José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

14.5.09

SENSAÇÃO A VELUDO NAS MÃOS


Primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos, transcorriam bêbedas com todos os seus 10 dedos nas polpas sensíveis e eu lá ao fundo, no final da sensação, navegava com toda a preguiça esboçada do mundo, por aquele mar de novidades que o teu corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.

Estavas ali deitada, absorta no teu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-te a crescer nas ondas da respiração e de um lado e do outro, ambos éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio, que tínhamos de possuir exactamente ao mesmo tempo.

Tudo ilusão. E, no entanto não era. Eu estava ali, tu também, éramos dois corpos com as portas abertas de todo. A aragem das mãos esvoaçando sobre a tua pele de veludo, era o que sobrava do silêncio de chumbo, que os nossos corpos mortais no fundo faziam. Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais aprumadas já não soltam palavras.

E os gestos criavam outros mundos, onde só nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos, à espera de o sermos.



Brasil. Maranhão.2007

11.5.09

Brasil Maranhão.Pequenos- Lençóis. (Foto de j.a.m.)

9.5.09

Mauro, O POETA DA ILHA


Arrastava mais um pé do que o outro mas eu reparei no seu ar luminoso abrir airosamente a noite. Ia a passar perto do meu lugar e eu senti que podíamos trocar algumas luzes. Convidei-o a sentar-se ali, por baixo da grande árvore nocturna. Vi o seu olhar a inclinar-se para o meu copo cheio de
sol* e perguntei-lhe o que bebia. Não tardou a abrirem-se as nossas portas, uma de cada vez e cada uma no seu lugar mais claro e mais íntimo. Era um poeta e eu disse-lhe que também era um aprendiz de poeta.(Ele lembrou-se deste pormenor com um leve sorriso passado uns dias, quando à sombra de outra árvore mais diurna, voltámos a trocar meia-dúzia de luzes pessoais).
Mauro arrastava uma perna quando andava mas falava sem arrastar nenhuma das suas asas. Aí, crescia em voos cheios de altura e distância e às vezes, descia um pouco, para recitar um poema seu, que parecia ler no meu rosto. Eram sempre feitos de simplicidade e lonjura e eu ficava mais pequeno a escutá-lo e a olhá-lo com todo o orgulho do mundo, pois já éramos amigos.
Hoje, aqui noutro continente da Terra, vejo-o a erguer a noite da sua ilha, livre como sempre a cantar alegremente toda a escuridão que há na sua vida de poeta.



* marca de cerveja existente no Brasil.



Brasil. São Luis do Maranhão.2006

7.5.09

(Cachimbo da Paz)Gabriel O Pensador

(Meiri)


Os lençóis negros da noite desciam, tombavam, adormeciam colados uns aos outros, como folhas que se voltam a juntar.

Depois de várias voltas por N ruas obscuras da cidade pareceu-me que era por ali que a festa começava a fervilhar. No passeio de uma rua desamparada, encontrei um banco á minha espera e pedi mesmo ali á Sr.ª da rolote uma cerveja bem gelada. Recostei-me, costas com parede e vice-versa, e pus-me a pastar vacarosamente o olhar à volta. Havia de tudo o que era gente, jovens em grupos soltos e felizmente assim, pessoas solitárias, alguns com ar de quem procura desespiradamente libertarem-se daquilo, outros já mais ancorados nas suas derradeiras sortes, havia casais apaixonados que nem pássaros azurumbados, havia também mulheres de todas as cores, e as mais belas prendiam-me o olhar por mais tempo e depois, desapareciam pelas portas dos vários bares de onde se soltavam canções às molhadas e, de quando em quando tudo aquilo fundia-se no fundo mais fundo de mim próprio e dava-me sede para mais uma cerveja.

Por cima, a grande escuridão universal salpicada de estrelas e uma clara sensação de vastidão completamente alheada.

A incerta altura, uma menina sozinha, por dentro e por fora, aproximou-se de mim, de cerveja na mão e sentou-se a meu lado. Depois continuou calada, ancorada e eu também não de cerveja na mão. Encostou a sua tristeza desarmada no meu ombro abrigada e eu comecei a falar. As minhas palavras eram peixes criados ali, para o seu mar. Sem darmos por isso, pusemos os olhos nos olhos e começámo-nos a beijar. O seu fundo sereno tinha outro olhar. E uma paixão qualquer apareceu naquele lugar. Claro que o dia nasceu sem nos avisar.


