José Alberto Mar. Com tecnologia do Blogger.

31.1.18

KOISAS ~ DO ~ MOLESKINE




jÁ há uns bons tempos que faço diariamente, com base nos tramites das meditações ocidentais, dado que sou do género Oblomov, uma pesquisa mui atenta ao meu umbigo.

                                                Como se se tratasse de um curioso buraco negro ou o olho da espiral de uma galáxia ou qualquer outro círculo vulgar, como se houvesse algo que  pudesse ser vulgar nesta vida & nestas ocasiões, para me concentrar sirvo-me do meu girassol caseiro arrebanho o vaso p/ o meu labor pessoal  e -  olhos nos olhos - Tudo está lá.
Também.
Nestas vãs deambulações, encontro paredes pedras real-mente duras & a minha picareta é sempre tão frágil tão frágeis estas mãos sementes de asas, mas às vezes por acaso 😊

surgem horizontes desamparados, e dou por mim noutra linha de tempo, isto é, re/paro que o desamparo é apenas meu e digamos assim, para finalizar por repentina preguiça este laço, há koisinhas inverbais. Como se a língua de repente, se enrolasse para dentro em onda armada em rebelde e ficasse ofuscada perante  um inesperado diamante em visita, vindo sabe-se lá de onde? Cada vez que o vislumbro fico tão deslumbrado que,,,,,isto é, apago-me  e demoro acender-me. Mal dou conta, escuto um outro eu de mim: " o gajo caiu em si ". Aqui temos se temos admitamos que temos um  1 exemplo pragmático e até ouso por ora dizer positivista (Um) apenas momentâneo de que há que aceitar o que a vida nos oferece ou nos empresta seja lá o que isso for i Haja deus !, cada um que se procure se para tal lhe acontece tal necessidade & quiçá se aperceba de tal com uma dose ou pelo menos meia-dose de pachorra e uns grãos de flor de sal q.b. iluminados pela novidade de uma estranha  lucidez:

respirar fora da caixa, alguém sopra soprou       

                                                                                                      (enquanto as nuvens de um céu diferente se abrem aos meus olhos cativados e cada nuvem tem uma cor ousada que logo se dilui numa outra e todas vão são ligadas sem darem por isso parece-me, mas o que sei eu? )



(Um) baseado sobretudo no  calendário  lunar composto por 13 meses de 28 dias.


( raskunho Nº ? . 31 Jan. - L.C. )

j. a. m. 


(continuará quiçá)

25.1.18

ao artista Vadú



ainda recordo algumas imagens como pétalas caídas no meu regaço estava no restaurante “Quintal da Música” com o meu amigo acontecido há pouco por ali, entre strelas (1) douradas pela luz oblíqua da porta semiaberta da entrada e saída e os dengosos funanás no palco onde a Mayra (2) se espraiava deleitosamente.

e ele entrou, fino, esbelto como um lírio estremecido pela sua íntima alegria de estar naturalmente vivo no seu gingar dançante e o meu amigo inesperadamente levantou-se assaltou-o na dança e apresentou-me: este é o não-sei-quê.
Levantei-me a pesar a repentina gravidade do momento & a que existe em todo este mundo de deus, mas a leveza que me acompanhou logo me surpreendeu e quando olhos nos olhos enlaçámos as mãos eu vi ali um ser raro mesmo à minha frente daqueles que já ganhei o dia embora neste agora quase já fosse noite.

“Lá Fora” (3) no surpreendente mundo das pessoas tudo parecia continuar a ser igual.
Quando a altas horas consegui descer de tudo aquilo, pois nestas farras a fraternidade por estas bandas é imensa e onda a onda neste mar tudo se demora já os meus amigos no veículo estavam  à espera numa achada (4) próxima.
Levantei as asas possíveis com tais companhias é sempre fácil e logo estávamos a viajar entre tantas estrelas à mão de semear que nem vos conto.



Nota: texto alusivo ao cantor Vadú. (1977-2010)



1. cerveja caboverdiana.
2. Mayra Andrade. Cantora.
3. título de canção de Vadú.
(       4. planalto de origem vulcânica.


 j. a. m.     raskunho. ( ? - 2017 )

foto:  j. a. m. 

have a Good Day!

24.1.18

dos sonos -.- à propos de dormir

imagem trabalhada
~
https://youtu.be/zMvXnz8ThnA

Mestres do Nada




Há rostos que tornam as coisas mais simples.
São como pedras vivas
mergulhadas a prumo
no sábio esquecimento
das suas formas
onde a sós
os olhos dizem
o ouro breve das imagens.


in, A Primeira Imagem, Ed. Sol XXI, 1998 )

Catálogo/Exposição : " o ouro breve das imagens "



os Poderes do Coração ~ the Powers of the Heart
   

                    Mundos  (im)possíveis?

