(Ao Miguel)
Um corvo pousado sobre o ombro
esquerdo o lado
das sombras translúcidas.
Atrás das cortinas dos olhos
o teu espanto olha sozinho
o tempo amparado das cores.
(José Alberto Mar-1997)
textos poéticos e imagens & etc ~ José Alberto Mar ~
(Ao Miguel)
Um corvo pousado sobre o ombro
esquerdo o lado
das sombras translúcidas.
Atrás das cortinas dos olhos
o teu espanto olha sozinho
o tempo amparado das cores.
(José Alberto Mar-1997)
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.(...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
365 vozes que se erguem em 365 poemas de amor em todas as formas, em várias nacionalidades, um para cada dia do ano.
Desde Shakespeare, Hölderlin, Edgar Allan Poe, entre outros, a poetas
portugueses contemporâneos unidos para celebrar o
Amor.
(Editora : Ministério dos Livros)
“A gasolina vendida em Portugal, no quarto trimestre do ano passado, foi a quinta mais cara dos 27 países da União Europeia, segundo a Autoridade da Concorrência.Nas últimas 10 semanas do ano corrente,tem subido gradualmente, sem razões que o justifiquem a nível do preço do crude internacional”; O caso Freeport vai ser rapidamente resolvido, disse hoje a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida, que não garantiu porém se o desfecho será ainda…;” “Número de utentes sem médico de família pode duplicar este ano”; “As escolas públicas terão registado cerca de um milhar de casos de agressões a professores, funcionários e alunos no último ano lectivo (2008/09); Apresentados que foram, ontem, os resultados de 2009, conclui-se que, em nove anos, a RTP custou aos portugueses 2,133 mil milhões de euros.”; “os vencimentos de António Mexia, que foram aprovados pelo Estado, como accionista da EDP: Os "3,1 milhões euros que António Mexia ganhou num ano, como prémio de desempenho, o que significa que Mexia ganhou em cada mês 25 anos de salário médio de cada português, mais do que o presidente da Microsoft, a maior empresa do mundo, para irmos às comparações internacionais".” Há em Portugal, 2 milhões de pobres, quase todos eles idosos e com reformas abaixo do limiar da pobreza, a que se devem acrescentar os 650 mil desempregados na estatística oficial”;” Desde Janeiro,de 2010 ,1066 empresas faliram”; “Depois do Governo português ter encerrado o centro de saúde de Valença do Minho, os utentes estão a optar por irem ao centro de saúde mais próximo: o de Tui, em Espanha. A convite dos irmãos galegos-espanhóis”; As Televisões calam-se e os jornais também, pois há jornalistas que não podem abrir o bico”; “O vencimento médio anual dos presidentes executivos das empresas cotadas no índice bolsista PSI-20 – em Portugal - é, em média, de 26 anos de salários médios da respectiva empresa e de 150 anos de salário mínimo nacional.”;”A máfia das elites portuguesas, é um castigo divino”;”O Papa virá desconspurcar este país de todo o mal dos homossexuais-pedófilos; O caso Casa-Pia, está e estará sem solução à-vista, pois aguarda-se a prisão de todos os abusados que ousaram afirmarem-se como tal”; “ só 2,01 % dos casos de corrupção de colarinhos-brancos vão a tribunal e só 0,01, são julgados, sempre com penas suspensas;””o Sr. Presidente da República é silenciosamente conivente no abismo para onde já estamos a tombar”; (etc)
Arrastava mais um pé do que o outro e eu reparei no seu ar luminoso abrir airosamente a noite. Ia a passar perto do meu lugar e eu senti logo que podíamos trocar algumas luzes. Convidei-o a sentar-se ali, por baixo da grande árvore nocturna. Vi o seu olhar inclinado para o meu copo e perguntei-lhe o que bebia. Não tardou a abrirem-se as nossas portas, uma de cada vez e cada uma no seu lugar mais claro e íntimo. Era um poeta e eu disse-lhe que também era um aprendiz de poeta. (Ele lembrou-se deste pormenor passado uns dias, quando à sombra de outra árvore mais diurna, voltámos a trocar meia-dúzia de luzes pessoais.)
Ele arrastava uma perna quando andava, mas falava sem arrastar nenhuma das suas asas. Aí, ele crescia em voos cheios de altura e distância e às vezes, descia um pouco, para recitar um poema seu que parecia ler no meu rosto. Eram sempre feitos de simplicidade e profunda lonjura e eu ficava mais pequeno a escutá-lo e a vê-lo com todo o orgulho do mundo, pois já éramos amigos.
Hoje, imagino-o a levantar a noite da sua ilha, livre como sempre, feliz e a cantar alegremente toda a escuridão que há na sua vida de poeta.
Era neste palco plantado no meio da Natureza, que graças a deus ainda era muito viva ali, que me sentava na cadeira aberta ao sol e começava, continuava ou acabava os meus dias. No geral, entretinha-me a fazer pinturas com folhas, flores, materiais que colhia à-volta e esmagava entre os dedos e as folhas brancas que trouxera das europas.
Ao lado, os pássaros aproximam-se às vezes, mas q.b., e encantavam a minha concentração pois tudo estava unido e havia uma natural sinfonia no lugar. Cheguei a fazer, umas esculturas com pedaços de coisas que me tinham chamado a atenção na praia, nos caminhos que calcorreara pelas montanhas, sem parar para pensar, porque é que obedecia aquele impulso de carregar com elas. Tinha mais que fazer: as imagens eram tantas!
A varanda era para mim, o alto terraço onde o índio xamã se ergue para convocar as forças de tudo aliadas às suas forças.
E ao lado havia sempre mangas, vários frutos calados e coloridos, para onde eu olhava para olhar só as cores ou, às vezes, para trincar algo que adocicava a minha existência
e então - nessas alturas,
demorava-me a saborear as coisas da vida atirando o olhar para longe
até me esquecer