José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

26.4.10

Momento de Insónia (2º)



(...) Do outro lado, uma pilha de livros equilibra-se, apesar de tudo.
No meio, para centrar os volumes das coisas à-volta, ergue-se como um pinheiro bravo, um candeeiro assim: aceso.
No outro sofá vazio, imagino o meu silêncio que não é solidão sofrida. Aprendi que a distância entre as coisas é uma solução prudente para se adoptar uma vida.
O rosto na capa do livro que me chama primeiro é o de Clarisse Lispector. Alguém que escrevia como quem respirava, tendo contudo e para tal, encontrado a sua primeira respiração. Ela olha para a máquina ou para o fotógrafo, como se estivesse longe e toda a placidez do seu rosto confirma-o.
Há ali uma beleza estranha, rara, certeira: alguém está a escrever os seus lugares mais íntimos, para se salvar do mundo. (...)



José Alberto Mar (Abril-2010)

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