José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

9.5.09

Mauro, O POETA DA ILHA


Arrastava mais um pé do que o outro mas eu reparei no seu ar luminoso abrir airosamente a noite. Ia a passar perto do meu lugar e eu senti que podíamos trocar algumas luzes. Convidei-o a sentar-se ali, por baixo da grande árvore nocturna. Vi o seu olhar a inclinar-se para o meu copo cheio de
sol* e perguntei-lhe o que bebia. Não tardou a abrirem-se as nossas portas, uma de cada vez e cada uma no seu lugar mais claro e mais íntimo. Era um poeta e eu disse-lhe que também era um aprendiz de poeta.(Ele lembrou-se deste pormenor com um leve sorriso passado uns dias, quando à sombra de outra árvore mais diurna, voltámos a trocar meia-dúzia de luzes pessoais).
Mauro arrastava uma perna quando andava mas falava sem arrastar nenhuma das suas asas. Aí, crescia em voos cheios de altura e distância e às vezes, descia um pouco, para recitar um poema seu, que parecia ler no meu rosto. Eram sempre feitos de simplicidade e lonjura e eu ficava mais pequeno a escutá-lo e a olhá-lo com todo o orgulho do mundo, pois já éramos amigos.
Hoje, aqui noutro continente da Terra, vejo-o a erguer a noite da sua ilha, livre como sempre a cantar alegremente toda a escuridão que há na sua vida de poeta.



* marca de cerveja existente no Brasil.



Brasil. São Luis do Maranhão.2006

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