Selfie. ( J. A. M. ) |
Palavras, palavras, por
vezes cansado das palavras fico completamente à escuta, vazio por dentro,
parado, virado para fora. Como se o meu corpo fosse uma harpa aberta aos sons
que passam. E então há um outro sol a cobrir as formas do Mundo, o grandioso
coração do Universo começa a bater como um pêndulo maduro, a água no corpo
a murmurar lá no fundo como nos oceanos e a beleza epidérmica das coisas à
volta aparece sem nomes, a vida total continua a transformar-se sem eira nem
beira.
E então, vejo que nada em
mim é o que sei e sinto, nada em mim é apenas uma ilha a desenhar horizontes de
palavras, letras que se juntam para criarem um círculo um entendimento, nada
disto tudo faz sentido, sem a Luz e a vastidão da Terra com sementes e as
flores e as plantas e as árvores e os frutos e as aves e as pessoas, as pessoas
a encherem-nos os dias e as noites.
( in, O OURO BREVE DOS DIAS)
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