(Brasil. Fortaleza.2003)


5.5.09

Divaganção


A varanda é branca com o sol ainda por cima e depois há o azul-cobalto do mar e ainda depois há muitas árvores emaranhadas nos seus verdes a erguerem os olhos para a beleza de um imenso céu, onde me esqueço e só muito tempo depois me faz cair em mim.
Aqui ao lado, as folhas das palmeiras penteiam a aragem que corre atrás de si e por vezes, alarga-se até à mesa onde escrevo e leva-me as folhas as palavras, o que me importa?
Na rua as pessoas deslocam-se devagar no meio do tempo, saboreiam os encontros, param aqui e acolá, trocam poucas frases, alguns gestos, coisas simples com um sorriso cúmplice na caminhada, já é tanto.
Um pescador de boné vermelho e corpo calado, está esquecido ou estará a lembrar-se, a olharolhar o mar como se lesse um texto.
Há em tudo uma paz muito possível aproximando-se provavelmente a um sopro distraído de deus, no meu olhar.


(Brasil. Gaibu.2005)

4.5.09

Imagem construída.(j.a.m.)

Já Fui ao Paraíso



Há coisas do diabo. Já fui ao paraíso.

E voltei. Estava quase acordar no meu quarto do Hotel Europa, quando a Ana e a Joyce abriram a porta em leque, cheias de sorrisos floridos e me convidaram para dar um passeio pelas franjas de Gaibu. Lá me levantei um tanto ou quanto aturdido pelas caipirinhas da noitada anterior, mas depois de beber o coco fresco que me atiraram de chofre, vesti a t-shirt e os calções de sempre e lá fomos, que nem 1 trio harmonia pelo dia adiante. Passámos pela linda praia de Calhetas, onde vi ondas debruçadas sobre a própria espuma, depois de serem verde-esmeralda e azul-turquesa e também vi uma foto do jovem Eusébio no bar lá do sítio, ao lado de N ilustres que por ali tinham po(u)sado algures, ao longo dos seus destinos.
Depois, continuámos a caminhar por entre árvores, plantas e cores de vários tamanhos e aromas, até que a incerta altura num morro inesperado e cheio de azul muito azul do céu, vi uma tabuleta tosca de madeira com a palavra: “PARAÍSO”.
As minhas companheiras apanharam o meu ar aparvalhado e eu apanhei-as a sorrirem apenas cúmplices.
O que é que havia a dizer?
Lá descemos entretidos com os pés de cada um, a saltitarem de pedra em pedra, até desembocarmos numa espécie de praia com a água muitomasmuito transparente e a areia quase prateada pelo pôr-do-sol que se diluía até ao esquecimento. Sentámos-nos a olhar e a escutar o mundo á-volta através daquele ponto de vista, dentro do ponto de vista de cada um e os três juntos com as 6 vistas desarmadas, despidas, deliradas.
Já não sei, e pouco me importa, o tempo (o tempo?..) que poisámos ali, a respirar aquele lugar tão belo e simples irrealmente em tudo. Lembro-me vagamente que as palavras eram coisas a mais e a ninguém lhe passou pela cabeça tocar em tal assunto.
Quando regressámos a Gaibu, numa camioneta que ainda circulava, já lá estava instalada uma noite claramente aberta à nossa entrada.




(Brasil.Gaibu- Agosto de 2005)

3.5.09

Foto trabalhada. (j.a.m.)


Quando a gaivota passou

e deixou a sua sombra pousada

no meu olhar

todo o rio se tornou um cais de símbolos.



2.5.09

Pássaros, Passarinhos e Passarões

Imagem construída.(j.a.m.)

