quase
assim começam a sinfonar uma visão
acesa para quem esmorece ainda é cedo
ainda há o segredo de haver um mundo
com tudo sagrado.



J.  A.  M.

( Data: ?)

28.11.21

会议

Foto: J. A. M.

 

à-volta era um lugar que, mal entrámos, se tornou ausente. Talvez houvesse um espaço, um tempo, quatro olhos duas pontes comunicantes sobre algo circular o tampo de mármore da mesa onde as palavras caiam redondas, finitas e havia miríadas de estrelas a rebentarem no desamparo das mãos quando se tocavam. Bailando, bailando os dedos finos de uma alma sensível no fim das hastes, re/parei.

As gaivotas vinham açoitadas pelo mar sem pescadores e abriam lá fora os espaços altos à procura. Eram sombras nos intervalos apanhadas pelos acasos, quando olhava de soslaio pelas vidraças húmidas do café. Enquanto ambos estávamos num fogo adormecido apesar de darmos por ele.

À-volta havia os outros, longínquas sombras, e em poucos minutos nem sombras já aconteciam. Por dentro senti metafóricos desejos de serem mais, algo que só na altura sabia, cresciam para cima e para baixo como nas árvores a seiva, nas galáxias a luz.

Agora vejo como fui vago nessa travessia.  Luz dos teus olhos bebiam a minha sede. E, era uma sede viajada para dentro, ensaiada pelas danças do silêncio. Por onde perscrutava os teus altares aguardando vislumbrar o fino ouro do teu mistério.


(Porto)

 

13.11.21

 

Pintura: J. A. M.



Depois de viajar por muitos universos, as asas descem
mais cegas
mais frágeis
apenas dois olhos na luz possível.
 
Por aqui, neste mundo, á minha volta: 2 universos, apenas: o Universo do Amor e o Universo do Medo.
Cada um com inúmeras portas e janelas e nomes encobertos e descobertos por onde se entra e sai e se volta a entrar e a sair. Diariamente, quase eternamente. O círculo a levantar-se em espiral, ainda a sobrevivência do macaco nas demonstrações da luz ou a luz derramada em forma de cruz.
Tudo crenças.
Tudo inscrito, tudo escrito em todos os lados, dentro das cabeças, na água oceânica do interior dos corpos, nas paredes inventadas por fora e por dentro, nas alegrias e na dor.
 

- De onde cresce a tua luz?

27.10.21

Outono

 


As folhas caiem das árvores
com o peso do Outono
castanhas, amarelas, verdes, vermelhas
às vezes
um adeus de sombras a voarem.

Mudas as árvores abraçam o frio.


17.10.21

Não sei se volto a voltar

 

(Auto-retrato)
     

     Algures no Brasil cheguei a estar num Paraíso. E regressei.  Agora encontrei outro Paraíso.      Não sei se volto a voltar.
     
    Começo por um dos lados: o mar sem fundo, no compasso di roncu di mar(1)  a chegar claraMente até  mim. Depois há coqueiros esguios, altaneiros nas suas tranquilas danças  com a aragem muito ao de leve, afinal quem sopra por lá? E há as tamarineiras com os fortes braços erguidos para os céus e os seus frutos tombados doados à espera de quem lá chegue. Palmeiras com as suas folhas dobradas em devoção às 7 portas que iniciam as noites. Balançam-se também aos sons do mar, da lua que começa a ser maior no céu indefinito do meu olhar.
     Estou nu, sentado com os pés apoiados na varanda azulzíssima e tomara eu estar assim tão nu por dentro. Agora vou colher uma cana de açúcar aqui do meu quintal e depois talvez vá soprá-la numa flauta vazia por aí adiante. 

    Olhando, escutando, aprendendo a ser mais. 

    O pássaro que me visita todos os dias merece agora toda a minha atenção. E ele já está ali, na sua árvore de eleição, misturado com as flores vivas cor-de-laranjas-acesas, pelo meio da folhagem verde escura porque efetivamente já é noite e tudo está demasiado claro para mim.



 (1) “nos sons compassados das ondas do mar”. (crioulo do Sotavento).


(Sidády Vêlha. Ilha de Santiago. Cabo Verde.) 


P.S. Texto do livro de contos "lusófonos":
O OURO BREVE DOS DIAS.

10.10.21

Portas para os dias.

Pintura: J. A. M.

 " Não andes a correr atrás das borboletas. Antes, cuida bem das flores que tens no teu jardim e elas virão até ti "