primeiro foi uma sensação a veludo nas mãos, a carne à flor da pele era macia de um modo tão suave a pedir só mansidão e elas, as mãos transcorriam como caravelas loucas com todas as suas 10 velas nas polpas sensíveis cada vez mais e eu lá ao fundo, no final da sensação, deixava-me navegar com toda a preguiça esboçada do mundo por este mar de novidades que aquele corpo me emprestava no silêncio ofegante da noite.
E ela estava deitada, absorta no seu sonho inteiro de ser escultura para as minhas mãos, e eu sentia-a a crescer nos ritmos da respiração e de um lado e do outro ambos éramos mais próximos, como se houvesse uma indeterminada luz pelo meio que ambos tínhamos de possuir, precisamente ao mesmo tempo.
Tudo ilusão. E, no entanto, não
era. Eu estava ali, ela também, éramos 2 corpos com todas as portas abertas à
vida. A aragem das mãos esvoaçando sobre a pele de veludo era o que sobrava do
silêncio de chumbo, onde os nossos corpos jaziam. Havia entre nós um nó
inteiramente aceso por dentro, onde as línguas mais apuradas já não dizem
palavras.
E os gestos criavam outros mundos
onde só nós cabíamos, onde só nós éramos quase perfeitos, à espera de o sermos.
j. a. m.
(São Luís do Maranhão - Br. - Rascunho
Nº 146. 2000-2018)
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