Série: O(s) Grito(s) . - A Revista da Câmara -



Estava eu, no sofá sossegado a fazer nada, quando a minha vizinha me acordou para fora deste delicioso elevo criativo, com um frenético toque de campaiiiiinha que, enfim. Lá fui à porta e depois fiquei desarmado, mas com uma revista nas mãos que se tinha perdido por entre as caixas de correio.
Agradeci o favor, que obviamente não foi favor algum mas um grandessíssimo corte e por qualquer razão que agora não me apetece saber, abri a dita revista da câmara municipal cá da zona, que não tinha muitas folhas mas parecia Grande devido à generosa espessura das folhas, e caí logo na pág. 16. O 16? Como sou adepto fervoroso até incerto ponto, das numerologias, fiz automaticamente as contas e zás ali estava o tal 7, o número mágico por excelência nesta civilização onde deus me obriga andar, e pus-me logo-imediatamente a pensar onde poderia encontrar a tal magia. Então comecei pelo título da pág."desporto, saúde & bem-estar". Quando cheguei ao "bem-estar", fiquei um pouco aliviado mas logo-simultaneamente intrigado, pois havia muita matéria junta que transbordava um-não-sei-quê do título para encher as medidas de quem tem a intenção sub-reptícia de convencer outros de algo que só tem haver consigo próprio, no intuito para mim claríssimo de um lucro sorrateiro qualquer. Mas pronto.
Vim por ali abaixo, ultrapassei os obstáculos que surgiram, e o pior era o tipo de letra, para não falar da horripilante mancha gráfica, até que me deparei com a palavra "Aviso". E aí, estanquei mesmo definitivamente, com todas as minhas forças possíveis, fiz um momento de cabeça atirar para uma maior
concentração no assunto e pus-me a ler o dito aviso para poder continuar a escrever este artigo de momento, sem qualquer futuro à vista desarmada, pois a vida de um cidadão neste país é um eterno desarmamento de tudo o que é Vida realmente. A coisa começou a complicar-se, tudo aquilo na minha cabeça eram artigos a maiss, mais os "decretoss-lei" e as "deliberaçõess" com datass & tudo, maiss os "capítuloss" & os "subcapítuloss",,, Ei, minha nossa Sr.ª, comecei a ficar farto, farto, enfardado de todo, pois considero-me uma pessoa minimamente culta, minimamente inteligente, minimamente capaz de ler e entender um mero artigo de uma Revista de Informação Camarária, mas efectivamente não entendia patavina daquilo.
Adiante. Trocado por miúdos, e muito bem espremido o fruto podre, tratava-se do quê?
De um aviso para avisar o povo destas bandas de que foram avisados de que há um prazo de 30 dias "úteis" (ainda estou para descortinar o que é isso de dias "inúteis"..)” para se realizar uma "discussão pública" acerca de mais uma alteração ao não-sei-quê, que logicamente tem o seu quê de mudança relevante para alguém e o pessoal até tem de ser informado segundo a lei em vigor e essas lerias ditas democráticas, deles.
Agora a questão aqui complicou-se ainda mais, porque na parte final diziam ao povo que 1º tinham de ir a uma determinada morada (que, Vá Lá ! estava ali escarrapachada inteirinha para quem a quisesse ), para consultarem o tal assunto fundeado no enigmático número 7, e depois quem quisesse até podia, enviar reclamação ou sugestão, nas "horas normais de expediente". Só estas palavras do final da frase, atiraram-me abruptamente para profundíssimos momentos de reflexão acerca deste lado da questão: o que são horas "normais" para eles? Onde param as horas anormais, que eu nunca as vislumbrei ? E qual será o expediente lá do sítio? E no expediente de lá, há lá alguém ou será a habitual es-pe-ra-es-pe-ra ?Mas
o que mais me deixou desanimado de todo, confrangedoramente deprimido mesmo, comigo próprio e com o mundo e até com a Humanidade , foi o facto de perceber - creio bem - que numa declaração tipo preto no branco acerca de uma DISCUSSÃO PÚBLICA, o pessoal era Afinal convidado, nestes modos enviesadamente anacrónicos e absurdamente obscuros, a ENVIAR CARTAS, se quisesse (verdade seja dita, não vi neste textozinho nenhuma insinuação velada ou não, acerca de uma possível punição ao adoptar-se uma atitude de abstenção - Apesar de tal modo de criar Medos andar muito na moda).
E. Pronto. Continuo a não entender nada acerca do modo de pensar e agir dos Senhores que nos governam democraticamente eleitos & tudo e para ver
se alguém me poderá ajudar neste momento um tanto ou quanto confuso da minha vida, vou surripiar uma garrafa de vinho da parte mais nobre da minha modesta garrafeirazinha, e vou ter com a minha simpática vizinha.
Vou tocar à campainha, muitíssimo ao de leve, só um toquezinho de quem está ali, triste como a noite e também muito só, apenas com uma prenda entre as duas mãos e um sorriso naturalmente levíssimo no meu rosto aparvalhado de todo.

