DAYS ARE
Rua Miguel Bombarda, 124 - sala A, Porto
https://www.facebook.com/daysare.pt
https://www.facebook.com/josealberto.mar
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
(Sofia Moraes)
textos poéticos e imagens & etc ~ José Alberto Mar ~
DAYS ARE
Rua Miguel Bombarda, 124 - sala A, Porto
https://www.facebook.com/daysare.pt
https://www.facebook.com/josealberto.mar
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
(Sofia Moraes)
Pintura: J. A. M. |
Pintura: J. A. M. |
Conheci uma mulher num país distante, era bela e serena e atravessava os dias, os meses e os anos com uma candura sábia de quem sabe que 1 dia também iria morrer, como tudo o que está vivo.
No jardim, seu lugar preferido, sentada num banco de madeira, cuja cor já não se sabia. Ocupava-se a olhar as flores à volta com um vagar e o inverso de uma aparente displicência especial, para mim inteiramente incógnita, até hoje. Às vezes olhava o horizonte, às vezes levantava um pouco o rosto para o céu e aqui, era à noite que se demorava mais.
Ao lado quase sempre um livro que a brisa desfolhava quando calhava. Ela parecia ler no as palavas no ar que se evolavam das folhas. Parecia nunca usar as mãos e em vez dos braços talvez tivesse asas.
Nunca lhe perguntei nada acerca das artes destes gestos tão silenciosos como as pedras que rodeavam os canteiros. Houve alturas em que me viu olhá-la de longe estava sempre distante, no entanto eu sentia uma levíssima sensação fresca e inquietante, do lado agradável das novidades. Retrocedia para as minhas tarefas, o pincel, o papel, as telas, as cores do meu mundo.
De vez em quando, amávamo-nos através dos corpos e parcas palavras. Adivinhávamo-nos através de olhares demorados que continham tudo o que os nossos seres confirmavam.
Um dia fui ao jardim, onde era o seu lugar e não a vi. Procurei-a por todos os cantos, mas apenas vislumbrei as flores, todas as flores debruçadas sobre si próprias exalando aromas mais intensos e os frutos maduros das poucas árvores a caírem um a um.
J. A. M.
Pintura: J. A. M. |
(1) frase atribuída, a D. Elhers, em tradução livre.
Pintura: J. A. M. |
Obra: J. A. M. . Mulher. |
tu cresces e eu cresço quando
algo cresce de novo entre nós.
Olhos nos olhos
uma desconhecida Luz dialoga.
Noite. J. A. M. . 1987 |
1. cerveja caboverdiana.
2. Mayra Andrade. Cantora.
3. título de canção de Vadú.
4. planalto de origem vulcânica.
(in, Livro de contos “O OURO BREVE DOS DIAS”, 2021)
~ J. A. M. ~
J. A. M. - "EspaçoQ/ quadraSoltas". Porto ( 7-7-22) |
VOZES COMUNICANTES
in, O Triângulo de Ouro - Editora Justiça e
Paz.1988.
(Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.1987)
P.S. Dedicado a António Ramos Rosa e a todos os Amigos ausentes e presentes.
self |
Pintura: J. A. M. |
Pintura. "O Centro". J. A. M. |
É alguém que procura. Vinte e tal anos,
uma água no corpo agitada em marés, a enorme quantidade de animais lá dentro
uns em matilha outros solitários e secretos, outros ferozes outros mansos, com
4 patas a correrem solenes pelas paredes interiores e a desaguarem nas
pinturas.
No meio de tantas ilhas uma súbita inspiração: haverá um desígnio para mim? Qual o voo que por vezes acorda uma espécie de suspeita muito íntima que me anuncia sem nomes? Qual a fonte destas inquietas descobertas?
Entretanto os dias atropelam-se, as noites longas possibilitadas pelos corpos que recusam o sono, os amigos que se aproximam e se afastam, a indefinível energia que dá movimento a tudo.
Se houvesse uma voz bem clara que gritasse no meio da noite, podia acontecer um tremendo pavor ou uma paz impossível. Com vinte e tal anos tais milagres são passíveis, e fugazes: demasiadas vozes descem juntas porque há sempre um vaso de luz aberto às novidades. É este vaso que transportamos pela vida a fora.
E, é assim a caminhada até 1 dia: é preciso construir um tema que nasça do fundo, uma linha que se prolonga ao mesmo ritmo, repetir o hábito que vem de si próprio e esquecê-lo para haver um outro, escutar o rumor do seu rio só seu, caminhar em companhia com os sonhos que nos acordam ao longo da idade.
R. T. - 7-07-2020
Pintura: J. A. M. |
in, O Triângulo de Ouro - Editora Justiça e
Paz.1988.
( Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.1987)
Pintura. ÁRVORE de SÓIS: J. A.M. |
Imagem Digital. J. A. M. |
Sona Jobarteh está a entrar pelos lados onde as portas são mais negras. Para que as estrelas resplandeçam mais, nesta infindável noite.
Há na vocação das vozes um halo universal redondo é este planeta onde agora vivemos.
Como no mar: altas ondas outras nem tanto, a 7ª onda é sempre ouro nos sons alongados e por tal sortilégio algo em nós se expande mais. Tenho agora os pés nus onde elas esmorecem e eu cresço. Falo do amor. Falo sempre do amor.
Entretanto no mar alto e no seu fundo, tudo parece sereno, adormecido, indiferente. Mergulhei por aqui em noites de imprudentes êxtases. Cheguei a morrer: de encantamento. Regressei sempre 1 outro que demorava a reconhecer. Enquanto peixes translúcidos me trespassavam. Enquanto o sal da água resplandecia como minúsculos cometas afogados pelo brilho. E tudo era a mesma matéria, tudo estava sempre ligado a uma luz que de longe clamava.
Os sons, as raízes dos sons de Sona Jobarteh, aproximam tal mistério. É uma outra colheita para a alma, outra voz incógnita cujos sons chegam a ter cores. Pleno de tudo, regresso á minha cabana onde acendo uma vela. Vivo numa ilha, desconhecida pelos mapas.
E tudo se torna claro como um anel de sol virado do avesso. Dentro e fora tudo é igual.