José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

26.3.10

O AVISO



Estava eu bem sossegado, afundado no meu cadeirão anti-stress, quando a minha vizinha me acordou para fora deste delicioso enlevo criativo, com um frenético toque de campaiiiiinha que, enfim.

+ umas frases adiante,

fiquei desarmado com uma revista nas mãos que se tinha perdido por entre as caixas de correio.
Bom, agradeci o favor, que obviamente não foi favor nenhum mas um grandessíssimo "corte" e por hábito, educação ou qualquer outra razão de que já não me lembro, abri a dita revista, que não tinha muitas folhas mas parecia Grande devido à generosa espessura das folhas, e, e, caí logo na pág. 16. O 16? Como sou um adepto fervoroso até incerto ponto, das numerologias, fiz automaticamente as contas e Zás ali estava o tal 7, o número mágico por excelência nesta civilização onde deus me faz andar, e vai daí pus-me logo a pensar onde poderia encontrar a tal magia. Então
comecei pelo título da pág:"desporto, saúde & bem-estar". Quando cheguei ao "bem-estar", fiquei bem aberto a tal assunto, mas ao correr as palavras fiquei simultaneamente intrigado, pois havia Muita matéria junta que transbordava um-não-sei-quê de excesso para encher as medidas de quem tem a intenção subreptícia de convencer alguém de algo que só tem haver consigo-próprio, no intuito para mim claríssimo de um lucro sorrateiro qualquer. Mas pronto. Estou habituado a estas circunstâncias.
Vim por ali abaixo, ultrapassei os obstáculos que surgiram, e, o pior era o tipo de letra, para não falar da horripilante mancha gráfica, até que
me deparei com a palavra "Aviso". E aí, estanquei mesmo definitivamente, com todas as minhas forças possíveis e impossíveis quase, fiz um momento de inclinação corporal a obrigar-me a uma maior concentração no assunto e pus-me a ler o dito Aviso para poder continuar a escrever este artigo de momento, sem qualquer futuro à vista desarmada, pois a vida de um cidadão neste país é um eterno desarmamento de tudo o que é Vida-Mesmo.

A coisa começou a complicar-se, tudo aquilo eram "artigoss" a maiss,os "dispostoss" "decretoss-lei" e as "deliberaçõess" com datass & tudo, maiss os "capítuloss" & os "subcapítuloss",,, Ó minha nossa Sr.ª de kualquer Coisa, comecei a ficar farto, farto, enfardado de todo, pois considero-me uma pessoa mini-ma-mente culta, mini-ma-mente inteligente, minimamente capaz de ler e entender um mero artigo de uma Revista de Informação Camarária, mas efectivamente não entendia patavina daquilo.
Adiante. Trocado por miúdos, e muito bem espremido o fruto (podre, tá-se a ver) , tratava-se de quê?
De um Aviso para Avisar o Povo destas bandas de que foram Avisados de que há um prazo de 30 dias "úteis" ( ainda estou para descortinar o que é isso de dias "inúteis”), para se realizar uma "Discussão Pública" acerca de mais uma alteração ao não-sei-quê, que logicamente tem o seu quê de mudança relevante só para alguns e o pessoal até tem de ser informado pelas leis em vigor e essas lérias ditas democráticas, d&les.
Agora a questão aqui complicou-se ainda mais, porque na parte final diziam ao povo que 1º: tinham de ir a uma determinada morada para consultarem o tal assunto fundeado no enigmático número 7, e depois quem quisesse Até Podia! enviar reclamação ou sugestão, nas "horas normais de expediente". Só estas palavras do final da frase, atiraram-me abruptamente para profundíssimos momentos de reflexão acerca deste lado da questão: o que são horas "normais" para eles? Onde param as horas anormais, que nunca as vislumbrei na minha vida? E qual será o expediente lá do sítio? E no expediente de lá, está lá alguém ou será a habitual es-pe-ra-desespera e o culto matricial português do como-e-cala-te?

Mas
o que mais me deixou desanimado de todo, confrangedoramente deprimido mesmo, comigo próprio e com o mundo e até ouso dizer,com a Humanidade, foi o facto de perceber - creio bem - que numa declaração tipo preto no branco acerca de uma DISCUSSÃO PÚBLICA, o pessoal era Afinal convidado, nestes modos enviesadamente anacrónicos e absurdamente obscuros, a ENVIAR CARTAS, se quisesse. E. Pronto.

Continuo a não entender a ponta de um corno acerca do modo de pensar e agir dos Srs. que nos governam democraticamente eleitos & tudo

e para ver se alguém me poderá ajudar neste momento mui difícil da minha vida, vou surripiar uma garrafa de vinho da parte mais nobre da minha modesta garrafeirazinha, e vou ter com a vizinha que me arrancou dos meus criativos enlevos

e vou tocar à campainha, muitíssimo ao de leve, só um toquezinho de quem está ali, desamparado como a noite, apenas com um pretexto entre as duas mãos e um sorriso naturalmente aparvalhado de quem espreita uma suave e doce vingança.

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