26.4.09

foto trabalhada.j.a.m.

A beleza de um corpo transfigura
a nossa ideia do Mundo
atravessa-nos inteiros como uma flecha sem dono
e num silêncio muito vivo sabemos
Salomé, sabemos como somos tão mortais.

25.4.09

Um povo macanbúzio burro de carga aguentando



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."


in
, Pátria,"Guerra Junqueiro,1896.
25 de ABRIL de 2009

24.4.09

Discurso do Ministro da Educação do Brasil nos E.U.A.

Discurso do Ministro Brasileiro da Educação nos EUA... Este discurso merece ser lido, afinal não é todos os dias que um brasileiro dá um 'baile' educadíssimo aos Americanos... Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o actual Ministro da Educação CRISTOVAM BUARQUE foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam Buarque :
'De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!"
Imagem trabalhada. J.A.M.

Visão


São 5 H. da manhã e
por aqui é noite fechada
e um nó de silêncio ampara a visão

um astro ancorado nos olhos
diz "não"
a este Mundo medonho
das europas no estertor da doença
mais funda: a do espírito
que está a secar, sem
sem mais nada a dizer.


Não me venham com mais imagens
das glórias que se apagam
sobre os corações de pedra(s)
já sem vida.
Todos os Impérios desaparecem
em cada gesto hediondo, todos
os dias são assim-assim,
sem vocês, já darem por disso.
E a História, não está : Viva
nos livros, nos museus, por aí..
bem guardada em baús de cimento dourado
A História, quando está, prolonga-se
nos actos de quem sente
o dever & o direito
de lhe dar : outras Novas Luzes.

Estais a morrer, aos poucos
muitos de vocês já morreram, mas ainda
não o sabeis
é que, a questão, a verdadeira Questão é que
os nossos filhos talvez não tenham tempo
de resgatar tantas mortes erguidas como glórias.
A juventude ofusca-se ( vocês lembram-se?)
com as 1ªs luzes,
e não têm tempo para o tempo
que irão ter mais tarde.

Só Vocês, OH! Sr.s deste antigo & carcomido
lugar do Mundo
só alguns de vocês ainda
poderão reparar nas brechas
do Novo Sol, que já chegou.

Estejam atentos, pois o Tumulto já começou.
Não é tarde nem é cedo,
mas, nenhum mal se compadece
com tanta vã loucura, e
há 1 ponto nesta viajem
em que o mal se desmorona
e tudo já não poderá ter regresso
algum.

28.3.09

AS FRONTEIRA AGITADAS


Eu não sei como dizer-te dizendo as formas

à-volta tangentes
ao meu corpo tudo ligado.

Linhas invisíveis separam e partilham
os mundos.
Vários limiares.


Baralharam as lâmpadas acesas com a sedução
das estrelas. Inventaram Criaram
Transformam
Destroem.

Como dizer-te
os simples segredos da Terra. A minha seiva
sangue resina sangrada
nas luas tempestuosas no corpo.
A imaginação acordada nas sementes
já nos frutos a água doce
para a sede das bocas
no fim completo da elipse.

Como tocar a simbólica garganta sozinha
na nascente da voz mais esquecida
onde já não há livros obscuros
nem palavras evidentes.

Os sons do mundo batem furibundos
no céu das bocas atraiçoadas
pelo ódio e pelo amor.
O comércio a ganância assassina
sob a ingénua luz das estrelas.
Imparcialmente a noite é dividida
para cada um a sua sombra.

Olhar-me assim, sagrado animal acossado
pelas suas próprias garras apocalípticas
das antigas ciências onde o anjo ferido
é caça e caçador
desafio entregue às estranhas vontades
dos homens alguns.


(in, AS MÃOS E AS MARGENS.Editora Limiar. Porto.1991)