Pintura. "O Centro". J. A. M. |
É alguém que procura. Vinte e tal anos,
uma água no corpo agitada em marés, a enorme quantidade de animais lá dentro
uns em matilha outros solitários e secretos, outros ferozes outros mansos, com
4 patas a correrem solenes pelas paredes interiores e a desaguarem nas
pinturas.
No meio de tantas ilhas uma súbita inspiração: haverá um desígnio para mim? Qual o voo que por vezes acorda uma espécie de suspeita muito íntima que me anuncia sem nomes? Qual a fonte destas inquietas descobertas?
Entretanto os dias atropelam-se, as noites longas possibilitadas pelos corpos que recusam o sono, os amigos que se aproximam e se afastam, a indefinível energia que dá movimento a tudo.
Se houvesse uma voz bem clara que gritasse no meio da noite, podia acontecer um tremendo pavor ou uma paz impossível. Com vinte e tal anos tais milagres são passíveis, e fugazes: demasiadas vozes descem juntas porque há sempre um vaso de luz aberto às novidades. É este vaso que transportamos pela vida a fora.
E, é assim a caminhada até 1 dia: é preciso construir um tema que nasça do fundo, uma linha que se prolonga ao mesmo ritmo, repetir o hábito que vem de si próprio e esquecê-lo para haver um outro, escutar o rumor do seu rio só seu, caminhar em companhia com os sonhos que nos acordam ao longo da idade.
R. T. - 7-07-2020
Sem comentários:
Enviar um comentário