                                                                                                                           
               De poeta para poeta: " Quem é que canta sem condição? É José o homem dos sonhos” [1]. Mas também de poeta para artista visual, numa dupla afirmação de liberdade em relação às fronteiras da linguagem, ou sequer do mundo, via a novos mundos em que do comum se faz Outro e Outrem.
            Assim, se na obra plástica de José Alberto Mar nos reconhecemos perante signos ligados à natureza (sóis, luas, flores, borboletas) e ao humano (corações, olhos, labaredas de fogo interiores, cabeças, cruzes), nos harmonizamos perante arquétipos universais de raiz formal geométrica, espantamo-nos, porém, perante a metamorfose dos signos num processo de morfogénese que progressivamente se tem vindo a acentuar no percurso ontológico da obra do artista, onde busca e revelação surgem indissociáveis. De tal modo que nesses universos (im)possíveis que nos é dado entrever pelo “ouro breve das imagens”, o olhar surpreende-se, mas não emigra, pois o outrem que se afirma enraíza-se profundamente no humano e na natureza como assunção do transcendente.
            De outro ângulo, nesta mostra reencontramos o jogo entre a cor e a sua ausência, a linha intensa, em formas bidimensionais, tridimensionais - e sugestões de outros planos - e os signos inefáveis das nossas e de novas linguagens, ou seja, tudo aquilo que decorre de uma caligrafia do simbólico. Mas, mais uma vez, também se nos afigura que o cunho inconfundível da arte de José Alberto Mar flui naturalmente da matriz existencial do poeta, pintor – e visionário -  e de uma radical liberdade do ser e do estar como assumida celebração da vida.
Enfim, “Quem é que canta sem condição? É José o homem dos sonhos”.


Sofia Moraes
                                             
(07- 01-2018)




[1] (Ruy Belo, Homem de Palavras)

19.1.18

18.1.18

O ESPANTO ACORDADO


 

primeiro  foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos transcorriam como caravelas loucas com todas as suas 10 velas nas polpas sensíveis cada vez mais e eu lá ao fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.

E ela estava deitada, absorta no seu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-a a crescer nos ritmos da respiração e de um lado e do outro ambos éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio que ambos tínhamos de possuir, precisamente ao mesmo tempo.

Tudo ilusão. E, no entanto, não era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com todas as portas abertas à vida. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo era o que sobrava do silêncio de chumbo, onde os nossos corpos jaziam. Havia entre nós um nó inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais apuradas já não dizem palavras.
E os gestos criavam outros mundos onde só nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos, à espera de o sermos.


j. a. m.
(São Luís do Maranhão -  Br. -  Rascunho Nº 146. 2000-2018)  
série: pequenas sabedorias (Nº78)

Obra integrada na Exposição, a decorrer :
 " o ouro breve das imagens "


(13 jan. - 1 fev.)

- body Dance by kremushka -

15.1.18

por uma unha negra

foto trabalhada. j. a. m. 


















Foi um tempo obscuro, escuro, mesmo negro. Atravessei-o com a juventude espalhada pelo corpo e todos os mundos que podia a encherem-me a alma até às marcas tatuadas à flor da pele.  Por vezes, pensava que enlouquecia e então abrigava-me nas casas do silêncio à espera de segurar o fio tremeluzente da minha voz mais íntima. Outras vezes, saía pelo mundo fora à procura de mais dias & mais noites umas a seguir às outras como primaveras que se devoram com muitas flores vivas a saltarem pela boca, pelos olhos, pelo corpo inteiro esburacado. Conheci gente, pessoas, corpos habitados por alguém, outros nem por isso, cheguei a conhecer os mortos que continuam por aí de um lado para o outro como imagens atrapalhadas adiarem ou a esperarem sei lá o quê. Também, confesso, cheguei a ser tocado por alguns seres raros, que me deram minúsculas estrelas duradoiras, muitas vezes sem eu dar por isso. Ainda hoje as guardo, como símbolos preciosos soltos entre os seixos das minhas margens.
Foi um tempo de procuras, em que passei por pontes & pontes e nem sequer as via, nem o rio que lá ia para o seu mar, nem os lugares de um lado e do outro por onde queimava o meu destino possuído pelas douradas cegueiras das vertigens e por todos os copos dos venenos que tragava. Vi alguns amigos caírem para o interior de uma luz alquímica que nunca mais os largou, foram assim sozinhos para tão longe e nuncanunca mais.

Após muitas paisagens comecei a ver que tudo à minha volta eram imagens que se soltavam de dentro de mim, onde eu não era chamado para o caso, nem propriamente ninguém, mas no fim de contas todos estávamos lá: pessoas, mundo, vida, animais, plantas, pedras e todos os milhares de universos que na verdade existem para quem os vê.
Comecei a olhar mais a luz, a luz claramente acesa, a primeira que vem de dentro das pessoas e de todas as coisas vivas, que afinal é Tudo.
Descobri um centro que não é centro nenhum, apenas me desloco por dentro, despido e nu, de centro em centro, nos mapas circulares da minha idade, amparado pelo tempo que não existe.

Sempre, com o deus presente em mim e à minha volta e o amor íntimo e distante por tudo o que me vai acontecendo




(série: confluências, confidências, algo assim.Rascunho ~ 1988?)