(
Meiri )
Os
lençóis negros da noite desciam, tombavam, adormeciam colados uns aos outros,
como folhas de árvores de Outono que se voltam juntar.
Depois de várias voltas por N ruas da cidade pareceu-me que era por aquelas
bandas que a festa começava a fervilhar. Num passeio de uma rua desamparada,
encontrei um banco á minha espera e pedi á Sr.ª da roulotte uma cerveja bem gelada.
Recostei-me, costas com parede & vice-versa, e pus-me a pastar
vacarosamente o olhar á volta: havia de tudo o que era gente, jovens em
grupos soltos e felizmente assim, pessoas solitárias, alguns com ar de quem
procura desespiradamente libertarem-se daquilo, outros já mais ancorados, havia
casais apaixonados que nem pássaros azabumbados, havia também mulheres de todas
as cores e as mais belas prendiam-me o olhar por mais tempo & depois, desapareciam pelas portas dos bares de
onde saltavam canções ás molhadas, e de quando em quando muitas vezes, tudo aquilo
junto dava-me sede para outra cerveja
por cima de mim, a escuridão salpicada de estrelas e uma clara sensação de vastidão completamente alheada de tudo
a incerta altura, uma menina sozinha por dentro por fora, aproximou-se de mim, de cerveja na mão e sentou-se a meu lado. depois continuou calada, ancorada e eu também não de cerveja na mão. encostou a sua tristeza desarmada no meu ombro abrigada e eu comecei a falar. as minhas palavras eram peixes criados ali, para o seu mar. sem darmos por isso, pusemos os olhos nos olhos e começámo-nos a beijar. o seu fundo sereno tinha outro olhar. & uma paixão apareceu naquele lugar. Claro o dia nasceu sem nos avisar
( Brasil. Gaia .Texto inicial: 27-05-2006 )